O número de candidatos que trabalham em profissões da área da segurança cresceu 28% no Rio Grande do Sul entre as eleições de 2018 e as de 2022, mostram estatísticas do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) analisadas por GZH.
No período, passou de 50 para 64 o número de concorrentes que informaram ao TSE trabalhar como policial militar, policial civil, militar reformado, membro das Forças Armadas, bombeiro militar ou vigilante. Como as profissões são autodeclaradas pelos candidatos, o levantamento pode não incluir servidores da segurança já eleitos e que informaram o cargo público como profissão, por exemplo.
Em 2022, o grupo de profissionais da segurança disputará com quase 1,4 mil nomes uma vaga para deputado estadual, deputado federal, senador e governador.
A categoria que mais cresceu nestas eleições foi a de policiais militares — o número de candidatos mais do que dobrou de 2018 para 2022. Brigadianos, aliás, entraram no ranking das 10 profissões mais comuns entre candidatos no lugar de professores do Ensino Fundamental (veja abaixo).
Analistas salientam que candidatos da área da segurança têm maior apelo para eleitores sensíveis à violência urbana e também para aqueles mais à direita. Lembram, ainda, que o presidente Jair Bolsonaro e o vice-presidente Hamilton Mourão têm carreira militar e que o chefe do Executivo constantemente valoriza as Forças Armadas e as policiais em suas declarações.
Cientista político e professor na Escola de Humanidades da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS), Augusto de Oliveira lembra que profissionais da segurança, após terem sido eleitos em 2018 na esteira da Lava-Jato e do combate à corrupção, consolidaram inserção política e ganharam visibilidade entre eleitores e partidos.
— Ser um policial na sociedade talvez não fosse importante há 10 anos, mas hoje é. Com a maior presença de militares no governo, essas profissões da segurança ganham visibilidade, o que permite a esses profissionais reconverter o capital profissional em capital político — reflete Oliveira.
Professora da Ciência Política na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Silvana Krause destaca que partidos de direita costumam concentrar nomes da segurança. Segundo dados do TSE, Republicanos, Podemos, Avante, Patriota, PL, PSC e PTB são as siglas que mais abrigam candidatos da área.
— O que cresceu significativamente foi uma área específica da segurança: a de policial militar. A segurança tem sido um tema muito pertinente não só nesta eleição, mas em eleições anteriores. A tendência é de candidatos que mobilizam um eleitorado muito específico, que defende o armamento e a necessidade de maior rigidez no tratamento à violência urbana — diz Krause.
O número de candidatos da segurança no RS é o maior desde 2002, segundo dados do TSE. Naquele ano, também foram 64 concorrentes que atuam na área — mesma quantidade do pleito de 2022.
Segurança em baixa
A despeito do aumento de candidatos da área da segurança, cientistas políticos pontuam que a segurança não é, nas eleições de 2022, a prioridade de eleitores. Pesquisa do Datafolha de março indicou que saúde e economia são, neste ano, as principais preocupações de brasileiros — resultado de um país em ressaca por conta da pandemia de coronavírus. Se 22% dos entrevistados afirmaram ter o principal foco na saúde, apenas 3% alegaram pensar na segurança em primeiro lugar.
— As pessoas estão preocupadas com a crise econômica da covid, desemprego e inflação. O tema da economia será forte, o que ajuda o candidato do PT, porque esse é o discurso de políticas sociais da esquerda. Não é um agenda favorável ao Bolsonaro, que tentará fazer as prioridades se inverterem e tentará arrastar a discussão para o campo da moral, dos costumes e da corrupção. Enquanto isso, o PT tentará manter a economia como foco de prioridade das atenções. Um discurso favorável ao moralismo conservador pega forte no bloco religioso e um bloco de direita da sociedade, que apoia soluções militares — avalia o cientista político Paulo Peres, professor de Ciência Política na UFRGS.
Os dados ainda indicam que as profissões mais comuns entre candidatos são a de empresário, advogado, vereador, deputado e administrador, uma constante entre a eleição atual e a anterior.
Peres lembra que o protagonismo de empresários entre as candidaturas é influenciado pela proibição, a partir de 2015, da doação de empresas para campanhas políticas. A legislação, todavia, permite que empresários se autofinanciem — o empresário e ex-governador de São Paulo João Doria (PSDB), por exemplo, investiu R$ 1,6 milhão do próprio bolso na campanha que o levou ao Palácio dos Bandeirantes.
O cientista político da UFRGS ainda destaca que, em meados dos anos 1990, profissionais liberais, trabalhadores e integrantes do movimento sindical começaram a perder espaço em cargos públicos para dar lugar a empresários, interessados em defender os próprios interesses.
— Candidaturas eram geralmente patrocinadas por empresários, mas muitos decidiram deixar de ser patrocinadores para serem políticos. Assim, é mais garantida a defesa dos seus interesses do que deixar a atuação política para os patrocinados, que precisam equilibrar a pressão do grupo de apoio com a pressão do eleitorado. Depois, nos anos 2000, surgiram mais representações religiosas e das forças de segurança. Não é a toa que, entre 2012 e 2018, houve grande crescimento da força da bancada do Boi, Bala e Bíblia — acrescenta Peres.