Está terminando o julgamento do mensalão e eis que o Supremo Tribunal Federal aplica uma pena branda ao ex-deputado Roberto Jefferson com o argumento de que ele, como delator, ajudou a desmontar o esquema. É a delação premiada a posteriori. Jefferson não fez acordo para redução da pena, como se faz na delação premiada. Contou com a boa vontade dos ministros e não precisará ir para cadeia como outros réus.
Dito assim, parece até que Roberto Jefferson denunciou o esquema porque é um bom cidadão, um sujeito reto que não compactua com a falcatrua na política. Não é bem assim. O chefão do PTB só botou a boca no trombone quando caiu o esquema de corrupção que o partido dele comandava nos Correios. Inconformado porque o PT não pagou os R$ 20 milhões que prometera ao PTB (os repasses ficaram em mais ou menos um quarto do valor combinado), Jefferson abriu as portas do inferno e deu a trilha para que a CPI dos Correios chegasse aos 40 indiciados.
É indiscutível que o ex-deputado, cassado na mesma leva de José Dirceu, prestou um serviço ao país ao denunciar o mensalão, mas isso não faz dele um herói. Seu partido recebeu do mesmo dinheiro sujo que outros aliados do governo Lula receberam. Cada um usou como quis, financiando campanhas ou melhorando a vida de seus dirigentes, mas são todos farinha do mesmo saco. Venderam apoio no Congresso como se o mandato fosse deles e não do povo que os elegeu.
Parece óbvio dizer isso, mas corrupção só existe porque existem as duas pontas: o corrupto e o corruptor. Os dois deveriam dividir a cela e as algemas.
Se Roberto Jefferson tivesse sido poupado por uma questão de humanidade até se poderia compreender a pena branda. Ele é um homem doente, em meio ao julgamento enfrentou uma cirurgia para retirada de um tumor do pâncreas, está definhando a olhos vistos. Mas premiar o ex-deputado só porque deu o caminho para a implosão do mensalão deixa a impressão de que, em alguns casos, o crime compensa.