Tido como gênio na operação do mercado de valores e irascível no trato pessoal, Lúcio Bolonha Funaro é um velho personagem das manobras obscuras praticadas em Brasília. Foi com base em depoimentos e documentos apresentados pelo doleiro que a Polícia Federal prendeu nesta segunda-feira (3) o ex-ministro Geddel Vieira Lima.
Funaro ganhou os holofotes no mensalão, em 2005, mas já havia sido investigado no escândalo do Banestado, em 2003. Delatou um esquema de venda de sentenças judiciais na Operação Themis, em 2007, e foi preso na Satiagraha, em 2008.
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A relação com Cunha
Funaro conheceu Eduardo Cunha nos anos 90. A relação se estreitou com o passar dos anos e, conforme Cunha ganhava poder, o operador ampliava seu leque de atuação.
Em parceria com Cunha, Funaro se aproximou de alguns dos maiores empresários do país, ao mesmo tempo em que estabelecia amizade com expoentes do PMDB.
Ameaças e intimidação
Empresários e executivos que se tornaram delatores da Lava-Jato são pródigos em afirmar a forma ostensiva e destemperada como Funaro cobrava propina.
O empresário Milton Schahin disse ter ouvido de Funaro: "Você está com câncer, né? Pois vou comer seu fígado com câncer e tudo". Já Fábio Cleto relatou que Funaro ameaçou colocar fogo em sua casa, com os filhos dentro.
Preso desde julho de 2016, Funaro foi classificado pelo procurador-geral da República, Rodrigo Janot, como "um dos grandes operadores da organização criminosa investigada na Operação Lava-Jato".
Os indícios do que pode contar
Da cadeia, Funaro enviava recados. Em setembro do ano passado, 80 dias após ser preso, disse que aguentaria dois anos no presídio da Papuda, em Brasília, onde está recolhido.
Em ensaio para delação premiada, disse à PF ter pago R$ 20 milhões a Geddel Vieira Lima e que o presidente Michel Temer destinou dinheiro de propina obtida na Caixa às campanha presidencial de 2014 e de Gabriel Chalita à prefeitura de São Paulo em 2012.
Funaro também disse ter ouvido de Eduardo Cunha que Temer sabia do repasse de propina ao PMDB por contratos entre a Petrobras e a Odebrecht. As declarações foram anexadas ao inquérito que investiga Temer no STF.