Um dos alvos da lista de Fachin, o ministro da Casa Civil, Eliseu Padilha, teria recebido R$ 1,49 milhão da Odebrecht em relação à obra de extensão da linha do Trensurb entre São Leopoldo e Novo Hamburgo. O repasse teria ocorrido em 2010, dividido em sete parcelas, conforme registros do setor responsável pelos pagamentos de propina da construtora. O peemedebista era deputado federal à época.
Na petição enviada ao Supremo Tribunal Federal (STF), que resultou na abertura do inquérito 4.434 sobre a obra no Rio Grande do Sul, o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, identifica os supostos repasses a Padilha, identificado pelo codinome Bicuíra pela Odebrecht. Os valores seriam referentes a 1% do contrato do empreendimento.
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O documento também traz pagamentos referentes à Trensurb a outros investigados no mesmo caso. Há o registro do repasse de R$ 734,7 mil ao deputado petista Marco Maia (codinome "Aliado"), R$ 934,5 mil ao ex-ministro do Planejamento Paulo Bernardo ("Filósofo"), R$ 260,3 mil a Marco Arildo ("Sucessor") e R$ 38,7 mil a Humberto Kasper, ambos ex-presidentes da Trensurb.
O esquema envolvendo os gaúchos foi citado nas delações de dois ex-dirigentes da Odebrecht, Benedicto Junior e Valter Lana. No total, conforme os executivos, a extensão da linha do Trensurb foi alvo de três pedidos de pagamentos de propina entre 2008 e 2009: um de Padilha; um de Maia, Arildo e Kasper; e outro de Paulo Bernardo. Juntos, eles teriam recebido R$ 3,45 milhões da construtora. As cobranças ocorreram a partir do início das obras, que enfrentaram restrições do Tribunal de Contas da União (TCU).
– Os pagamentos foram feitos para o codinome Bicuíra, do deputado Eliseu Padilha, em sete parcelas, no total de R$ 1.490.000,00 até 2010. O percentual da propina foi de 1% sobre a parte deles no contrato – disse Benecdito.
Lana, por sua vez, afirmou que o dinheiro dos gaúchos foi entregue por meio do doleiro "Tonico".
– Os pagamentos dos gaúchos, Padilha, Marco Maia, Marco Arildo e Kasper, foram todos equacionados através do doleiro Tonico – relatou o dirigente aos investigadores.
Tonico é a alcunha de um doleiro porto-alegrense. Antônio Albernaz Cordeiro foi preso em 2016 na Operação Xepa, 26ª fase da Lava-Jato, e solto posteriormente. Em depoimento à Polícia Federal, ele admitiu que viabilizou repasses destinados a políticos em Porto Alegre a pedido da Odebrecht.
Lana também detalhou a forma como o dinheiro teria chegado a Padilha. Segundo ele, o peemedebista o procurou para cobrar o pagamento de 1% sobre o valor da obra, com o argumento de que ele teve participação nas tratativas que viabilizaram o empreendimento, licitado em 2001. No período, Padilha era ministro dos Transportes do governo Fernando Henrique.
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O delator afirmou que o gaúcho indicou uma pessoa que trabalhava com ele para receber os valores, identificada por "Ibanez". O intermediário da construtora é citado como Nilton Coelho, funcionário da empresa.
– No caso do Eliseu Padilha, não era eu, mas o Nilton que entregava para uma pessoa de nome Ibanez, que trabalhava com ele (Padilha), no escritório político dele – revelou Lana.
Padilha já teve um assessor com este nome. Trata-se de Ibanez Filter, atual diretor Administrativo e Financeiro do Grupo Hospitalar Conceição (GHC). Ele chegou ao cargo por indicação do PMDB, depois que Michel Temer assumiu a Presidência da República.
Padilha prestigiou a posse da nova diretoria do GHC em julho do ano passado. No site da filial gaúcha da Fundação Ulysses Guimarães, Ibanez aparece como tesoureiro. Em âmbito nacional, a entidade é um centro de estudos do PMDB e foi presidida por Padilha de 2007 a 2015. Procurado por Zero Hora, Ibanez não quis comentar a citação ao seu nome.
Nos casos dos pagamentos aos outros políticos, os delatores detalharam que Maia teria solicitado percentual sobre a medição da obra do Trensurb. No rateio, o deputado ficaria com 0,5% do valor, Marco Arildo com 0,5% e Kasper com 0,25%. Já o pagamento a Paulo Bernardo também seria de 1%, e teria ocorrido sob a promessa de incluir o empreendimento no PAC.
A ampliação do Trensurb já é alvo de investigação do Ministério Público Federal desde 2011, por suspeita de superfaturamento na obra, cujo início em 2001 tinha um orçamento de R$ 270 milhões. Quando a ampliação foi concluída, em 2014, o custo final ficou em R$ 953 milhões, depois de aditivos contratuais.
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CONTRAPONTOS
O que diz Eliseu Padilha:
Por meio de sua assessoria de comunicação, o ministro afirmou que não vai se pronunciar sobre o caso no momento.
O que diz Marco Maia:
"São completamente mentirosas essas informações. Não há absolutamente relação minha de pedido de qualquer ilegalidade para ter qualquer benefício desta ou de qualquer outra empresa que tenha atuado no Rio Grande do Sul ou no país."
O que diz Ibanez Filter:
Procurado por ZH, não quis comentar a citação ao seu nome.
O que diz Humberto Kasper:
Disse que não conhece o assunto e não sabe do que se trata. Por isso, não tem como se pronunciar.
O que diz Marco Arildo Prates:
ZH ainda não conseguiu contato com o ex-diretor da Trensurb.
*Zero Hora