O Senzala é um típico restaurante de bairro: preços honestos, comida boa e um aprazível terraço defronte à Praça Panamericana, no Alto de Pinheiros, reduto de alto padrão na zona oeste de São Paulo. Vez por outra, quem aparece por ali é o vice-presidente da República. Aos sábados, Michel Temer conduz reuniões políticas em um prédio ao lado do restaurante. Não raro, os encontros derivam para uma mesa de seis lugares nos fundos do salão, onde a proximidade com a quina das paredes evita a aproximação de curiosos e a propagação da conversa. Temer geralmente pede um linguado com espinafre (R$ 84) e água sem gás. Na hora de pedir a conta, ignora solenemente os pedidos dos companheiros de mesa, restringindo-se ao próprio consumo. Respeita os 10% da taxa de serviço, mas não dá gorjeta.
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Na última vez em que esteve no Senzala, no fim de abril, por pouco não deparou com um desafeto que o hostilizara um ano antes. Dedo em riste, o cliente dissera que Temer e Dilma haviam acabado com o país. O vice manteve a fleuma e desprezou o agressor.
Frango desossado buscado a pé, vizinhança com olhar desconfiado
Em outra ocasião, ele estava com a mulher, Marcela, mas seu lugar predileto estava ocupado. Por sugestão do maitrê, Temer ocupou a mesa ao lado, a de número 13. O garçom brincou com a situação, e Temer sorriu, polido, mas constrangido. Na última quarta-feira, quando ZH esteve no local, os funcionários reviraram gavetas e utensílios, mas não encontraram o marcador com o número do PT.
– Desapareceu – angustiava-se o gerente Daniel Carvalho, diante do riso dos garçons que especulavam se o vice teria dado um sumiço na placa.
Quando era deputado, Temer tinha por hábito encomendar por telefone um frango desossado com legumes (R$ 54) e, depois, ir buscar o pedido no balcão do Senzala. Percorria a pé os 900 metros até em casa, um imponente casarão de dois andares.
Os vizinhos festejam a segurança da rua, guarnecida 24 horas por três agentes federais, mas não têm muita simpatia por Temer. Há quem diga que o vice avançou o limite de construção do imóvel sob uma linha de alta tensão e que já chamou a polícia para encerrar uma festinha infantil na praça em frente à casa. Os empregados, porém, não têm queixas do patrão.
– Ele é gente muito boa, paga direitinho– disse o auxiliar de serviços gerais José Humberto.