Na disputa pelo segundo turno em Canoas, ataques e acusações de fake news entre o atual prefeito e candidato à reeleição Jairo Jorge (PSD) e seu oponente Airton Souza (PL) tem marcado a campanha. As três últimas semanas transcorreram sem debate, apenas com entrevistas em que os dois concorrentes à prefeitura da terceira maior cidade do Estado ressaltaram as fragilidades do adversário e expuseram suas propostas.
Mais votado no primeiro turno, com 35,26% dos votos, Airton utilizou os dois afastamentos durante o atual mandato de Jairo como arma. Enfatizou que o rival retornou ao cargo através de um habeas corpus e que seu concorrente poderia deixar a prefeitura mais uma vez.
As idas e voltas ao cargo resultam da Operação Copa Livre, investigação envolvendo contratos que somavam R$ 66,7 milhões. Foram, ao todo, 493 dias em que Jairo esteve afastado do cargo.
Airton optou por não participar de debates. As críticas são retrucadas ao lembrar da ausência de Jairo em alguns encontros no primeiro turno. Também há um movimento estratégico na medida.
— Optamos por estar na rua, intensificar a campanha, conversando com as pessoas — argumenta Felipe Fontoura, assessor de Airton.
O prefeito contra-ataca e cita ação do Ministério Público em que Airton foi investigado por improbidade administrativa. O processo tem origem em 2007, quando dirigia a Companhia de Indústrias Eletroquímicas (CIEL), uma subsidiária da Corsan.
Na época, ele foi condenado em três instâncias, com a perda da função pública e dos direitos políticos, além de ter de devolver R$ 5 milhões aos cofres públicos.
A batalha pelos votos
Desde o resultado do primeiro turno, Jairo tem acusado seu concorrente de ter uma candidatura "Kinder Ovo", pois, caso o oponente seja eleito e perca o mandato, o vice Rodrigo Busato, sem experiência no Executivo, assumiria a cadeira de prefeito.
Em busca de seu quarto período à frente da cidade, o atual prefeito precisa tirar uma vantagem de 8 mil votos. A magra diferença prenuncia que, mais uma vez, Canoas terá uma eleição definida no detalhe.
Jairo aposta nos mais de 100 mil canoenses que não votaram em nenhum candidato no primeiro turno, seja por terem optado por voto branco ou nulo ou que se abstiveram de ir às urnas, para reverter o quadro. No outro espectro da disputa, argumenta-se que 71% dos que validaram o seu voto não querem dar um novo mandato a Jairo.
Como Jairo ainda despacha como prefeito, uma nova estratégia foi criada para “mantê-lo” mais tempo nas ruas.
—Tivemos mais gente nas ruas. Ele é prefeito até as 18h todos os dias. Gravamos e colocamos a voz dele em carros de som — explica Marcos Martinelli, coordenador da campanha.
Polarização
A relação com esferas superiores da política também ganhou espaço no palco do segundo turno. Jairo apostou na sua maior aproximação com o presidente Lula e com o governador Eduardo Leite. Relação vista por ele como vital para que Canoas receba recursos necessários para sua reconstrução após a enchente de maio. Obras e licitações ligadas à tragédias e que estariam em andamento são destacadas pelo candidato.
Airton garante ter base no congresso para repassar verbas para a cidade. Também sublinhou problemas enfrentados, sobretudo, na área da saúde.
A base ampla formada por Jairo Jorge no primeiro turno não foi inflada para a segunda parte do pleito, vista por ele como uma nova eleição, não uma continuação. Dos outros quatro concorrentes iniciais, o máximo que o atual prefeito conseguiu foi uma espécie de "não rejeição" de Rodrigo Cebola, ex-secretário de um dos seus mandatos. O psolitista refutou voto em Airton Souza e deixou seus eleitores livres para se absterem ou votarem em Jairo.
Os outro três apoiaram Airton. Márcio Freitas (PRD) foi o primeiro a manifestar suporte para o candidato. Vice de Jairo em dois mandatados, Beth Colombo (Republicanos) também oficializou sua preferência por Airton. Os dois saíram às ruas para pedir voto ao novo apoiado. Campiol (Novo), terceiro colocado na disputa do primeiro turno, recomendou a seus eleitores a votarem em Airton. O contexto fez Jairo dizer que a elite política da cidade se uniu.