O deputado Sergio Zveiter (PMDB-RJ) foi escolhido nesta terça-feira (4) pelo presidente da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara, Rodrigo Pacheco (PMDB-MG), para relatar a denúncia contra o presidente Michel Temer no colegiado. A oposição caracteriza Zveiter como "de relativa independência".
O relator da denúncia contra o presidente Michel Temer é um advogado milionário do Rio de Janeiro, considerado uma "incógnita" pelo Palácio do Planalto e integrante de um clã do Superior Tribunal de Justiça Desportiva (STJD) de amarga lembrança para a torcida do Internacional. O deputado federal Sergio Zveiter (PMDB-RJ) é irmão de Luiz Zveiter, responsável pela polêmica anulação de 11 jogos no Brasileirão de 2005, decisiva para impedir o título colorado.
Há 12 anos, Luiz era o presidente do STJD quando eclodiu o escândalo da máfia do apito, envolvendo o árbitro Edílson Pereira de Carvalho. Ele optou por anular e remarcar as partidas, em uma virada de mesa que resultou em festa corintiana. A família Zveiter tem relação íntima com o tribunal. O próprio Sergio presidiu o órgão (1998-1999), assim como seu sobrinho Flávio, filho de Luiz. A família, tradicional também no Judiciário, tem origem no patriarca Waldemar Zveiter, ex-ministro do Superior Tribunal de Justiça (STJ).
Ex-presidente da seccional fluminense da OAB, Sergio preencheu os requisitos técnicos estipulados pelo presidente da CCJ, Rodrigo Pacheco (PMDB-MG), que defendia um jurista para a relatoria da denúncia por corrupção passiva contra Temer, no episódio da mala de R$ 500 mil da JBS.
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No segundo mandato de deputado federal, aos 61 anos, Sergio é um parlamentar discreto, de pouca expressão na Câmara. É visto como mais próximo do presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), do que do próprio Temer, que preferia Jones Martins (PMDB-RS). O relatório de Sergio é considerado uma incógnita no Planalto, apesar da expectativa de um parecer contra a acusação.
O relator é um "neopeemedebista", filiado ao partido no ano passado. Em 2010, se elegeu pela primeira vez deputado com 65,8 mil votos pelo PDT. Quatro anos depois, repetiu a dose, com 57,5 mil votos, mas no PSD. A reeleição custou caro e exigiu investimento do próprio político. Dos R$ 5,7 milhões arrecadados da campanha, Sergio tirou do bolso R$ 3,7 milhões – ele declarou patrimônio de R$ 14,9 milhões, que inclui carros, imóveis, jóias, obras de arte e uma lancha.
Zveiter figura desde o final da década de 1990 na elite política do Rio. No governo de Anthony Garotinho (1999-2002), foi secretário estadual de Justiça. Com Rosinha Garotinho (2003-2006), ocupou a Secretaria de Justiça e Direitos do Cidadão. Já na Era Sérgio Cabral (2007-2014), comandou a Secretaria de Trabalho e Renda do Estado. Recentemente, ainda integrou o primeiro escalão da administração de Eduardo Paes (2009-2016) na prefeitura do Rio, como secretario de Habitação e Cidadania.
Já filiado ao PMDB, no ano passado, Zveiter esteve entre os secretários que retomaram o mandato na Câmara para votar a favor do impeachment de Dilma. Repetiu a dose em setembro, apoiando a cassação de Eduardo Cunha (PMDB-RJ). Em outubro, retornou em definitivo a Brasília. Se é visto como "incógnita" no relatório sobre a denúncia, até o momento, o deputado votou com Temer nos principais projetos de interesse do governo, como a PEC do Teto e a reforma trabalhista.