Em 65 meses de Vice-Presidência, Michel Temer jamais teve voz ativa nas decisões de governo. Raramente era chamado a palpitar e, em geral, suas indicações para ministérios eram ignoradas por Dilma Rousseff. Nesse período, ainda teve o desgosto de ver fieis escudeiros sendo sabotados pelo Planalto, como Eliseu Padilha e Moreira Franco, presenças certas em seu possível ministério.
Nos últimos dias, diante da iminência de assumir o comando do país, esse cenário se inverteu. Agora é Temer quem é assediado por amigos, aliados políticos e correligionários. Ele é atencioso com todos, mas mantém prudente resguardo. Não exclui, tampouco confirma as inúmeras sugestões para o primeiro escalão. Mas nada o livra do intenso lobby que provém até mesmo de sua cidade natal.
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Em 30 de abril, um sábado, Temer recebeu uma mensagem pelo WhatsApp do prefeito de Tietê (SP). Aos 30 anos, Manoel David (PSD) é um jovem e vaidoso gestor público. Perdeu 40 quilos com uma cirurgia bariátrica e orgulha-se da proximidade com o homem que irá conduzir os rumos do país. Na mensagem a Temer, ele sugeria para o Ministério da Saúde o oftalmologista Claudio Lottenberg, presidente do Hospital Albert Einstein e ex-secretário municipal de Saúde de São Paulo.
Aberto a sugestões, mas não tão flexível
O vice respondeu na tarde do dia seguinte. Disse que "nome melhor não há”, mas que antes Lottenberg teria de se filiar ao PP, a quem a pasta havia sido prometida, e obter a anuência do partido. Na expectativa de patrocinar a escolha do gestor de um orçamento de R$ 91 bilhões, David viajou no mesmo dia a São Paulo, onde se encontrou com Lottenberg no Clube Hebraica, tradicional reduto de lazer da elite judaica da cidade. Lottenberg pediu tempo para pensar e, dois dias depois, declinou.
– Fiquei lisonjeado pela oportunidade de intermediar uma indicação tão importante – conformou-se o prefeito.
Situação mais constrangedora viveu o advogado Arnaldo Barreira Cravo, colega de Temer na faculdade de Direito. Diplomata de carreira, Cravo enviou carta a Temer sugerindo ao Ministério das Relações Exteriores o ex-embaixador do Brasil na Organização dos Estados Americanos Luiz Augusto Saint-Brisson de Araújo Castro, o primeiro de sua turma no Instituto Rio Branco. Temer sequer respondeu.
– O que mais tem no Itamaraty é diplomata lotado no que chamamos de DEC, Departamento de Escadas e Corredores, todos insatisfeitos com a política externa do PT. Mas entendo que Temer tenha outras opções para o cargo – resigna-se Cravo.