A média de idade de candidatos do Rio Grande do Sul aos cargos de deputado estadual, federal, senador e governador nas eleições de 2022 é de 51,6 anos, a maior em 20 anos, mostram estatísticas do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) analisadas nesta quinta-feira (18).
Nas últimas eleições gerais, em 2018, quando brasileiros escolheram ser representados por novos nomes em meio ao cansaço da política tradicional após a Lava-Jato, candidatos tinham uma média de idade de 46,3 anos — a mais baixa desde 2002. O pleito passado foi marcado por uma Câmara com renovação recorde de quase 50% e pela chegada ao poder dos chamados outsiders — sem experiência na política partidária.
Mas a tendência de ascensão de outsiders pode ter perdido força. Doutor em Sociologia Política e professor na Escola de Humanidades da Universidade do Vale do Rio do Sinos (Unisinos), Carlos Gadea pontua que, após o desejo de renovação de 2018, as eleições de 2022 podem marcar o retorno com força dos políticos de carreira.
A maior média de idade não necessariamente está relacionada a um perfil de candidatos mais conservador, acrescenta Gadea. Mesmo partidos de esquerda lançaram, em 2022, nomes mais velhos. Além disso, em 2018, a despeito de a Câmara dos Deputados ter sido renovada em quase 50% com candidatos de menor idade, o perfil dos eleitos era mais conservador.
— O cenário agora se tranquilizou. Os partidos com avanço de idade mais significativo são de centro-direita, que foram aqueles que levaram à juvenilização da política em 2018, quando houve uma presença maciça da juventude movida por um antipetismo. O que passa em 2022: atores dos velhos setores da direita e da centro-direita começaram a preencher espaços que haviam perdido em 2018. Jovens estão recuando, mas não só na direita. Na ausência de referências, busca-se um Olívio Dutra (candidato a senador), que estava dormindo em casa tranquilo — diz Gadea.
Visão semelhante foi compartilhada pelo economista e advogado Bruno Carazza, autor do livro Dinheiro, Eleições e Poder: As Engrenagens do Sistema Político Brasileiro, em entrevista ao caderno DOC de ZH em julho:
— Com a ampliação do fundo eleitoral e o fortalecimento do centrão, a tendência é de que os velhos métodos da política estejam de volta. Haverá um peso grande do financiamento público, das dobradinhas e das articulações internas. Já se observou essa tendência na janela eleitoral, quando houve fortalecimento muito grande dos partidos do centrão que estão na base do Bolsonaro, como PL, PP e Republicanos. Também se nota uma aglutinação dos partidos de esquerda junto à candidatura de Lula. A velha política tradicional está voltando a dar as cartas — afirmou Carazza, na ocasião.
Professora de Política Brasileira e Relações Internacionais na Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM), Ana Simão diz que o aumento na média de idade de candidatos pode também estar ligado à dificuldade das siglas em fomentar novos líderes.
— Partidos precisam formar novas lideranças, mas isso não está se concretizando, então lançam quadros clássicos, com inserção consolidada. Olha o Olívio Dutra, um dos quadros mais clássicos do PT no Estado. Veja os candidatos ao Senado, todos muito experientes — diz a historiadora.
Na média, candidatos do Rio Grande do Sul ao Senado são os mais velhos, enquanto concorrentes ao cargo de deputado federal são os mais jovens. A diferença na média de idade entre os concorrentes das duas posições supera os 15 anos. A Constituição estabelece que candidatos devem ter, no mínimo, 35 anos para o cargo de senador, 30 anos para governador e 21 anos para deputado federal ou estadual.
Henrique de Castro, professor de Ciência Política e de Relações Internacionais na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), lembra que o Senado é, tradicionalmente, a casa de políticos mais experientes, próximos à aposentadoria, mas que o Brasil costuma eleger parlamentares mais velhos.
— O ideal é que houvesse, na oferta e na eleição, uma variabilidade de idades e que tivéssemos políticos experientes convivendo com novatos para haver um aprendizado geracional. No Brasil, isso acontece pouco. Outros países se organizam assim: os Estados Unidos têm essa possibilidade de convivência intergeracional, até porque deputados são eleitos a cada dois anos — diz de Castro.
O candidato mais jovem do Rio Grande do Sul é Weslei Oléa, 21 anos. Ele é de Canoas e pleiteia o cargo de deputado federal pelo Avante. Já o nome mais velho na disputa é Ruy Almeida Irigaray, 86 anos. Ele é de Rosário do Sul e busca ser eleito deputado estadual pelo União Brasil.
Partidos também trazem diferenças na média de seus candidatos. Em solo gaúcho, o União Brasil tem candidatos com a média de idade mais alta, de 52,8 anos. Na outra ponta, a Unidade Popular (UP), sigla de esquerda registrada em 2019, tem candidatos com média de 32,5 anos — diferença de mais de 20 anos entre os nomes oferecidos aos eleitores gaúchos.
Henrique de Castro destaca que partidos mais estabilizados costumam ter políticos mais experientes porque seus membros envelhecem enquanto atuam em cargos públicos. Já siglas mais novas reúnem candidatos mais jovens, sem experiência no poder.
— À medida que partidos se estabilizam e se tornam competitivos eleitoralmente, seus membros vão envelhecendo. Essas pessoas mais velhas se tornam candidatas fortes. Claro que, no PT, você encontra candidatos de 20 e poucos anos, mas existe uma elite já consolidada ao longo de décadas. A UP, se colocar como partido viável eleitoralmente, terá uma mudança na idade — acrescenta o professor da UFRGS.