Ao completar 28 anos de magistério estadual em 2016, a professora Ceres Labrea Ferreira, 52 anos, tomou a decisão que classifica como a mais difícil de sua vida: pedir a aposentadoria. Ceres integra o contingente de educadores do Estado que optou por deixar a sala de aula mesmo podendo permanecer na ativa.
A escolha, segundo ela, não foi fácil. A alfabetizadora já poderia ter se retirado dois anos antes, quando fechou 25 anos de serviço e 50 de idade, mas não quis parar. Passou a receber gratificação de permanência e continuou à frente do processo de aprendizagem.
Leia mais:
Previdência da prefeitura de Porto Alegre terá R$ 700 milhões de rombo neste ano
Planalto quer economizar R$ 6 bilhões por ano com pente-fino de aposentadoria por invalidez
"Quanto mais adiar, mais forte terá de ser a reforma no futuro", diz secretário de Previdência
– Sempre fui comprometida com a educação e dedicada aos alunos. Sou apaixonada pela profissão que escolhi e acredito que bons professores são fundamentais – conta a educadora, que estava no último nível da carreira e prefere não relevar quanto ganhava do Estado.
Por 12 anos, ela vinha atuando na Escola Estadual de Ensino Médio Tom Jobim, dentro do complexo da Fundação de Atendimento Sócio-Educativo (Fase) na Vila Cruzeiro, em Porto Alegre. A instituição atende jovens em conflito com a lei.
A decisão de parar, conta Ceres, decorreu do sentimento de desvalorização e do receio de perder direitos. Ela considera temerosa, por exemplo, a intenção do governo do Estado de rever benefícios, entre os quais a gratificação de difícil acesso, tanto quanto a decisão de reduzir turmas. Quanto à proposta de reforma da Previdência em debate no Congresso, diz que foi a gota d´água e que outros colegas também estão preocupados.
– Sei que vou sentir um vazio enorme em março, por não rever meus educandos e por não participar do processo de educação desses meninos à margem da sociedade, mas, pela primeira vez na vida, decidi pensar em mim e no meu futuro – afirma.