O ex-assessor parlamentar do deputado Lúcio Vieira Lima (PMDB-BA), Job Ribeiro Brandão, afirmou em depoimento à Polícia Federal (PF) e à Procuradoria-Geral da República (PGR) que o dinheiro em espécie era guardado em malas e caixas no closet da mãe do ex-ministro Geddel Vieira Lima.
Segundo Job, a família "possuía muito dinheiro guardado no apartamento de Marluce Vieira Lima", em Salvador. A pedido de Geddel e de Lúcio, ele realizava a contagem das notas que chegavam ao apartamento.
O dinheiro, segundo Job, ficou guardado no closet do quarto da mãe dos irmãos Vieira Lima, em caixas e malas até o início de 2016. Ele contou que, quando o pai de Lúcio e Geddel morreu, no entanto, o dinheiro foi levado para outro lugar.
O ex-assessor disse ainda que não tinha conhecimento do local até a busca e apreensão feita em setembro deste ano na Operação Tesouro Perdido. Ele disse que nunca esteve no apartamento onde a Polícia Federal encontrou o equivalente a R$ 51 milhões em dinheiro vivo, mas, pela foto, "as caixas e uma das malas pretas se assemelham com as que costumavam ficar guardadas" no apartamento da mãe dos Vieira Lima.
Job Brandão tem intenção de fazer um acordo de colaboração premiada. Ele virou alvo da Tesouro Perdido após a PF identificar suas digitais em parte dos R$ 51 milhões encontrados. Geddel e o irmão são investigados pelo crime de lavagem de dinheiro.
No depoimento, o ex-assessor também afirmou que só viajou uma vez a Brasília e que sequer esteve na capital do país para a posse no cargo, tendo feito isso por meio de procuração. Durante todo o período, segundo ele, "nunca trabalhou efetivamente como Secretário Parlamentar, mas tão somente trabalhava para a família Vieira Lima, prestando todo o tipo de serviço".
Job disse aos investigadores que devolvia parte do salário à família. No início, segundo ele, o acerto era que ficasse com o correspondente a dois salários mínimos e meio, além do auxílio alimentação que recebia como Secretário Parlamentar. Depois, no entanto, houve um aumento. Ele contou que recebia R$ 3.780 do total de R$ 11.800 do cargo.
Segundo o ex-assessor, ele chegou a ser chamado ao apartamento de Lúcio Vieira Lima para "contar dinheiro em espécie" e disse que já recebeu "diversas vezes" dinheiro vivo das mãos do irmão do marqueteiro João Santana, Elísio Santana, "ligado ao PMDB da Bahia". Ele afirmou que o dinheiro recebido de Santana normalmente chegava a R$ 500 mil, em entregas feitas entre 2010 e 2011.
Procurado pela reportagem, Marcelo Ferreira, advogado de Job Brandão, declarou que tem uma especial preocupação com a segurança do cliente e que tem por objetivo demonstrar que sua condição de vida é totalmente incompatível com a renda de um secretário parlamentar. Além disso, ele afirma que Job é vítima da situação e que, além da liberdade do ex-assessor, pretende buscar, judicialmente, o ressarcimento dos valores de seu salário, que era obrigado a repassar à família Vieira Lima.
A reportagem não conseguiu contato com as defesas de Geddel e de Lúcio.