A pressa mostrou-se má conselheira da presidente Dilma Rousseff. No calor das manifestações populares, Dilma anunciou uma Constituinte exclusiva para fazer a reforma política que o Congresso não consegue aprovar, e incluiu um plebiscito, ideia recebida com entusiasmo pelos defensores da democracia direta. Em menos de 24 horas, o governo foi convencido de que a iniciativa era inoportuna e o balão murchou.
É verdade que Dilma tratou a Constituinte como uma ideia a ser discutida, mas o alerta da Ordem dos Advogados do Brasil e de ministros do Supremo Tribunal Federal obrigou o Planalto a recuar. Coube aos ministros Aloizio Mercadante e José Eduardo Cardozo apresentar uma versão mais palatável para o recuo. Com o argumento de que não haveria tempo hábil para fazer o plebiscito e a Constituinte, a ideia agora é fazer uma consulta para saber o que o povo quer e deixar a votação propriamente dita para o Congresso. A OAB sugeriu o contrário - que o Congresso vote a reforma e ela seja submetida a um referendo. Cardozo disse que a ideia era interessante, mas não se comprometeu com ela.
O principal argumento dos juristas contrários à Constituinte é de que ela só se justifica em caso de ruptura institucional. E que não há possibilidade jurídica de delimitar a área de atuação de uma Assembleia Constituinte: se aprovada, estaria aberta a porteira para mudanças em todas as áreas, criando no país um clima de instabilidade. Essa visão não é unânime: o governador Tarso Genro, que sugeriu a Constituinte exclusiva para a reforma política, sustenta que ela é plenamente viável. Proposta idêntica, mas sem plebiscito, foi defendida nos governos de Fernando Henrique Cardoso e de Luiz Inácio Lula da Silva.
O tropeço do governo animou o provável candidato do PSDB a presidente, Aécio Neves, a usar a tribuna para repudiar a ideia da Constituinte e lançar sua plataforma de campanha, que inclui o corte de metade dos ministérios e a suspensão do projeto do trem-bala entre o Rio e São Paulo, com o remanejamento dos R$ 50 bilhões para os metrôs das capitais.