Se as direções do MDB e do PTB conversam sobre uma possível aliança de última hora em torno da candidatura de Sebastião Melo (MDB) à prefeitura de Porto Alegre, os indícios emitidos por José Fortunati, candidato do PTB na disputa, e pela sua esposa, Regina Becker, são de que isso não ocorrerá sem muita resistência e mágoa.
A possibilidade de o PTB apoiar Melo e levar a uma renúncia de Fortunati é aventada desde a tarde de segunda-feira (9), quando o Tribunal Regional Eleitoral (TRE) indeferiu a candidatura do vice da chapa petebista, André Cecchini (Patriota). Como não há mais tempo legal para a substituição de Cecchini, os votos em Fortunati poderão ser anulados futuramente.
Assim como Fortunati, Regina afirmou, nesta terça-feira (10), que ela e o marido são contrários à renúncia. A decisão deles é por usar todos os instrumentos jurídicos possíveis — um embargo declaratório deve ser apresentado ao TRE nas próximas horas.
— Não sou favorável à renúncia, e ele (Fortunati) também não é. Vamos buscar todos os instrumentos jurídicos para a manutenção da candidatura — assegurou Regina, igualmente filiada ao PTB e secretária estadual de Trabalho e Assistência Social.
A petebista, primeira-dama de Porto Alegre entre 2010 e 2016, atribui à candidatura de Melo o recurso judicial que levou à impugnação do vice de Fortunati. Quem moveu o questionamento foi um candidato a vereador do PRTB, sigla que apoia o emedebista na disputa à prefeitura.
— Temos essa vivência de campanha e estávamos percebendo uma adesão ao nome do Fortunati, dentro dessa disputa muito acirrada. Alguém tentaria tirar do páreo, mas não esperávamos que isso contasse com o apoio da candidatura do Melo. Desde ontem estamos recebendo mensagens dizendo que, agora, a única forma de vencer a Manuela(D’Ávila, candidata do PCdoB) é com o Melo. Não é ético isso — diz Regina.
A tensão nos bastidores fica mais evidente em outro comentário da petebista sobre Melo, que foi vice-prefeito de Fortunati entre 2013 e 2016.
— Sermos atacados pelo Melo agora, alguém que já esteve junto com o Fortunati e sabe da seriedade dele, é algo que causa certa tristeza para nós — avaliou.
Até antes do imbróglio, Fortunati mantinha chances de ir para o segundo turno na votação do próximo domingo (15), em uma disputa que se mostra voto a voto com Melo e o atual prefeito Nelson Marchezan (PSDB). As pesquisas indicam que somente um dos três deverá passar ao segundo turno para enfrentar Manuela.
Nos bastidores, a avaliação é de que o PTB não tem chance de apoiar Marchezan pelos atritos que ocorreram nos últimos quatro anos, período em que a sigla apoiou o prefeito e integrou a gestão em cargos de primeiro escalão. Restaria, então, manter a candidatura de Fortunati mesmo com os riscos jurídicos — e os impactos eleitorais disso — ou apoiar Melo.
O candidato emedebista nega qualquer interferência e diz que não emitirá opinião sobre o assunto. Melo conversou com Fortunati por telefone na tarde de segunda, mas assegura que se tratou apenas de “prestar solidariedade”.
— Não me cabe nenhuma manifestação, seria uma grosseria da minha parte emitir juízo. É uma decisão da coligação e também não deleguei ninguém para conversar sobre isso — disse Melo.