Se em Brasília Teori Zavascki era visto como alguém sério e sisudo, com os seus familiares e amigos mais próximos a relação era bem diferente. O ministro do Supremo Tribunal Federal, que morreu nesta quinta-feira em um acidente de avião próximo a Paraty (RJ), era afetuoso com os filhos e netas e gostava da companhia dos companheiros de longa data.
Paulo Odone, ex-presidente do Grêmio e ex-deputado estadual, era um destes amigos. Em entrevista após saber da notícia da morte de Zavascki, Odone lamentou a perda e destacou que esteve recentemente com o ministro – os dois jantaram juntos na última terça-feira, após terem se encontrado também em Xangri-lá, nas férias, reuniões que faziam parte da rotina de amizade de mais de 40 anos dos dois.
– Era um convívio permanente. Perdi uma figura muito próxima, com quem eu tinha intimidade há 40 anos. Era muito gremista, chegou a estar no Conselho Deliberativo do Grêmio. Nós estivemos juntos nas suas curtas férias em Xangri-lá, estive com a minha mulher e ele com os filhos e as netas. Ele estava absolutamente tranquilo do seu papel, era exatamente essa integridade que tinha. Me convidou para almoçar com a maior alegria, descansando a cabeça. Jantamos em Porto Alegre antes de ele voltar – disse Odone, por telefone.
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O ex-deputado lembrou de quando conheceu Zavascki e falou sobre a capacidade do ministro de conquistar a confiança das pessoas.
– Minha relação com o Teori é próxima e antiga. Quando ele estava se formando em Direito na UFRGS (onde se graduou em 1972), foi estagiário no escritório que eu mantinha com o Luiz Carlos Madeira. Veio para estagiar, se tornou advogado, advogamos juntos na intervenção do Banco Sul-Brasileiro. Era alguém absolutamente isento, capaz de receber a confiança de qualquer um, que foi o que ele fez no STF. É uma perda emocional muito grande para mim.
Odone falou ainda sobre o comportamento discreto e reservado de Zavascki como ministro, que contrastava com a sua postura tranquila em casa.
– Na nossa relação pessoal, ele era assim (companheiro). Agora, era muito discreto na relação de juiz, de ministro, para fora. Não gostava de entrevistas, de declarações. Dizia que tinha de falar nos autos. E acho que estava correto. No ambiente conturbado destas questões políticas, era possível essa conduta. O STF perde essa figura. O Brasil teve a sorte de ter encontrado, no meio da crise, a cabeça e a integridade de um ministro como ele.
A situação tensa e polarizada do ambiente político do Brasil era algo que preocupava Zavascki. Mas, de acordo com Odone, o ministro nunca demonstrou nenhum receio a respeito da sua segurança por conta da participação como relator da Operação Lava-Jato.
– Perguntei para ele, um dia, como ele faria para resistir às pressões. E ele disse: "Eu não vou fazer isso, de ceder. Vou votar de acordo com a Constituição e a Lei. É minha obrigação, independente de qualquer pressão. Era o que ele estava fazendo, sem atraso, e ia homologar as delações. Ele tinha um pouco de ressentimento com o patrulhamento das pessoas, de todos os lados. No despacho que ele deu anulando as gravações da presidente Dilma com o Lula, o pessoal fez muita patrulha, ameaças, pichou o prédio do filho dele. Também tinha o pessoal que se queixava de que ele votava, permitia o impeachment. E ele não mudava. Não ia julgar politicamente, ia se manter assim até o final. Mas nunca se queixou, em momento nenhum, de medo de sofrer um atentado. É uma perda muito grande – completou Odone.
*Zero Hora