Em entrevista ao jornalista Glenn Greenwald, do site The Intercept, a presidente afastada Dilma Rousseff chamou o governo de Michel Temer de "ilegítimo". Dilma também criticou a composição ministerial do presidente interino, que, segundo ela, é feita por "por homens brancos, sem negros" em um país em que "mais de 50% se declarou de origem afrodescendente" no Censo de 2010.
– O que está me parecendo é que este governo interino e ilegítimo, ele será um governo bastante conservador em todos os seus aspectos – afirmou. – Bom, não ter uma mulher e não ter negros no governo, eu acho que mostra um certo descuido com o país que você está governando.
Questionada sobre qual seria a melhor opção diante da confirmação do impeachment, entre Temer ficar no poder ou serem convocadas novas eleições, Dilma preferiu não responder, alegando que vai "lutar até o fim".
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A presidente afastada também afirmou que pretende recorrer ao Supremo Tribunal Federal (STF) para definir o mérito da ação, mas deve fazê-lo apenas quando sua defesa julgar adequado. Ela também disse esperar que o presidente do STF, ministro Ricardo Lewandowski, "dê rito mais consistente" ao processo.
Questionada sobre a suspensão da investigação sobre o senador Aécio Neves (PSDB-MG), autorizada pelo ministro Gilmar Mendes, Dilma afirmou julgar "estranha" a suspensão.
– Pelo que eu saiba, nenhuma ação teria sido suspensa até então, nenhum ação de pessoas investigadas pela Lava-Jato.
A petista pontuou que Mendes é apenas um dos doze integrantes do STF, e que nem todos têm a mesma posição "visivelmente militante" do juiz.
– Acho que no Brasil nós não podemos ter dois pesos e duas medidas. Quando se investigar, que se investiguem todos. Ninguém pode ser poupado da investigação – defendeu.
Sobre a possibilidade de que a Operação Lava-Jato possa ser enterrada depois de sua saída, a presidente afastada afirmou considerar que o risco existe, mas ponderou que a investigação tem muitos atores.
– Não acho que seja trivial enterrar a Lava-Jato.
Ela questionou, no entanto, a possibilidade do governo não mais indicar o primeiro nome da lista tríplice do Ministério Público para o cargo de procurador-geral da República, uma tradição que teria começado com o presidente Lula e cujo fim foi aventado pelo ministro da Justiça, Alexandre de Moraes esta semana. Esta possibilidade, no entanto, foi desautorizada pelo presidente interino no mesmo dia.
A presidente afastada afirmou ainda considerar "um absurdo" a mudança da orientação da política externa, principalmente em relação aos países do Mercosul e dos Brics.
– Espero que não cometam esse absurdo para com o país – disse.
Cunha é "líder do golpe"
A presidente afastada também reiterou ser vítima de um golpe, e que seu líder é o deputado afastado Eduardo Cunha (PMDB-RJ).
– O líder não é o presidente interino, o líder é o presidente da Câmara (Eduardo Cunha), que foi afastado agora – afirmou
Dilma aproveitou para justificar o fato de Cunha ter sido parte de seu governo, afirmando que ele faz parte do PMDB "o qual, desde 1999, constrói a maioria com os governos". Ela afirmou também ter tido atritos com o ex-presidente da Câmara dos Deputados ao longo do segundo governo.
– Ele é muito bom de agir nas trevas.
*Zero Hora com agências