Citado dezenas de vezes em delação de ex-executivo da Odebrecht, Wellington Moreira Franco (PMDB) passa a ter foro privilegiado a partir desta sexta-feira em razão de sua nomeação como ministro da Secretaria-Geral da Presidência. Desse modo, o peemedebista escapa da alçada do juiz da 13ª Vara Federal de Curitiba Sergio Moro, responsável pelos processos da Operação Lava-Jato em primeiro e só pode ser julgado pelo Supremo Tribunal Federal (STF).
A nomeação de Moreira Franco como ministro foi anunciada no mesmo dia em Edson Fachin assumiu os processos relacionados à Lava-Jato no STF, substituindo Teori Zavascki, morto em acidente aéreo em janeiro. Caberá a Fachin decidir se derruba o sigilo das delações de 77 executivos e ex-executivos da Odebrecht, homologadas na segunda-feira pela presidente do STF, Cármen Lúcia. Entretanto, apesar do segredo de justiça, uma parte do conteúdo já vazou na imprensa.
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Ex-vice-presidente Relações Institucionais da empreiteira, Claudio Melo Filho citou Moreira Franco 34 vezes em sua delação, que se tornou pública em dezembro. Em planilhas de propina, o peemedebista apareceria com o codinome de "Angorá". O delator afirmou aos investigadores que tratou com o novo ministro de negócios da Odebrecht na área de aeroportos.
Melo Filho relatou a pressão do peemedebista, que foi ministro da Secretaria de Aviação Civil (SAC) no governo Dilma Rousseff (PT). Moreira Franco teria solicitado "um apoio de contribuição financeira, mas transferiu a responsabilidade pelo recebimento do apoio financeiro para Eliseu Padilha".
O delator citou "pressão" de Moreira Franco em negócios de aeroportos. No Aeroporto Internacional do Rio de Janeiro, o Galeão, a Odebrecht venceu o leilão de concessão por R$ 20 bilhões.
"Moreira Franco fez muita pressão para que a Odebrecht assumisse o aeroporto antes do prazo contratual. Certamente, essa pressão era para evitar que a SAC e o ministro levassem a culpa por possíveis problemas que surgissem durante a Copa de 2014", relatou o ex-executivo.
Melo Filho também disse ter sofrido pressão de Moreira Franco para que o Galeão escolhesse o operador do free shop. O delator também citou esquema envolvendo o aeroporto de Goiânia.
Investigadores da Lava-Jato já encontraram indícios de que houve corrupção no processo de concessão de aeroportos realizadas em 2011, 2012 e 2013, no governo Dilma. À época do vazamento da delação, Moreira Franco afirmou que é mentira o que consta na delação de Melo Filho.