No momento em que é pressionado por uma campanha de voto útil no ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), o candidato do PDT à Presidência, Ciro Gomes, enfrenta uma crise no Estado do qual foi governador, o Ceará, onde brigou com o irmão Cid Gomes, e vê a candidatura de seu indicado para a disputa ao governo estadual definhar.
— Recebi uma facada poderosa nas costas. A traição é a cara do momento no Ceará. Resolvi não ir ao meu Estado pela primeira vez. Que o cearense diga lá o que quer fazer de mim — disse Ciro em recente entrevista ao site O Antagonista.
O rompimento de uma aliança de 16 anos entre o grupo de Ciro e o PT no Ceará dividiu a família Ferreira Gomes. Enquanto o candidato do PDT ao Palácio do Planalto ataca o PT, o senador Cid Gomes (PDT-CE) e o prefeito de Sobral, Ivo Gomes (PDT) - irmãos do ex- ministro -, evitam dar apoio a Roberto Cláudio (PDT), o candidato de Ciro ao governo, e fazem campanha para o petista Camilo Santana ao Senado.
Na tentativa de se reaproximar do PT, Cid afirmou que não vai declarar voto para governador.
— Vou me preservar no primeiro turno para tentar ser esse catalisador, o cupido da renovação dessa aliança — disse o senador, no início do mês, ao pedir votos para Ciro e Camilo Santana, em Sobral.
Cid está recluso e não participou nem mesmo da convenção do PDT que lançou a candidatura do irmão à sucessão de Jair Bolsonaro (PL).
Roberto Cláudio corre o risco de ficar fora do segundo turno, que deve ser disputado entre Elmano de Freitas (PT), candidato de Lula, e Capitão Wagner (União Brasil), nome avalizado por Bolsonaro.
A divisão tem atrapalhado também a candidatura de Ciro no seu Estado. Pesquisa Ipec divulgada na quinta-feira da semana passada indicou que o pedetista tem 10% das intenções de voto no Ceará. Ocupa o terceiro lugar no Estado onde construiu sua trajetória política, atrás de Lula (63%) e Bolsonaro (18%).
Nas três eleições presidenciais que disputou, Ciro sempre venceu em seu Estado. Em 1998 ele bateu, com 34,23% dos votos, Lula e Fernando Henrique Cardoso (PSDB), que foi eleito. Em 2002, venceu Lula e José Serra (PSDB), com 44,48% dos votos válidos. E superou Fernando Haddad (PT) e Bolsonaro em 2018, com 40,95%.
Divisão
Adversários políticos de Ciro duvidam, no entanto, que haja um rompimento na família. O ex-senador Eunício Oliveira (MDB-CE) vê o movimento como "jogo de cena" para garantir cargos, caso o PT ganhe o governo do Ceará.
— Eles não brigam entre eles, não. Eles querem uma boquinha porque perderam o Brasil. O Ciro destruiu tudo, ninguém pode ser ministro de um nem de outro — afirmou Eunício, em referência a Lula e a Bolsonaro.
O presidente do PDT, Carlos Lupi, disse à reportagem que Cid tem evitado seus contatos.
— Não falo com ele há um bom tempo. Ele se licenciou do Senado. Logo no comecinho (do período eleitoral), liguei para ele e não respondeu. Não voltei a falar.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.