Uma projeção com imagens gigantescas do presidente e candidato à reeleição Jair Bolsonaro (PL) na lateral do prédio da Organização das Nações Unidas (ONU), em Nova York, nos Estados Unidos, na madrugada desta terça-feira (20), trazia expressões como "Brazilian shame" (vergonha brasileira), "desgraça" e "mentira" nas quatro línguas oficiais da ONU — inglês, francês, espanhol e mandarim —, além do português. O presidente brasileiro fez o discurso de abertura da 77ª Assembleia Geral das Nações Unidas.
O protesto partiu da US Network for Democracy in Brazil (Rede nos Estados Unidos pela Democracia no Brasil), que reúne acadêmicos de mais de 50 universidades americanas, ativistas e organizações da sociedade civil, como a Coalizão Negra por Direitos e a Associação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib), entre outras. As informações são do jornal Folha de S. Paulo.
Segundo a organizadora nacional do US Network for Democracy in Brazil, Mariana Adams, as aparições internacionais de Bolsonaro "desmantelaram, de maneira sistemática, a imagem do Brasil no exterior, seja pela desastrosa política externa brasileira, seja pelas aparições internacionais que visam benefícios políticos eleitorais".
Ela usou como exemplo a passagem recente de Bolsonaro pelo Reino Unido. Segundo ela, durante as cerimônias solenes do funeral da rainha Elizabeth II, o brasileiro fez campanha eleitoral, discursando a apoiadores. Ela destacou que a organização é opositora ferrenha do governo "por todas as atrocidades que ele representa".
Mariana ainda disse que Bolsonaro "está apoiado em um sistema de fake news para avançar seu projeto pessoal de poder e de enriquecimento".
O grupo elaborou as peças e contratou um projetor capaz de lançá-las no prédio da ONU, a cerca de um quilômetro de distância. Mariana destacou que a ação busca que a "comunidade internacional e os brasileiros que vivem fora do país não sejam enganados pelas tentativas de legitimação que Bolsonaro faz de seu projeto, que não é de país".
Ela ainda afirma que os integrantes da rede atuam de forma voluntária e não são ligados a partidos políticos ou a ONGs. O grupo coletou fundos para a ação a partir da doação coletiva de seus membros. Ela classificou como "vergonhoso" o fato de ele usar instituições internacionais como "palanque".
Após o discurso na ONU, Bolsonaro almoçará em uma churrascaria brasileira, com apoiadores que viajaram em esquema de caravana de outras cidades americanas. É tradição do encontro que a fala do presidente brasileiro marque o início dos discursos dos líderes mundiais que comparecem a ONU.
A menos de duas semanas das eleições, o presidente passará menos de 24 horas em Nova York. Ele chegou à cidade pouco antes das 20h, no horário local (21h em Brasília), dessa segunda (19).
Repercussão internacional
A imprensa britânica repercutiu a viagem de Bolsonaro a Londres. Os jornais citaram o fato de o candidato à reeleição ter usado a viagem para o funeral da rainha Elizabeth II para fazer campanha.
O The Times afirmou que o presidente do Brasil usou a viagem para mostrar ao seu país quão caro é o combustível em Londres — ele gravou um vídeo mostrando o valor do litro de gasolina em um posto.
Já o The Guardian chamou o presidente de "populista da América do Sul". "Bolsonaro entrou imediatamente no modo de campanha, apesar do momento de luto", afirmou o jornal. A matéria do Independent afirmou que " o presidente do Brasil realizou um comício eleitoral improvisado, fazendo um discurso de campanha ao ar livre em Londres".