O advogado Antônio Cláudio Mariz de Oliveira, principal articulador da defesa jurídica de Michel Temer na denúncia por corrupção passiva barrada na Câmara dos Deputados em junho, não atuará mais para o presidente, de quem é amigo pessoal há pelo menos 40 anos. Agora, Temer deve procurar outro advogado para atuar na segunda denúncia feita pela Procuradoria-Geral da República (PGR), por organização criminosa e obstrução de justiça.
A informação foi confirmada pelo próprio Mariz à TV Globo. Como justificativa, o advogado alegou "questões éticas", por já ter atuado na defesa do doleiro Lúcio Funaro e, assim, obtido informações privilegiadas em relação à nova denúncia contra Temer. Na prática, as informações gerariam conflito de interesses.
O advogado defendeu Funaro até junho de 2016, quando o doleiro decidiu fechar acordo de delação premiada – estratégia com a qual Mariz não compactua.
Delação de Funaro norteou segunda flecha
A delação de Funaro foi essencial para que Janot movesse a segunda denúncia contra o presidente, desta vez por organização criminosa e obstrução de justiça.
Conforme a coluna de Mônica Bergamo, na edição desta sexta da Folha de S.Paulo, a saída de Mariz foi negociada com Temer. O criminalista deve indicar quatro nomes ao presidente para a escolha de um substituto. Mas, nos bastidores, Mariz permanecerá como conselheiro de confiança.
À PGR, Dolaro afirmou ter "110% de certeza" de que Temer recebia parte da propina redistribuída por Eduardo Cunha. Alegou, ainda, que José Yunes, ex-assessor do Palácio do Planalto e amigo de Temer, lavava dinheiro para o presidente.
Na delação, Funaro também sustenta que Yunes sabia que havia dinheiro dentro uma caixa com R$ 1 milhão em propina (oriundos da Odebrecht), que teria sido entregue a ele para Temer. O delator alegou, ainda, que Temer pediu uma "comissão" de R$ 20 milhões do Fundo de Investimento do FGTS para a campanha do então vice-presidente, em 2014.
A segunda denúncia contra o presidente depende, agora, do aval da Câmara dos Deputados. Se 342 dos 513 (dois terços) aprovarem o andamento da denúncia, Temer vira réu perante o Supremo Tribunal Federal (STF) e é afastado por 180 dias. Caso contrário, a denúncia é arquivada até o fim do mandato presidencial, em 31 de dezembro de 2018.