Afastado da comissão militar de fiscalização das urnas eletrônicas por determinação do ministro Edson Fachin, presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), o coronel Ricardo Sant'Ana é formado em Engenharia de Telecomunicações pelo Instituto Militar de Engenharia (IME) e especialista em defesa a ataques cibernéticos. No espectro político, ele é um crítico ferrenho ao Partido dos Trabalhadores (PT) e reproduz o discurso do presidente Jair Bolsonaro (PL) sobre a falsa inconfiabilidade do sistema de votação.
Sant'Ana é chefe da Divisão de Sistemas de Segurança e Cibernética da Informação no Exército, de acordo com seu perfil no LinkedIn. Segundo o currículo do coronel na plataforma Lattes, ele possui mestrado em Engenharia Elétrica e doutorado em machine learning aplicado à análise de malware, ambos pelo Instituto Militar de Engenharia (IME). Sant'Ana também tem uma especialização em andamento sobre criptografia e segurança de redes pela Universidade Federal Fluminense (UFF). O coronel é especialista, ainda, em linguagens de programação, processamento de voz e arquitetura de sistemas.
O ministro Fachin enviou ofício ao ministro da defesa, Paulo Sérgio Nogueira, comunicando o descredenciamento de Sant'Ana como representante da pasta na fiscalização das eleições. O magistrado argumentou ser imprescindível a "isenção dos que se arvoram como fiscalizadores".
Em nota, o Ministério da Defesa afirma que "o trabalho da equipe das Forças Armadas no âmbito da fiscalização do sistema eletrônico de votação é técnico e realizado de forma coletiva por seus integrantes, além de ser estritamente institucional", e ressalta que "não há interferência das posições pessoais dos integrantes no trabalho da equipe". Em outro trecho do comunicado, diz que "já no fim de semana passado o Exército havia decidido selecionar um novo integrante para a equipe em substituição ao atual. Assim que a seleção estiver concluída, o TSE será informado a respeito".
A informação sobre as manifestações em redes sociais do coronel foi revelada pelo portal Metrópoles, na coluna do jornalista Rodrigo Rangel. De acordo com o colunista, o coronel usava seus perfis nas redes sociais para disseminar desinformação sobre as urnas e desacreditar a segurança do sistema eletrônico, do qual ele seria fiscalizador, em linha com o discurso adotado pelo presidente Bolsonaro. Após a revelação, a conta do militar foi excluída da plataforma onde ele fazia essas publicações.
Em uma das postagens, o oficial comparou a segurança dos dispositivos eletrônicos de votação com uma loteria e ainda escreveu que "nenhum país desenvolvido adotou este sistema". Além do Brasil, nações como França e Estados Unidos também utilizam urnas eletrônicas. O processo eleitoral brasileiro é reconhecido internacionalmente como um dos mais seguros e confiáveis do mundo.
O coronel também costumava compartilhar publicações de páginas bolsonaristas e fazer críticas contundentes ao PT. Em uma publicação compartilhada por Sant'Ana, a frase em destaque é "votar no PT é exercer o direito de ser idiota". Contudo, o documento encaminhado por Fachin não foca na questão política, somente no fato de o militar compartilhar fake news sobre as urnas.
"A posição de avaliador da conformidade de sistemas e equipamentos não deve ser ocupada por aqueles que negam prima facie o sistema eleitoral brasileiro e circulam desinformação a seu respeito. Tais condutas, para além de sofrer reprimendas normativas, têm sido coibidas pelo TSE através de reiterados precedentes jurisprudenciais", diz o documento.