O presidente Michel Temer disse, nesta quarta-feira, que foi "surpreendente" a declaração de seu articulador político, Geddel Vieira Lima, em favor da proposta que anistia a prática de caixa 2 em campanhas eleitorais.
– Pessoalmente eu acho que não é bom, mas vou chegar lá, quero esclarecer isso – declarou Temer em entrevista coletiva em Nova York.
Segundo ele, a posição de Geddel é "personalíssima" e não reflete a posição do governo.
– Eu pessoalmente acho que isso é matéria do Congresso Nacional, mas eu pessoalmente não vejo razão para prosseguir ou prosperar nesta matéria – ressaltou.
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Mas o presidente não quis discutir a orientação que dará à sua base na votação do assunto no Congresso Nacional. Temer ressaltou que não pretende interferir na atuação do Legislativo.
Na terça-feira, o ministro da Secretaria de Governo, Geddel Vieira Lima, afirmou que o Palácio do Planalto não foi consultado sobre a tentativa de votar a anistia à prática do caixa 2, mas disse ser "pessoalmente" a favor da medida.
Para Geddel, se o Ministério Público Federal propôs um projeto para criminalizar o caixa 2, isso significa que esse tipo de prática não é considerado crime hoje em dia. Segundo o ministro, uma coisa é o político ser penalizado com base na legislação eleitoral e outra é o que vem acontecendo no âmbito da Operação Lava-Jato, em que as condenações têm sido por corrupção e lavagem de dinheiro.
Na segunda, em uma tentativa atrapalhada, líderes de praticamente todos os grandes partidos tentaram articular a votação de uma proposta com esse fim. Foi colocado em pauta um projeto de 2007 sobre mudanças em regras eleitorais e uma emenda seria proposta para que houvesse anistia aos políticos que praticaram caixa 2 no passado.
Ninguém assumiu a autoria da proposta, mas as articulações da iniciativa teriam contado com o aval do presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), que está interinamente ocupando o cargo de presidente da República enquanto Michel Temer está nos Estados Unidos.
Polarização
Temer também disse que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva "tem condições" de ir ao Poder Judiciário e apresentar seus argumentos de defesa no processo em que é acusado de corrupção na operação Lava-Jato.
– Se eu estivesse no lugar dele iria ao Judiciário para debater."
Perguntado se a aceitação da denúncia contra o petista polarizaria ainda mais o país, o presidente disse que essa polarização deve ocorrer no plano jurídico.
– Não sei quais serão as reações. Acho que deve polarizar no plano Jurídico. No plano jurídico, certa e seguramente, eu espero que seja assim. O sr. ex-presidente tem condições de ir ao Judiciário e, aí sim, polarizar com argumentos.
Temer disse que não se manifestaria sobre a atuação do Poder Judiciário ou do Ministério Público, que são independentes.
– Não será o Poder Executivo que vai julgar – afirmou.
*Estadão Conteúdo