A Procuradoria-Geral da República (PGR) conseguiu recuperar dados contidos no sistema Drousys — responsável pelo "setor de propina" da Odebrecht — e diz haver provas de repasses de R$ 13,3 milhões em dinheiro vivo aos dois principais ministros do governo Temer, Eliseu Padilha (Casa Civil) e Moreira Franco (Secretaria Geral da Presidência). As informações são do jornal O Globo.
A gestão de Rodrigo Janot elaborou relatórios que serviram para comprovar as informações repassadas pelos delatores da empreiteira. Uma segunda parte do material entregue à PGR ficou para análise de Raquel Dodge.
Nas planilhas, Padilha é identificado por três apelidos: "Fodão", "Primo" e "Bicuira". A "Fodão", o relatório da procuradoria aponta que foram entregues R$ 200 mil. . O dinheiro teria sido levado a Porto Alegre em 3 de agosto de 2010. A senha para retirá-lo era "comida". Como "Bicuira", Padilha teria recebido sete pagamentos no total de R$ 1.490.909 também em 2010.
A PGR identificou pagamentos ainda mais antigos ao ministro gaúcho, no valor de R$ 612,6 mil, que teriam sido feitos a "Primo" em Porto Alegre, Rio de Janeiro e São Paulo.
Em um relatório mais antigo, concluído em maio deste ano, a investigação já havia apontado que Padilha teria recebido R$ 4 milhões em 2014, com entregas em Porto Alegre e uso da senha "sardinha". Uma entrega no Rio foi possível a partir da senha "águia".
Já Moreira, reconhecido pelo codinome de "Angorá" no sistema de proprinas, recebeu sete pagamentos da Odebrecht que totalizaram R$ 7 milhões, conforme o documento produzido pela PGR. Os repasses também teriam ocorrido em 2014. Senhas como "OTP" , "foguete", "pássaro", "morango" e "árvore" foram utilizadas para a retirada do dinheiro, segundo os registros do Drousys.
Denúncia contra Temer
O caso dos pagamentos de R$ 4 milhões a "Primo" e de R$ 7 milhões a "Angorá" estão citados na acusação protocolada no Supremo Tribunal Federal (STF) há uma semana, em que estão denunciados por organização criminosa Temer, Padilha, Moreira, o ex-ministro Geddel Vieira Lima, os ex-presidentes da Câmara Eduardo Cunha e Henrique Eduardo Alves, e o ex-deputado Rodrigo Rocha Loures.
Padilha e Moreira teriam feito operação casada para receber propina, com um pedindo e o outro cedendo o escritório para receber as quantias, na concessões de aeroportos que eram de interesse da Odebrecht.
Contrapontos
Em nota divulgada pelO Globo, a assessoria de Padilha afirmou não ter notícias sobre o término das investigações: "Quando lhe for oportunizada sua defesa, o ministro rebaterá as acusações que ainda restarem".
A assessoria de Moreira, também em nota, afirmou que o ministro não teve acesso aos documentos citados e que repudia a suspeita de repasses de dinheiro a ele: "Toda prova proveniente de uma delação fraudada, de delatores assumidamente criminosos, não merece credibilidade".