O líder do PMDB no Senado, Renan Calheiros (AL), subiu o tom novamente contra os responsáveis pela Operação Lava-Jato. Em discurso na tribuna do plenário, nesta quinta-feira, Renan afirmou que o "perfil político-ideológico imposto pelo Ministério Público Federal nessas apurações tem ficado evidente". Para o parlamentar, há um "arrastão para desmoralizar homens públicos de bem", baseados em "insinuações maliciosas, inculpações precárias e acusações débeis".
– Denúncias precárias e pedidos de abertura de novos inquéritos surgem exatamente quando o Congresso se debruça sobre o projeto de lei que pune o abuso de autoridade e busca soluções para a sangria salarial provocada pelos auxílios inconstitucionais auferidos pelos membros do Ministério Público. São iniquidades contra o Parlamento – acusou.
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Na quarta-feira, três procuradores da força-tarefa da Lava-Jato publicaram um vídeo nas redes sociais com críticas ao relatório apresentado pelo senador Roberto Requião (PMDB-PR) sobre a lei do abuso. Renan considera que a iniciativa "deforma a realidade e confunde a população" sobre o teor do projeto.
Requião rejeitou o texto de Renan acerca do tema e propôs um substitutivo à proposta alternativa do procurador-geral da República, Rodrigo Janot, com diversas alterações.
Renan focou boa parte do seu discurso para criticar os acordos de delação premiada.
– Delações bastam para MP acusar, lançando parlamentares na vala comum da corrupção – afirmou.
Na semana passada, os depoimentos de dezenas de executivos da maior empreiteira do país, a Odebrecht, se tornaram públicos. O conteúdo baseou a abertura de inquérito contra 24 senadores no Supremo Tribunal Federal (STF). O líder do PMDB foi alvo de quatro processos de investigação.
– Impulsionadas por mais um vazamento criminoso, tornaram-se públicas as delações da Odebrecht, cujas palavras foram tomadas como ouro em pó e divulgadas com verdadeiro frisson pelo suplício público imposto à política nacional generalizadamente. Essas exorbitâncias acontecem porque o delator, para se livrar da prisão e auferir regalias, sucumbe a pressões para relacionar políticos como beneficiários de vantagens indevidas – criticou o líder do PMDB.
Ele disse ainda que tem verificado que as delações têm "vício de origem" e não são "propriamente espontâneas". Renan mencionou o vídeo do depoimento do ex-diretor da Odebrecht, Claudio Melo Filho, onde diz que é possível observar "com nitidez a insistência" uma tentativa para vincular o seu nome a alguma ilegalidade.
– Como nada tinha para contar, de criminoso, simplesmente declarou ter entendido que terceiros falavam em meu nome, coisa que já disse aqui mais de uma vez, nunca autorizei, nunca consenti – alegou Renan.
O peemedebista defendeu ainda que "os eleitos pela sociedade para representá-la não podem se transformar em uma manada tangida pelo medo e subjugada pela publicidade negativa".
– Existe um movimento direcionado para empurrar a representação popular para um gueto dos imorais, sob o aplauso dos inocentes, dos desinformados e da má-fé. Com essas mesmas práticas entronizaram o nazismo – declarou.
Ele afirmou que há uma "obsessão por destruir um poder eleito" e para condenar antes do processo. Os alvos, afirma, são os partidos políticos, "demonizados pelo MP".
Renan também mencionou a operação Mãos Limpas, da Itália, muitas vezes comparada à Lava-Jato. O líder do PMDB lembrou que a operação "exterminou os quatro maiores partidos políticos da Itália", por envolvimentos em esquemas de corrupção, mas preservou o partido fascista.
– É preciso ter muito cuidado com o que nós importamos de outros países.
Ele também disse que o coordenador da Operação italiana, Antonio Di Pietro, acabou desistindo da magistratura e ingressando no campo político como deputado.
*Estadão Conteúdo