Em depoimento prestado ao Ministério Público Federal (MPF) em 23 de agosto, o corretor Lúcio Funaro afirmou que o ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha (PMDB) "redistribuía propina a Temer com 110% de certeza". Segundo o jornal O Globo, o operador ligado ao PMDB relatou, em delação premiada, esquemas de desvio e lavagem de dinheiro público envolvendo políticos do partido.
Funaro disse que, quando eram deputados, Michel Temer (PMDB-SP), Eduardo Cunha (PMDB-RJ) e Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN) disputavam a indicação para cargos nos governos do PT. De acordo com o delator, Cunha atuaria no "varejo", focando em alguns cargos. Já Temer e Henrique Alves agiriam no "atacado".
Na semana passada, o então procurador-geral da República, Rodrigo Janot, denunciou os três políticos e outros peemedebistas no quadrilhão do PMDB na Câmara. Segundo o MPF, Temer seria o chefe de uma quadrilha que teria recebido R$ 587 milhões em propina, fruto de desvios em sete órgãos públicos.
Ainda segundo O Globo, Funaro afirmou que José Yunes, ex-assessor do Palácio do Planalto e amigo de Temer, lavava dinheiro para o presidente. O corretor disse que, "além de administrar, (Yunes) investia os valores ilícitos em sua incorporadora imobiliária" para Temer. Na delação, Funaro também sustenta que o ex-assessor sabia que havia dinheiro dentro uma caixa com R$ 1 milhão em propina, que teria sido entregue a ele para Temer. Os recursos seriam de caixa 2 da Odebrecht.
O doleiro ainda citou que havia "uma briga" entre Cunha, Funaro e Henrique Alves contra Moreira Franco, que queria manter um indicado para a vice-presidência da Caixa Econômica Federal. Segundo o operador, Moreira teria conseguido manter o indicado por um tempo. Depois, no entanto, o cargo foi destinado a um dos adversários internos. Ainda segundo Funaro, um dos objetivos do grupo político denunciado no quadrilhão do PMDB "era conseguir o FI-FGTS, pois era uma fonte de renda". O FI-FGTS é um fundo de investimento atrelado ao Fundo de Garantia do Tempo de Serviço.
Moreira Franco também teria atuado na Secretaria da Aviação Civil, quando era ministro, para transferir um hangar da falida Varig para a Gol sem fazer licitação. O atual ministro da Secretaria-Geral da Presidência nega as acusações. O Globo procurou o Palácio do Planalto, mas ouviu que deveria contatar a defesa de Temer. O jornal não obteve contato os advogados de presidente, nem de Yunes e Henrique Alves.