Política

Tensão em Brasília

Parlamentares discutem fim do governo Temer em meio a socos e empurrões no plenário da Câmara

Acuado pelas investidas jurídica e popular, presidente buscou amparo na bancada do PMDB do Senado

Guilherme Mazui / RBS Brasília

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Uma semana após a eclosão do escândalo da JBS, o presidente Michel Temer vive nesta quarta-feira (24) um de seus piores momentos de calvário político. Com 35 mil pessoas marchando pela Esplanada dos Ministérios aos gritos de "Fora Temer" e o Palácio do Planalto guarnecido por tropas do Exército, deputados trocavam socos, pontapés e empurrões no plenário e senadores discutiam sem pudor quem será o próximo presidente.

Foi um dia tenso em Brasília. Enquanto no entorno do Congresso manifestantes entravam em confronto com a polícia e ateavam fogo nos prédios ministeriais, Temer era fustigado pela Polícia Federal. Uma escrivã ligou diretamente para seus advogados, questionando quando o presidente irá depor no inquérito em que é investigado por corrupção, organização criminosa e obstrução à Justiça.

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Acuado pelas investidas jurídica e popular, Temer buscou amparo na bancada do PMDB do Senado. Dezessete dos 22 senadores foram ao beija-mão no Planalto, embora boa parte deles já admita em conversas reservadas que o presidente não reúne mais condições de permanecer no cargo. Sem constrangimento, PSDB, DEM, PP, PR PSD e uma ala do próprio PMDB buscam um substituto.

Em jantar oferecido pela senadora Kátia Abreu (PMDB-TO) na terça-feira (23), pelo menos 10 parlamentares traçavam o perfil do futuro inquilino do Planalto. Um dos mais eloquentes foi Renan Calheiros (PMDB-AL), que mais cedo havia pedido a renúncia de Temer e sequer foi convidado para a reunião com o presidente no palácio. Conforme o relato de quem participou do convescote, regado a queijos e vinhos, será preciso ser um político aglutinador e de preferência sem ambições políticas para 2018. Na ocasião, os senadores também projetaram uma saída honrosa para Temer, cogitando inclusive aprovar a reforma trabalhista.

– Seria uma forma de ele ter um legado. Para poder dizer que saiu, mas pelo menos deixou alguma coisa para o país – comenta o senador Lasier Martins (PSD-RS).

Nesse ambiente de permanente conchavo, os presidentes da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ,) e do Senado, Eunício Oliveira (PMDB-CE,) fazem consultas abertas a juristas e técnicos legislativos sobre como proceder diante da vacância da Presidência da República. Maia prometeu a Temer que não irá aceitar nenhum dos 12 pedidos de impeachment apresentados na Câmara, e ninguém acredita em renúncia do peemedebista – pelo menos não nos próximos dias.

A sensação unanime, porém, é de que o presidente terá o mandato cassado pelo Tribunal Superior Eleitoral em 6 de junho. Nos bastidores, crescem as credenciais do ex-ministro Nelson Jobim e do senador Tasso Jereissati (PSDB-CE), tidos como experientes e confiáveis para conduzir um governo de transição até as eleições de 2018. Há quem entenda que a definição do nome de consenso passará pelo grupo de Temer, como os ministros Eliseu Padilha (Casa Civil) e Moreira Franco (Secretaria Geral).

– Eles têm a caneta e a máquina do governo. Vão definir uma saída que fique boa para eles – diz um influente parlamentar.

Tasso é tido como favorito no colégio eleitoral. Maia corre por fora. Embora o deputado negue ter pretensões ao Planalto, a ambição é reconhecida por seus colegas de partido. Com votos no baixo clero da Câmara, Maia sofre resistência dos grandes partidos, como PSDB e PMDB. Sua candidatura, porém, forçaria a necessidade de uma nova eleição para a presidência da Câmara, o que traria instabilidade à Casa.

– Bem ou mal, com seus problemas, a Câmara vem funcionando. Se ele for candidato, teremos que mexer em duas posições. O melhor é substituir apenas uma peça – avalia um colega de bancada.


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