O senador cassado Delcídio Amaral afirmou, nesta quinta-feira, que tentou alertar "várias vezes" a presidente afastada, Dilma Rousseff, de que as consequências da Operação Lava-Jato chegariam ao Palácio do Planalto e poderiam contaminar a gestão dela.
Em entrevista à Rádio Gaúcha, Delcídio classificou como um "erro grosseiro" a tentativa de ministros, que queriam blindar o governo.
– Eu alertei várias vezes. Não só a presidente Dilma, mas ministros e o próprio Lula. Mas a estratégia era deixar as coisas assim. Conselheiros próximos a Dilma entenderam que ela sairia fortalecida do processo, o que foi um erro grosseiro. Isso chegou ao Planalto e contaminou definitivamente a gestão da presidente – declarou.
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– Isso (a estratégia) partiu do ministro Aloizio Mercadante, corroborada, no início, pelo ministro José Eduardo Cardozo. E a presidente Dilma acreditou nisso. Eles construíram essa tese de que o governo iria se impôr. Eles subestimaram o processo e tiveram uma visão equivocada da gravidade do problema. Quando reagiram, já era tarde demais – acrescentou.
Delcídio também falou que confia na índole de Dilma, mas entende que ela "herdou" um "processo sistêmico".
– A presidente Dilma é uma pessoa decente, ma,s na verdade, ela herdou esse processo sistêmico, que já existia. Acho que o que aconteceu é que ela não se envolvia diretamente, mas tinha conhecimento de como as coisas aconteciam – ressaltou.
Ainda em entrevista à Rádio Gaúcha, o senador cassado destacou que ainda existem outras pessoas, do "andar de cima", que estão na mira da Lava-Jato. Segundo ele, as próximas etapas serão "definitivas".
– Essa crise de hoje é parecida com a crise na época da CPI dos Correios. Talvez maior. Mas há um alinhamento entre o "mensalão" e o "petrolão". Só que ninguém fala em reforma política. Não havendo isso, mais cedo ou mais tarde virão outros casos. Isso está diretamente ligado a estrutura político-partidária que leva a essa tipo de comportamento de parlamentares, de dirigentes de estatais e empresários – comentou.
Ele também confirmou a denúncia da PGR, que aponta a tentativa de comprar o silêncio do ex-diretor da Petrobras, Nestor Cerveró.
– Eu detalho com bastante precisão tudo na colaboração. Aquilo que foi divulgado reflete efetivamente tudo isso. Foram repassados (o dinheiro) pelo Mauricio Bumlai. Ele (Lula) queria que eu ajudasse o Bumlai até pela relação que eles tem. O ex-presidente nega. Ele pedia isso com intuito de tentar ajudar o Bumlai e preocupado que o Bumlai fosse citado em delações que estavam ocorrendo à época, entre elas a do Nestor (Cerveró) e a do Fernando Baiano – disse.
Delcídio ainda reconheceu erros:
– Foi um equivoco (a tentativa de obstrução da Justiça). Já pedi desculpas. Sou um senador que nunca tive um processo. Era um senador que tinha ficha absolutamente limpa e uma postura absolutamente transparente. São aqueles erros que você comente que trazem consequências. Estou pagando muito caro por isso. Jamais poderia ter aceito um papel como esse.
*Zero Hora