É frágil a linha de defesa do Ministério da Agricultura, de que não tem culpa na fraude do leite porque foram seus técnicos que detectaram a existência de formol e alertaram o Ministério Público e as indústrias. Frágil porque, se a fraude tinha o tamanho mostrado na Operação Leite Compen$ado, a fiscalização, feita por amostragem, falhou. Frágil porque cada caixa de leite traz o carimbo do Serviço de Inspeção Federal, que também fiscaliza a indústria.
Se a triagem feita nas indústrias até fevereiro não detectou a presença de formol, é por um motivo prosaico: os testes obrigatórios eram feitos para detectar a presença de outras substâncias. Antibiótico, por exemplo. O formol é resultado da mistura de ureia no leite e os protocolos não previam qualquer teste para detectá-lo. Passaram a prever em fevereiro e, ainda assim, com um teste rápido, comparado pelas indústrias aos testes caseiros para confirmação da gravidez: nem sempre funcionam.
Pela natureza do produto, a indústria não pode esperar 21 dias pelo resultado de um exame completo para descarregar o caminhão de leite.
Quando as análises detectaram a presença de formol em lotes de leite longa vida, o Ministério da Agricultura deveria ter mandado dar publicidade aos produtos adulterados, como manda o Código de Defesa do Consumidor, mas não o fez para não prejudicar a investigação que resultou na prisão dos fraudadores. Contentou-se com a retirada do produto do mercado, quando o Código prevê publicidade ampla das ocorrências, para evitar que se repitam.