As revelações de delatores à Operação Lava-Jato, tornadas públicas após a autorização do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Edson Fachin para abertura de 76 inquéritos que irão investigar 98 pessoas na Corte, mostram que a Odebrecht, ao longo de décadas, distribuiu dinheiro a governantes, servidores públicos e políticos para conseguir obras pelo país.
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Uma das estratégias foi capilarizar iniciativas em terra, na água doce e no mar. Confira exemplos de pequenos, médios e grandes contratos que teriam sido conquistados mediante suborno.
REGIÃO NORTE
Usina em Rondônia
O projeto: a usina de Santo Antônio, no Rio Madeira, em Rondônia, é um dos maiores empreendimentos já feitos no país no setor de energia. Custou mais de R$ 16 bilhões.
A propina: teria sido a obra campeã em pedidos de suborno, segundo os inquéritos da Lava-Jato. Os delatores citaram seis propinas, que somam R$ 82,5 milhões.
REGIÃO NORDESTE
Refinaria em Pernambuco
O projeto: a ampliação da refinaria Abreu e Lima, a maior do Nordeste, foi o primeiro alvo da Lava-Jato dentro da Petrobras. A obra custou R$ 4,5 bilhões.
A propina: um gerente da Abreu e Lima foi indiciado por receber propina de US$ 7 milhões (cerca de R$ 22 milhões) da Odebrecht e R$ 400 mil de outra construtora. Ele teria ajudado a superfaturar contratos. Outros R$ 90 milhões teriam sido pagos para a campanha presidencial de Eduardo Campos (PSB-PE), morto em acidente de avião antes das eleições de 2014.
REGIÃO SUDESTE
Reforma do Maracanã
O projeto: o estádio passou por reforma que estava orçada em R$ 720 milhões, mas que, ao final, custou R$ 1,2 bilhão.
A propina: a Odebrecht afirma ter pago 5% do valor da obra em suborno para Cabral e outros políticos.
Complexo Petroquímico no Rio
O projeto: no Tubovias, parte do Complexo Petroquímico do RJ (Comperj), a Odebrecht faturou R$ 1,8 bilhão.
A propina: conforme delatores, teriam sido pagos R$ 45 milhões de suborno, grande parte ao então governador Sérgio Cabral (PMDB-RJ), preso pela Lava-Jato.
Submarinos para a Marinha
O projeto: construção de cinco submarinos, um deles movido a energia nuclear. O estaleiro e a base serão em Itaguaí (RJ). O orçamento inicial era de 6,7 bilhões de euros (cerca de R$ 23 bilhões, segundo cotação atual). Atualmente, a previsão é de R$ 31,8 bilhões.
A propina: ex-dirigentes da Odebrecht admitiram ter pago 40 milhões de euros a um lobista para fechar o contrato de parceria com a gigante francesa DCNS, fabricante de submarinos.
Rodoanel em São Paulo
O projeto: a construção custará R$ 3,9 bilhões e promete um semicírculo de vias rápidas em torno da cidade de São Paulo. A Odebrecht ganhou um dos contratos, de 57 quilômetros.
A propina: delatores dizem ter pago cerca de R$ 10 milhões de propina para políticos do PSDB e do DEM.
REGIÃO SUL
Privatização parcial de saneamento em SC
O projeto: venda de ações da estatal de água de Santa Catarina, a Casan, cujo patrimônio líquido é de R$ 1 bilhão. Metade das ações da companhia seria disponibilizada, e a Odebrecht manifestou interesse.
A propina: a Odebrecht teria feito duas contribuições à campanha a governador de Raimundo Colombo (PSD-SC), de R$ 2 milhões cada, em troca da promessa de venda das ações da estatal.
Privatização da água em Uruguaiana
O projeto: em junho de 2011 a Odebrecht venceu licitação para explorar serviços de água e esgoto em Uruguaiana. O contrato dá a uma subsidiária da empreiteira, a Foz do Brasil, direito de exploração por 30 anos. Foi a primeira concessão de uma empresa privada no setor de saneamento no Estado.
A propina: vereadores e candidatos a prefeito teriam recebido "contribuições" que variam de R$ 50 mil a R$ 100 mil para apoiar a privatização. Nas delações, são citados o atual prefeito, Ronnie Peterson Melo (PP); o ex-prefeito Luiz Augusto Fuhrmann Schneider (PSDB); o candidato a vereador Antônio Egídio Rufino de Carvalho (Rede, ex-PSDB); o ex-presidente da Câmara de Vereadores Francisco Azambuja Barbará (PMDB); o candidato a prefeito IIson Mauro da Silva (PMDB); a vereadora Josefina Soares Bruggemann (PP); a ex-vereadora Jussara Osório de Almeida (Rede); o suplente de vereador Luiz Fernando Franco Malfussí (PSDB); e o vereador Rafael da Silva Alves (PMDB) – leia na página 14.
Molhes e dragagem em Rio Grande
Os projetos: ampliação dos molhes do porto de Rio Grande e dragagem do canal. Os dois projetos aconteceram nos anos 2000 e visavam modernizar o acesso de navios. A Odebrecht participou dos dois.
A propina: análises do Tribunal de Contas da União apontaram superfaturamento de R$ 47,4 milhões na dragagem do canal, que custou R$ 196 milhões. Com relação aos molhes, a empresa teria ajudado parlamentares para, em troca, receber dinheiro devido pela União. Os deputados Paulo Pimenta (PT) e Darcísio Perondi (PMDB) teriam recebido apoio da empreiteira antes das eleições. O então senador Sérgio Zambiasi (PTB), uma mesada para entidade beneficente apoiada por ele.
Extensão do trensurb
O projeto: ampliar o trensurb entre São Leopoldo e Novo Hamburgo. O projeto, inicialmente orçado em R$ 323 milhões, custou ao final cerca de R$ 953 milhões – cerca de R$ 100 milhões por quilômetro.
A propina: o ministro da Casa Civil, Eliseu Padilha (PMDB), teria levado 1% do valor da obra em propina. O deputado federal Marco Maia (PT), 0,55% e o ex-ministro Paulo Bernardo (PT), 1%.