Dólar e bolsa, dois indicadores da temperatura do mercado diante de fatos controversos, mal se mexeram, nesta terça-feira, após a divulgação da lista de políticos que serão investigados a pedido do ministro Edson Fachin, relator da Lava-Jato no Supremo Tribunal Federal (STF).
A explicação geral é que os nomes dos suspeitos eram conhecidos. No entanto, a leitura dos economistas é que a "incerteza" política aumentou. Será preciso monitorar a capacidade de articulação do governo e do Congresso para aprovar as reformas, em especial a da Previdência.
– Os nomes dos políticos já eram conhecidos, e acho que não apareceu nenhuma mancha nova de batom, por isso, a reação do mercado foi calma: já estava no "preço", como a gente costuma falar – diz o economista e ex-ministro Luiz Carlos Mendonça de Barros.
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Ele considera muito mais preocupante o futuro político do país.
– Todo mundo está se fingindo de morto, mas o fato é que teremos de reconstruir o sistema político e eleitoral para 2018 e não sabemos o que e quem vamos ter lá na frente.
Nas próximas semanas, a prioridade entre os analistas e consultores econômicos é monitorar a reação dos políticos na negociação das reformas, dado que os oficialmente investigados são peças-chave para o andamento dos projetos. Na lista de Fachin estão 39 deputados, entre eles o presidente da Casa, Rodrigo Maia, principal defensor da agenda de alterações nas leis da Previdência, trabalhista e tributária. No Senado, há 24 investigados – quase um terço da Casa. Entre os oito ministros está Eliseu Padilha, um dos principais porta-vozes do governo na discussão das reformas.
Risco
– No calor do momento, logo após a divulgação dos inquéritos, ainda não dá para saber como a classe política vai reagir, mas o grande risco é o Congresso perder o rumo, gastar energia se voltando contra o Supremo ou se defendendo, e isso afetar a tramitação das reformas, em especial a da Previdência – disse Evandro Buccini, economista-chefe da gestora de recursos Rio Bravo Investimentos.
Na terça-feira, o que se viu na Câmara e no Senado foi uma debandada, apesar de estar na pauta um dos projetos mais importantes do momento, que trata das medidas essenciais para a recuperação das contas públicas dos Estados, hoje no vermelho.
– É natural que a primeira reação seja se esconder e o feriado de Páscoa ajuda na desmobilização, mas não há como interromper negociações em torno das reformas – disse Richard Back, analista político na empresa XP Investimentos.
Na avaliação de Back, de fato, há mais "incerteza" na cena política. Os parlamentares, para preservar o foro privilegiado, tendem a ficar mais preocupados com a reeleição, o que pode comprometer a já complicada negociação da reforma da Previdência. Porém, avalia Back, eles vão se lembrar que precisam do apoio do governo.
– Ninguém vai querer ficar fora do guarda-chuva do governo justo agora – afirmou ele.
A economista Alessandra Ribeiro, da Tendências Consultoria Integrada, também vai monitorar a reação dos parlamentares. A expectativa dela é que "o instinto de sobrevivência" deles possa, quem sabe, criar um efeito benéfico para a economia.
– A pressão sobre a classe política aumentou muito, e todo político sabe que, na atual circunstância, o caminho é melhorar a economia, gerar empregos, e isso não vai acontecer sem a aprovação das reformas, principalmente a da Previdência – disse Alessandra.
*Estadão Conteúdo