Duas semanas depois de Lasier Martins (PSD-RS) ser alvo de denúncias de agressão, vieram à tona documentos anexados pela defesa do senador ao processo, que tramita no Supremo Tribunal Federal (STF), na tentativa de comprovar a sua inocência. Mulher do político, a jornalista Janice Santos registrou uma ocorrência policial afirmando que o marido a atacou com chutes e provocou ferimentos em suas mãos durante uma discussão.
Entre os documentos apresentados pelo senador, aos quais ZH teve acesso, está uma carta escrita a próprio punho pela empregada do casal, Beatriz Chaves. A funcionária diz que foi pressionada por Janice para acompanhá-la à delegacia e que deixou claro que não iria se manifestar porque "não estava de acordo" com o que a jornalista dizia. Beatriz também se colocou à disposição do senador para "dizer o que viu e ouviu" no processo.
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Na versão da funcionária, na noite em que aconteceu a discussão, Janice estava "muito exaltada". Beatriz conta que estava em seu quarto, quando foi chamada pela jornalista. Ela estava com a mão sangrando e pediu ajuda. Segundo a empregada, Janice teria dito que "foi bater em Lasier e acabou se ferindo".
Na Delegacia Especial de Atendimento à Mulher (Deam), em Brasília, onde prestou a denúncia, Janice relatou que, no momento da briga, segurava um porta-joias. Conforme a jornalista, o marido pressionou as suas mãos contra o objeto, causando os ferimentos. Ela também disse que já havia sofrido outras agressões, mas que nunca havia denunciado à polícia, e acrescentou que Lasier é um homem "violento e agressivo".
Nos anexos, também está um e-mail do ex-marido de Janice, Raúl Palao, com quem tem dois filhos. Na mensagem, ele conta que, em 2006, em uma ocasião em que o casal havia se separado por três meses, a jornalista prestou queixa contra ele por agressão.
O episódio aconteceu em Passo Fundo, em uma noite em que Janice chamou Raúl em casa para cuidar das crianças porque precisava ir ao médico. Ele diz que a mulher simulou um enforcamento e que convenceu uma vizinha do ocorrido.
O terceiro documento é uma espécie de "termo de compromisso" redigido, em agosto do ano passado, por Lasier, e assinado pela mulher. No texto, o senador solicita que ela assuma "alguns compromissos" para seguir com a relação conjugal. Em um dos sete tópicos, pede que ela "deixe de ameaçá-lo com chantagens de que vai desmoralizá-lo e causar descrédito público e moral".
Por e-mail, a advogada de Janice, Renata França, alegou que o processo está em segredo de Justiça e que o senador deve "arcar com as consequências" caso se manifeste publicamente sobre o caso. Sobre a carta da empregada, esclareceu que Beatriz esteve na delegacia a convite da jornalista. À advogada, a funcionária confirmou que ouviu a discussão do casal, fez um curativo em Janice, mas que não se aproximou durante a briga e, por isso, não quis prestar depoimento. Ela ainda esclarece que "Beatriz não é a base de prova no processo".
Renata ainda questionou a motivação do senador de expor uma denúncia de maus tratos ocorrida no passado e que, "caso seja verdade, o episódio não tira da vítima o direito de denunciar agressão sofrida". Já sobre o "termo de compromisso" anexado ao processo, a defensora informou que Janice era forçada a escrever mensagens reconhecendo as alegações de Lasier, "o que parece ser a 'carta na manga' para desacreditar Janice". Segundo Renata, "é típico em processos de violência doméstica que o agressor tente denegrir a imagem da vítima".
No início do mês, o ministro Luiz Edson Fachin, relator do caso no STF, determinou que senador saísse de casa e, com base na Lei Maria da Penha, também proibiu o senador de se aproximar ou fazer contato com Janice. O casal está em processo de separação.