Michel Temer não poderia perder aquele baile. Estava em campanha à presidência do Centro Acadêmico do Direito da Universidade de São Paulo (USP) e os eleitores mais influentes estariam no Clube Pinheiros, ambiente perfeito para cabalar votos. Mas a noite era de gala, e ele não tinha um smoking.
A solução foi usar o traje de um irmão, Adib, que vestia um número bem maior do que o dele. Encolhido de vergonha no paletó em que sobrava tecido nas mangas e nos ombros, Temer passou a noite escorado em uma pilastra, sem circular pelo salão. Perdeu a eleição por 229 votos de diferença. E nunca mais alguém o viu desalinhado.
Leia também:
Leia todas as matérias com o perfil de Michel Temer completo
Sessão do impeachment no Senado deve durar 20 horas
Teori será o relator do mandado de segurança da AGU
Todas as notícias sobre a crise política
Mais de meio século após o Baile das Américas de 1962, aos 75 anos, o Michel Temer que assumirá a Presidência da República caso o Senado confirme o impeachment de Dilma Rousseff usa ternos impecáveis, camisas sem rugas, abotoaduras e paga R$ 230 por um corte de cabelo no Jassa, o mais tradicional salão da capital paulista. Pode ser o 13º presidente saído das Arcadas, a lendária faculdade do Largo São Francisco.
– Michel fará um grande governo, pois sabe cultivar as pessoas. Aprendeu no pátio da USP. Mas não se confunda lhaneza com submissão. Na hora de firmar posição, ele é rígido. Já testemunhei duas broncas dele na Dilma – conta o advogado José Yunes.
Aos 79 anos, Yunes é o melhor amigo de Temer. Foi quem o iniciou na vida pública, ao indicá-lo para a Secretaria da Segurança do governo Franco Montoro (SP), em 1984. Dois anos depois, foram colegas na Assembleia Nacional Constituinte. Ainda hoje costumam almoçar juntos quase todas as segundas e sextas-feiras, ora no Freddy, ora no La Tambouille, seletas casas gastronômicas de São Paulo. Os restaurantes ficam a poucas quadras do escritório de 800 metros quadrados que Yunes chefia e no qual relatou à ZH as altercações entre a presidente e o vice:
– Em uma das vezes, Dilma o acusou de vazar uma informação importante do governo. Ele reagiu dizendo: "a senhora me respeite". Na segunda vez, estávamos no carro e ela ligou exigindo apoio à recriação da CPMF. Ele foi duro, mas claro, ao afirmar que não havia a menor condição política para tanto.