Novo garganta profunda de Brasília, o ex-presidente da Transpetro, Sérgio Machado, construiu carreira política discreta, mais ligada aos bastidores do poder, embora tenha exercido mandatos de deputado federal e de senador.
Responsável pelas gravações que derrubaram Romero Jucá (PMDB-RR) do Ministério do Planejamento, Machado é apontado como um operador que serviu, durante os governos de Luiz Inácio Lula da Silva e de Dilma Rousseff, aos interesses de poderosas lideranças de diferentes partidos, sobretudo do PMDB. Temerário em cair nas mãos do juiz federal Sérgio Moro, que conduz rigorosamente os inquéritos da operação Lava-Jato em Curitiba, resolveu fazer delação premiada na Procuradoria-Geral da República e entregar gravações comprometedoras dos caciques que o sustentaram no poder.
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O presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), é considerado o padrinho de Machado. Em 2003, então sem mandato eletivo, ele foi indicado por Renan para assumir a presidência da Transpetro – subsidiária da Petrobras responsável por transportar e armazenar petróleo e derivados, além de atuar nas áreas de importação e exportação dos produtos. Em 2013, o orçamento da estatal foi de R$ 1,5 bilhão.
Renan foi o avalista da indicação, mas nomes como José Sarney (PMDB-AP) e Romero Jucá também teriam dado respaldo. Lula concordou. Caso raro de longevidade, se manteve no cargo até o segundo mandato de Dilma – a saída definitiva ocorreu em fevereiro de 2015, quando já estava fragilizado por denúncias.
– Ele foi poderosíssimo nos governos do PT, indicado pelos caciques do PMDB do Senado. Serviu ao PMDB e ao PT – diz uma liderança peemedebista.
No PMDB, seu atual partido, Machado é pouco presente. Deputados e dirigentes dizem que ele não costuma comparecer a reuniões, encontros ou convenções. Se restringe aos bastidores, discreto, tendo como referência os velhos mandachuvas do Senado.
Na Lava-Jato, existem elementos que implicam o ex-presidente da Transpetro. Em dezembro passado, a casa dele foi alvo de busca e apreensão da Polícia Federal. Ex-diretor da Petrobras, Paulo Roberto Costa disse a investigadores ter recebido R$ 500 mil de Machado. A suspeita é de que o dinheiro seja originário de esquema de corrupção. Também foram encontrados documentos e anotações de Costa em que Machado e a Transpetro eram citados. Seria um indicativo de que o esquema de corrupção na Petrobras se estendeu à subsidiária. É por isso que a delação de Machado causa arrepios em Brasília: ele pode inaugurar nova frente de investigação ao abrir a caixa preta da Transpetro.
Acuado e buscando se salvar, arquitetou e gravou trepidantes diálogos com Jucá, Renan e Sarney. Sobretudo com Jucá, as conversas foram permeadas por tramas sobre o que fazer para sepultar a Lava-Jato. Pediu ajuda para ser blindado, escapar de Moro e chegou a dizer que, caso confirmada a delação premiada da empreiteira Odebrecht, o resultado seria devastador.
"Do Congresso, se sobrar cinco ou seis, é muito. Governador, nenhum".
Antes de assumir a Transpetro, teve carreira política pouco destacada. Natural de Fortaleza, é empresário com trajetória nos setores do vestuário e das comunicações. Ingressou no PMDB no início dos anos 80, atuou politicamente ao lado de lideranças do Ceará como Tasso Jereissati (PSDB) e Ciro Gomes (PDT). Em 1990, quando já havia migrado ao PSDB, elegeu-se deputado federal. Em 1992, votou a favor do impeachment do então presidente Fernando Collor. Mais tarde, em 1994, conquistou uma cadeira no Senado.
– Não havia nada de notável, era mais burocrático do que político. Pouco expressivo do ponto de vista da liderança e da tomada de iniciativa. Era mais de bastidores, fazia articulações, preocupado com tarefas administrativas. Não era um cara de tribuna, atuava pouco nas comissões – diz o deputado José Fogaça (PMDB-RS), que foi contemporâneo de Machado no Senado.
Pouco antes do fim do mandato, o cearense deixou o PSDB para retornar ao PMDB. Concorreu ao governo do Ceará em 2002, ficou em terceiro lugar e, depois de 12 anos de poder em Brasília, se viu sem o verniz parlamentar. Aí passou a ser plainado o caminho à presidência da Transpetro.
* Zero Hora