Nos bastidores do governo de Michel Temer e entre aliados, o adiamento do julgamento sobre a proibição de réus na linha sucessória da Presidência da República foi recebido com alívio. A avaliação no Planalto é que, se a decisão no Supremo Tribunal Federal (STF) fosse oficializada nesta quinta-feira, aumentaria a pressão para que um dos inquéritos contra o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), fosse examinado, o que poderia resultar no afastamento do cargo. Nesse cenário, o Senado passaria a ser comandado pelo atual vice-presidente, Jorge Viana (PT-AC).
Nos últimos dias, o emissários de Temer passaram a atuar para tentar adiar o julgamento. Pelo menos dois auxiliares do presidente procuraram informalmente ministros da Corte para falar que o momento era "inoportuno" para se julgar a ação apresentada pela Rede. O temor do governo era de que a análise do processo pudesse contrariar Renan às vésperas da votação da proposta de emenda à Constituição (PEC) que limita o aumento dos gastos públicos por 20 anos.
Considerada âncora do ajuste fiscal, a medida já foi aprovada na Câmara, mas ainda tem um calendário de tramitação no Senado. A votação no plenário, em primeiro turno, está prevista para 29 de novembro. O apoio de Renan é essencial para que o Planalto consiga a aprovação até o final deste ano, como pretendido.
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Nos últimos dias, o governo Temer atuou para acalmar os ânimos entre Renan e o Supremo. O julgamento sobre a linha sucessória da Presidência foi marcado pela presidente do STF, ministra Cármen Lúcia, antes do desentendimento com Renan após a deflagração de uma operação que resultou na prisão de quatro policiais legislativos suspeitos de obstruir as investigações da Lava-Jato e busca e apreensão no Senado.
O presidente da Casa chegou a referir-se ao juiz Vallisney de Souza Oliveira, da 10ª Vara Federal de Brasília, que autorizou mandados, como "juizeco". Também disparou contra o ministro da Justiça, Alexandre de Moraes, dizendo que ele se comporta como "chefete de polícia". Na semana passada, o peemedebista telefonou para Cármen Lúcia, pediu desculpas pelas declarações e afirmou que a presidente do Supremo é "um exemplo de caráter".
Durante a semana, o relator do processo, ministro Marco Aurélio Mello, criticou a possibilidade de adiamento e lembrou que a decisão deveria ser tomada logo por ser "época propícia", já que não havia ninguém na linha de substituição na condição de réu no STF.