No discurso final da sua live de campanha, que teve duração de mais de quatro horas na noite de segunda-feira (26), o candidato à Presidência pelo PT, Luiz Inácio Lula da Silva, reforçou a necessidade de unir forças para combater o ódio e vencer o "inimigo comum" já no primeiro turno. A estratégia da campanha é justamente recorrer à ideia de preservar a democracia e os direitos da população como forma de atrair os indecisos e eleitores dos adversários, sem entrar em uma "guerra aberta" de esvaziamento de candidaturas como as de Ciro Gomes (PDT) e Simone Tebet (MDB).
Com apelo à pauta democrática, o ex-presidente afirmou que nestes poucos dias até as eleições, marcadas para o dia 2 de outubro, "é preciso trabalhar para conquistar os votos".
— Daqueles que amam a democracia. Digo sempre que a democracia não é um pacto de silêncio, ela é ruidosa, ela é barulhenta. Por que nela ecoa muitas vozes e é em defesa da democracia que tantas vozes estão hoje aqui reunidas neste palco — enfatizou. — Estamos há um passo da vitória em 2 de outubro. Falta um tiquinho, só um tiquinho.
Ele minimizou, sem mencionar os adversários, as críticas que enfrenta por realizar supostamente uma "ofensiva" para atrair os eleitores de outros candidatos.
— Todas as eleições que participei, eu tentei ganhar em primeiro turno (...) Não pensa que a gente gosta de ir para o segundo turno, a gente gosta de ganhar — disse.
Ainda na tentativa de conquistar diferentes forças para vencer o pleito no próximo dia 2 de outubro, o petista voltou a repetir a frase do filósofo Paulo Freire sobre "unir os divergentes para melhor enfrentar os antagônicos". Ele citou a aliança com o ex-governador Geraldo Alckmin (PSB), que era um adversário histórico, como exemplo claro da missão de "pacificar e reconstruir o Brasil".
— De lá para cá, esse movimento de união só fez crescer. No início, éramos apenas três partidos, hoje somos 10. Fomos ganhando cada vez mais adesões de outras forças políticas, inclusive ex-candidatos a presidente que, em algum momento, foram adversários do PT — afirmou.
O ex-presidente também criticou o atual governo de forma velada.
— Basta de tanto ódio, de tanta destruição, de tantas mentiras, de tanto sofrimento e de tantas mortes — disse. — O tempo do ódio, o tempo da guerra, o tempo da desordem e da desunião está chegando ao fim (...) Cabe a nós inaugurar um novo tempo. Tempo de paz, democracia, união, prosperidade, amor e esperança.
Centrão
Lula voltou a criticar os cortes do governo em programas como o Farmácia Popular e a falta de reajuste na verba para merenda escolar. Segundo o petista, os recursos são desviados para "alimentar o orçamento secreto do Centrão".
— Que estupidez é essa? Tanto esforço fizemos para criar um mínimo de decência para o povo pobre do país — comentou sobre os cortes.
Lula tem feito reiteradas críticas ao orçamento secreto, mecanismo utilizado pelo Executivo e revelado pelo Estadão para angariar apoio no Congresso. Na segunda-feira (26), ele voltou a dizer que é "uma excrescência a gente ter orçamento secreto em que os deputados é que ditam onde vai o dinheiro".
Se eleito, a governabilidade do petista se dará diante de um Centrão fortalecido e com maior autonomia sobre as contas públicas. Aliados do ex-presidente apostam nas ações que contestam o mecanismo no Supremo Tribunal Federal (STF) para garantir a inconstitucionalidade das emendas. Por este caminho, Lula evitaria desgaste com o Congresso.
Voltando a destacar sua gestão à frente do país, Lula afirmou que a atual situação econômica brasileira é " mais grave do que a que peguei em 2003". Segundo ele, sua principal razão para voltar a disputar o Executivo não é para governar o país, mas para "cuidar do povo brasileiro".
— Eu poderia não estar metido nessa briga política, eu poderia estar no bem bom só namorando — declarou.
Meio Ambiente
Lula também se comprometeu com a proteção da floresta Amazônica e com os biomas brasileiros. Segundo o petista, em uma eventual gestão, "não haverá garimpo ou qualquer atividade ilegal em área indígena".
De acordo com o ex-presidente, o Brasil "não precisa derrubar uma árvore" para garantir a produção de grãos no Brasil.
— Nós temos 30 milhões de hectares de pastos degradados nesse país. Basta que a gente tenha a competência de recuperar essa terra, a gente pode dobrar a nossa produção de grãos — disse.
Segundo o petista, manter uma árvore de pé "é tão importante quanto criar uma cabeça de gado". O discurso diverge de uma parte do agronegócio, que hoje apoia majoritariamente a reeleição do presidente Jair Bolsonaro (PL).
Apoio de celebridades
Durante todo o evento, além da apresentação de peças de campanha, relatos de apoiadores e apresentação de músicas ao vivo, o evento transmitiu vídeos de diversas celebridades nacionais e internacionais que reafirmaram seu apoio ao candidato. Lula disse que, nos 42 anos de PT, "nós nunca conseguimos fazer um evento dessa magnitude".
— Estou emocionado além daquilo que já me emocionei a vida inteira — definiu.
Os artistas Leandro de Oliveira, o Emicida, Gaby Amarantos, Ana Caetano e Vitória Falcão, Nando Reis, Martinho da Vila, Zeca Baleiro, além dos atores Vladimir Brichta, Marcelo Serrado e Miguel Falabella participaram do evento por meio de vídeos.
Os atores norte-americanos Danny Glover, Mark Ruffalo e o cantor e compositor Roger Waters também declararam apoio ao petista. Ruffalo destacou questões relacionadas à proteção da Amazônia, reforçando que Lula é o "líder mais bem posicionado" para garantir a proteção da floresta. Glover destacou o interesse "em defender a democracia no Brasil", e citou os ataques de Bolsonaro às urnas eletrônicas. O ator também comentou sobre a Amazônia.