No ano em que Wilson Capaverde nasceu, o Brasil tinha pouco mais de 30 milhões de habitantes, o dinheiro era contado em mil réis, Washington Luís mandava no país e Borges de Medeiros governava o Rio Grande do Sul. As mulheres brasileiras ainda não votavam.
Nove moedas e 27 presidentes depois, o funcionário público aposentado, agricultor e pecuarista nascido em 1927 se diz cheio de energia para buscar um mandato na Câmara de Vereadores de Capela de Santana, no Vale do Caí, como o candidato mais idoso da atual eleição no Estado.
A pergunta sobre se ainda tem saúde e força para fazer campanha e, caso eleito, enfrentar a lida política diária parece não fazer muito sentido para Capaverde. "Por que não teria?", devolve. Afinal, aos 92 anos e prestes a comemorar mais um aniversário em novembro, o ex-vereador e ex-prefeito segue trabalhando no sítio onde cultiva hortas e mantém criações de gado e galinha. Cuida dos bichos, conserta e constrói cercas, entre outras tarefas pesadas do mundo rural.
— Às vezes alguém passa pela estrada ao lado do sítio, me vê trabalhando e me manda descansar. Mas eu me sinto bem — garante o veterano político.
Há pouco mais de 15 dias, sofreu um duro golpe ao saber que seu único filho morreu aos 45 anos em razão de um infarto, em Fortaleza, no Ceará. Mas nem assim cogitou desistir da candidatura a uma cadeira na Câmara pelo PTB.
— Foi uma tragédia, mas não pensei em parar. Considero que tenho um compromisso com o país, o Estado e o município. Enquanto eu puder, vou tentar contribuir. Comecei ainda criança, distribuindo santinho com meu pai, que era udenista (da antiga União Democrática Nacional, UDN), e isso me inspirou pela vida toda — argumenta.
Concorreu pela primeira vez ainda nos anos 1950. Foi vereador em Sapiranga e em Capela de Santana, onde também atuou como prefeito por duas vezes. Na disputa municipal de 2016, buscou vaga como vice-prefeito, mas acabou derrotado.
Perguntado sobre se sua esposa não preferia que ele ficasse em casa, a resposta vem acompanhada de uma risada:
— De jeito nenhum. Ela é a minha principal auxiliar. Me dá apoio em tudo — explica.
Caso ganhe assento na Câmara da cidade de 11,9 mil habitantes, Capaverde conta ter um projeto pessoal para tocar além das bandeiras de saúde e educação:
— Se me eleger, teria 97 anos ao final do mandato. Terei muito a agradecer se chegar lá.