O ano era 1994, e Jurassic Park era o filme premiado por seus efeitos visuais extraordinários. Romário era unanimidade e empilhava gols rumo ao tetra. Nas prateleiras dos supermercados, a remarcação diária de preços e a hiperinflação davam lugar à estabilidade econômica. Nas carteiras, as novas cédulas de real dividiam espaço com talões de cheque. Celular era para poucos.
Na política nacional, as urnas premiavam o criador do Plano Real e davam a Fernando Henrique Cardoso o cargo de presidente da República. No Rio Grande do Sul, Antônio Britto vencia uma acirrada disputa a governador.
Na lista de eleitos para a Assembleia Legislativa gaúcha naquele ano surgia uma novidade: Adolfo Brito.
Salto para 2022. Romário agora divide opiniões como senador, os talões de cheque sumiram e as cédulas de real cedem lugar ao Pix. Não há mais celulares, e sim smartphones. Outrora oponentes, Fernando Henrique e Luiz Inácio Lula da Silva estão agora do mesmo lado.
Passados 28 anos, a realidade cultural e política se transformou, mas um nome permanece intacto na Assembleia Legislativa: Adolfo Brito, o mais longevo deputado estadual gaúcho.
Um dos principais nomes ligados à agricultura no Legislativo, o político de Sobradinho recebeu mais de 28 mil votos nas últimas eleições e, assim, seguirá para o oitavo mandato em sequência, sempre como titular. O deputado do PP avalia que o sucesso eleitoral passa pela preponderância política em uma região específica do Estado.
— De Candelária para cima, nós temos o domínio territorial. Região central do Estado, dentro dela, mais especificamente a região Centro-Serra e também na Quarta Colônia — aponta o deputado.
Mesmo em um tempo de redes sociais fortes, o contato fundamental de Brito com o eleitorado ainda passa pelas ondas do rádio. O deputado de voz grave e fala pausada ocupa as manhãs de sábado falando sobre política em programas radiofônicos da sua região.
— Levamos (aos ouvintes) a programação das entidades (da agricultura e pecuária), levo as pessoas para serem entrevistadas, informamos a comunidade e mostramos as tratativas dos projetos de lei — conta Brito.
Pautas do agro unem recordistas de reeleição
Quando tomar posse para um novo mandato em 2023 e olhar os seus 54 colegas deputados, Brito verá dois rostos conhecidos desde a década de 1990. Um deles é Aloísio Classmann — político com trajetória no PTB, mas que diante da crise do antigo partido migrou para o União Brasil.
Entre eleições em que exerceu o cargo como suplente e outras em que se elegeu titular, o político vai para o oitavo mandato em sequência na Assembleia. Parte das repetidas vitórias nas urnas passa pelo predomínio político nas regiões Celeiro e Noroeste.
— Atendo bem os prefeitos e as lideranças que vêm ao gabinete. E levo as demandas deles ao governo do Estado. Meu gabinete atende muita gente. E trabalho muito focado no agro — conta o deputado.
Nas áreas mais rurais, a manutenção do vínculo com as bases eleitorais ainda passa pela presença física do parlamentar. São áreas em que a política de internet é secundária.
Reeleito para o sétimo mandato em sequência, Frederico Antunes, do PP, estima ser o deputado gaúcho que mais quilômetros rodou ao longo de seus mandatos. Sua base eleitoral é em Uruguaiana, a mais de 600 quilômetros da Assembleia Legislativa. Para complicar, as demais cidades da Fronteira Oeste ficam distantes entre si.
— Sou um deputado bem distrital, muito identificado com uma região. Tenho votação nas cidades que represento. Tem essa situação geopolítica — conta o parlamentar, também identificado com pautas do agronegócio.
Parte dos eleitores de Antunes, inclusive, vive fora do Brasil, o que exige reuniões e articulações políticas com setores e partidos políticos uruguaios e argentinos.
— É muito parecido o jeito de fazer campanha nessa região hoje e no passado. Há hábitos e costumes históricos. Tenho gente que vota em mim no Uruguai e na Argentina — detalha.
Estadual sim, federal não
Uma consolidada trajetória como deputado estadual não garante passe livre para crescer eleitoralmente e se cacifar a deputado federal. Disputas internas nos partidos e o elevado custo de uma campanha para a Câmara, em Brasília, estão entre os motivos que mantêm os parlamentares focados na reeleição estadual.
— Eu prefiro, até agora, trabalhar pela minha região. E onde a gente não tem contatos é difícil fazer votos. Deputado estadual não tem recurso do fundão (fundo eleitoral distribuído pelos partidos). Não temos o recurso que eles (deputados federais) têm para a campanha — avalia Brito.
Já Antunes acrescenta o fato de que seus potenciais eleitores estão estabelecidos em grandes áreas rurais, que têm número reduzido de votantes:
— Tenho uma identidade de deputado estadual. Segundo: minha região é distante, com poucos votos, e disputar com quem já é deputado federal fica mais difícil.
Dos 55 deputados estaduais atuais, 31 conseguiram a reeleição e três foram eleitos deputados federais.
Recordistas de mandatos na Assembleia Legislativa
- Adolfo Brito (PP)
Eleito pela primeira vez em 1994, está no cargo de deputado estadual ininterruptamente desde 1995. Em 2022, foi reeleito para o oitavo mandato, com 28.115 votos.
- Aloísio Classmann (União Brasil)
Na primeira eleição para deputado estadual, em 1994, Classmann ficou como suplente. Em 1997, assumiu o mandato por conta do afastamento de Iradir Pietroski. Em todas as legislaturas, desde então, Classmann vem exercendo mandato. Em 2022, se reelegeu com 29.671 votos.
- Frederico Antunes (PP)
Eleito pela primeira vez em 1998, Antunes está no cargo desde 1999, sempre como titular. Em 2022, o deputado se reelegeu com 36.325 votos.