Somente quem priva da intimidade de Temer poderia presenciar tais cenas. Em público, o vice-presidente é sempre cordato e cerimonioso. Nos pronunciamentos, costuma escandir as frases como se estivesse datilografando um texto, com todas as pausas e inflexões que os discursos requerem. Enquanto fala, mantém a postura ereta e tem o cacoete de girar as mãos em torno dos punhos, com os dedos invariavelmente esticados.
– Nunca o vi irritado nem falar um palavrão. Ele observa muito a máxima de que o sujeito tem duas orelhas e uma boca, tem de ouvir mais do que falar – resume Paulo Lucon, presidente do Instituto Brasileiro de Direito Processual e integrante da confraria Amigos da Lei, da qual Temer faz parte e que reúne juristas, políticos e ex-ministros do Supremo Tribunal Federal (STF).
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Temer não tem time de futebol. Prefere dedicar o tempo livre à leitura, consumindo em média quatro livros por mês. Também é fã de filmes clássicos e seriados. Há pouco tempo, presenteou um amigo com a coleção de DVDs da série The Tudors, que narra as intrigas palacianas enfrentadas por Henrique VIII, o sedutor monarca inglês que rompeu com o Vaticano e casou inúmeras vezes na obsessão por ter um filho varão.
Admiração das colegas de faculdade e três casamentos
Católico na infância, Temer tornou-se maçom e casou três vezes. Também manteve pelo menos outros dois relacionamentos. Tem três filhas mais velhas do que a atual mulher, Marcela – 42 anos mais jovem do que ele –, e dois filhos homens, o primogênito nascido quando estava prestes a se tornar sexagenário.
– As meninas sempre gostaram muito de se aproximar do Michel. E ele apreciava isso – lembra a ex-colega de Arcadas, Norma Kyriakos, 77 anos.
– O que chama a atenção é que ele está sempre impecável, parece recém ter saído de um banho – completa Maria Christina Napolitano, a primeira aluna da classe.
Há quatro semanas, Maria Christina estava em casa quando o telefone tocou. O interlocutor avisou que o vice-presidente da República queria falar-lhe. Surpresa com uma ligação de Temer em meio ao turbilhão do impeachment, ela ouviu um cortês elogio a um ensaio escrito por ela no livro de memórias da turma. No texto, Maria Christina afirma que o Direito não oferece redenção derradeira, nem dia do juízo final, mas "se o dia do juízo é tanto concreto e eternamente adiado, cabe a nós trazê-lo cada vez mais perto". Hoje, dia do juízo do governo Dilma Rousseff no Senado, Michel Miguel Elias Temer Lulia pode deixar as pilastras do Palácio do Jaburu para vestir a faixa presidencial no salão nobre do Planalto.