Correção: no início da Operação Métis, investigadores informaram que o senador Edison Lobão (PMDB-MA) era um dos alvos. Depois, a Polícia Federal esclareceu que o investigado era Edison Lobão Filho (PMDB-MA), que é ex-senador e filho do senador. A informação errada permaneceu no ar entre as 12h44min do dia 21/10/2016 e as 14h25min do dia 22/10/2016, quando foi corrigida.
A Polícia Federal (PF) prendeu nesta sexta-feira, de forma temporária, quatro policiais legislativos por suspeita de atrapalhar investigações relacionadas à Lava-Jato. A ação foi solicitada pela Procuradoria-Geral da República (PGR) e autorizada pela 10ª Vara Federal do Distrito Federal (DF).
Segundo a Polícia Federal, os policiais legislativos presos teriam feito varreduras com o objetivo de retirar escutas telefônicas de imóveis particulares e funcionais ligados a três senadores e um ex-congressista investigados na Operação Lava-Jato. A informação, que deu origem à Operação Métis, partiu de um policial que fez acordo de delação premiada.
O agente afirmou a investigadores que, em quatro ocasiões, equipamentos do Senado foram usados para rastrear escutas em imóveis particulares e funcionais ligados a três senadores e um ex-parlamentar investigados na Lava-Jato. As investigações correm em sigilo, mas os jornais O Estado de S. Paulo e Folha de S.Paulo apuraram que a ação ilegal beneficiaria os senadores Fernando Collor (PTC-AL) e Gleisi Hoffman (PT-PR), além dos ex-senadores Edison Lobão Filho (PMDB-MA) e José Sarney (PMDB-AP).
O objetivo, segundo as declarações do colaborador, era fazer a chamada contrainteligência: localizar e destruir eventuais sistemas de escuta telefônica e ambiental. Em pelo menos duas ocasiões, as ações ocorreram em São Luís (MA), terra de Lobão Filho, e Curitiba (PR), cidade de origem de Gleisi.
Durante a operação desta manhã, o diretor de Polícia do Senado Pedro Carvalho Oliveira foi conduzido coercitivamente – quando o investigado é levado a depor obrigatoriamente e liberado. Segundo a PF, foram obtidas provas de que um grupo liderado por Carvalho atuava para "criar embaraços às ações investigativas da Polícia Federal em face de senadores e ex-senadores, utilizando-se de equipamentos de inteligência".
Em um dos casos, conforme apurou a reportagem da Rádio Gaúcha, Carvalho teria ordenado atos de intimidação à PF durante o cumprimento de um mandado expedido pelo Supremo Tribunal Federal (STF) no apartamento funcional de um senador.
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Carvalho é homem de confiança do presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL) que, segundo sua assessoria, encontra-se em Maceió nesta sexta-feira.
Além dos mandados de prisão temporária e busca e apreensão, havia ordens judiciais para o afastamento de função pública de investigados. De acordo com a PF, não foram feitas buscas em gabinetes de parlamentares.
Os agentes da PF deixaram o prédio do Senado por volta das 11h, depois de cinco horas de buscas. Os agentes saíram do local com malas que ocuparam todo o bagageiro de uma das cinco viaturas que fizeram buscas no Senado no período da manhã.
Os suspeitos vão responder por associação criminosa armada, corrupção privilegiada e embaraço à investigação de infração penal relacionada à organização criminosa. Juntas, as penas chegam a 14 anos e seis meses de prisão, acrescidas de multa.
Batizada de Métis, a operação da PF faz referência à deusa da proteção pela capacidade de prever acontecimentos.
Contrapontos
Gleisi Hoffmann
A senadora Gleisi Hoffmann (PT-PR) publicou nota em que admite que pediu à Polícia Legislativa do Senado Federal para fazer verificação e varredura nas suas residências em Brasília e Curitiba. Ela negou, porém, obstrução à Justiça.
"Logo após a operação de busca e apreensão realizada em minha casa em Brasília e em Curitiba, com a prisão de meu marido Paulo Bernardo, solicitei ao Senado que a Polícia Legislativa, dentro de suas atribuições legais, fizesse uma verificação e uma varredura eletrônica nas residências. Fiz o pedido formalmente. Tem processo no Senado com autorização formal para isso", escreveu a senadora.
Ela argumenta que esse serviço da Polícia Legislativa é regular e existe "há muito tempo". "Temos todo processo de pedido formalizado. Tudo dentro das normas do Senado. Fazer isso não configura obstrução alguma. Apenas queria ter informação de segurança sobre minha residência", alegou.
Gleisi também informou que, como nada foi encontrado nas residências, nenhuma providência ou comunicado foi feito ao Ministério Público Federal.
Sarney
O advogado do ex-presidente José Sarney, Antonio Carlos de Almeida Castro, o Kakay, negou que seu cliente tenha cometido alguma irregularidade. A declaração foi feita logo após a Polícia Federal cumprir diligências no Senado na Operação Métis.
– O presidente Sarney ficou completamente atônito, disse que não usa os serviços do Senado desde que saiu do Senado e não fez nenhum pedido de varredura. Ele tem uma estrutura de ex-presidente da República. O presidente Sarney não usou, não fez pedido absolutamente nenhum e não foi feita varredura – disse Kakay.
A assessoria de Sarney também divulgou uma nota, em que diz desconhecer possíveis ações de varredura da Polícia Legislativa do Senado Federal em seu escritório ou residência. "O senador Fernando Collor não tem conhecimento acerca dos fatos narrados na manhã de hoje e nega que tenha se beneficiado de qualquer ação da Polícia Legislativa do Senado Federal que seja estranha às suas funções institucionais", informa o texto divulgado pela assessoria do senador.
Collor
O senador Fernando Collor (PTC-AL) divulgou nota nesta sexta-feira, 21, em que diz desconhecer possíveis ações de varredura da Polícia Legislativa do Senado Federal em seu escritório ou residência. "O senador Fernando Collor não tem conhecimento acerca dos fatos narrados na manhã de hoje e nega que tenha se beneficiado de qualquer ação da Polícia Legislativa do Senado Federal que seja estranha às suas funções institucionais", informa o texto divulgado pela assessoria do senador.