Chegaram ao fim as noites badaladas na residência oficial da presidência da Câmara. Antes frequentada por dezenas de parlamentares, em jantares para articular manobras ou celebrar vitórias, a mansão às margens do Lago Paranoá recebe os poucos apoiadores de Eduardo Cunha (PMDB-RJ) que sobraram.
Desde que o Conselho de Ética aprovou o parecer pela cassação do peemedebista, na semana passada, o movimento na casa oscila entre cinco e 10 deputados, que já não acreditam que ele escapará impune. Um dos seus defensores, Carlos Marun (PMDB-MS) o aconselhou a renunciar à presidência para tentar salvar o mandato:
– Seria a melhor maneira de o Eduardo amenizar o clima no plenário e ganhar tempo para se defender no Supremo.
Leia mais:
Por unanimidade, STF torna Cunha réu pela segunda vez na Lava-Jato
Carolina Bahia: mais poderoso presidente da Câmara caminha para um fim melancólico
Estamos começando conversações, diz líder do PSDB sobre sucessão de Cunha
Interlocutores garantem que Cunha já foi mais enfático ao negar a renúncia. Já a prédisposição de uma delação ele ainda rebate com vigor ao aliados que o visitam, como Paulinho da Força (SD-SP) e Jovair Arantes (PTB-GO). Nos últimos dias, o parlamentar recebeu convidados de traje social, oscilando no uso do paletó. Na residência, acompanha notícias, fala com advogados, deputados e emissários do Planalto. Por vezes, tem a companhia da mulher Cláudia Cruz, também ré na Lava-Jato. A principal preocupação é protegê-la de condenações.
O processo de isolamento se iniciou em maio, quando o STF afastou Cunha da presidência da Câmara e do mandato. A entrevista concedida na segunda-feira, quando chegou a um hotel de Brasília sozinho, demonstrou a perda de apoio. Ele e sua tropa sustentaram que a ideia era falar sem claque, mas, na semana anterior, o peemedebista disparou ligações convidando aliados. A solidão destoou dos tempos em que circulava seguido por séquito de parlamentares, assessores e seguranças.
PMDB-RS deve somar votos pela perda do mandato
No período de afastamento, Cunha tem demonstrado irritação com o abandono de colegas de PPS, DEM e PSDB, a exemplo de Rubens Bueno (PPS-PR), Antonio Imbassahy (PSDB-BA) e Pauderney Avelino (DEM-AM), que o incentivavam a aceitar o pedido de impeachment contra Dilma Rousseff.
– Ele serviu como instrumento e agora é contagioso – avalia Henrique Fontana (PT-RS).
Na bancada do PMDB, Cunha sabe que deve ter maioria de votos por sua cassação. Apoiador da candidatura dele à presidência da Câmara, o PMDB gaúcho tende a adotar esta posição. Na eleição, em fevereiro de 2015, Darcísio Perondi entrou no plenário da Casa aos gritos de "Eduardo presidente". O primeiro atrito surgiu na votação da PEC da redução da maioridade penal. Perondi foi contrário à medida chancelada pela presidente afastado da Casa.
Durante as articulações do impeachment, o gaúcho tratou das conversas com movimentos anti-PT e dos mapas de votos, mais distante das articulações diretas com Cunha. Aprovada a saída temporária de Dilma, Perondi só quer saber da gestão interina de Michel Temer, que o escolheu vice-líder do governo na Câmara:
– Tenho um governo para ajudar, o Brasil precisa sair da crise e olhar para frente.
Quem também se afastou foi Mauro Pereira (PMDB-RS), que elogiava o ritmo de votações imposto por Cunha. Em 2015, mais de uma vez esteve no gabinete do presidente para lhe prestar solidariedade em períodos de dificuldades. Orientado por colegas a se distanciar, Pereira não fala com Cunha desde abril.