Devido a pandemia causada pelo coronavírus, a Rede Globo anunciou que as entrevistas em estúdio com candidatos às eleições 2020 foram canceladas. Em um comunicado oficial, divulgado nesta segunda-feira (21) pela direção de Jornalismo da Globo, a emissora também propôs alteração na composição do debate de primeiro turno. As medidas servem para minimizar a chance de propagação da doença, protegendo candidatos e funcionários do canal, e evitar aglomerações.
A proposta da emissora para os debates do primeiro turno é que participem do evento apenas os quatro mais bem colocados candidatos na pesquisa eleitoral mais recente (feita por Ibope ou Datafolha). Conforme a emissora, o modelo só será colocado em prática se houver acordo entre os partidos.
Um dos motivos que levaram a TV a propor a mudança é o "elevado número de candidatos a prefeito em quase todas as cidades, como Rio de Janeiro, São Paulo e Belo Horizonte, para citar apenas três, com dez ou mais candidatos", o que "impõe grandes desafios", diz a Globo em nota.
"Para se ter uma ideia, com dez candidatos, considerando que cada um possa ser acompanhado de apenas dois assessores (no passado esse número era superior a dez), haveria 30 pessoas ligadas às campanhas no estúdio num debate de primeiro turno. Acrescentando a equipe da Globo minimamente necessária para realizar o evento com qualidade, esse número supera 200 pessoas, incluindo jornalistas, câmeras, produtores, profissionais da sala de controle técnico, tecnologia, comunicação, operações e segurança (num debate normal, com plateia e convidados, é o dobro disso). Não há protocolo sanitário que garanta a saúde aos profissionais da Globo e aos candidatos", pontua.
Além disso, a emissora afirma que a "severidade da legislação eleitoral não permite que a Globo possa exigir que sejam cumpridas as medidas de precaução", como a realização de certo número de testes necessários anteriores ao debate, respeito aos espaços delimitados pelos painéis de acrílico, posicionamento no estúdio e o uso de máscara o tempo todo por assessores.
"(A legislação) Também não permite que o candidato seja impedido de participar do debate ou dele afastado caso não cumpra as medidas. Isso é grave. Recente ato oficial em Brasília mostrou que, mesmo medidas de precaução, como painéis de acrílico separando autoridades, uso de máscaras e presença limitada a um mínimo, não evitaram que um surto fosse atribuído ao evento", afirma.
A alternativa de fazer um debate de forma remota não é possível, na avaliação da empresa.
"Os candidatos precisam ser tratados de forma equânime e ter as mesmas condições, e o público precisa perceber isso. Um candidato pode injustamente ser acusado de estar com ponto eletrônico, de estar recebendo ajuda de assessores, por exemplo. A transmissão pode cair num momento importante do debate, e a Globo ser injustamente acusada de ser a culpada ou, da mesma forma, e também de forma injusta, o candidato ou sua campanha serem acusados de terem provocado a interrupção para fugir de um momento difícil."
Portanto, a empresa afirma que só fará os debates de primeiro turno se houver acordo entre os partidos para que apenas os quatro mais bem colocados participem.
"A Globo vai lutar por esse acordo", diz a nota.
As medidas são válidas para todas as quatro emissoras Globo (Rio de Janeiro, São Paulo, Belo Horizonte e Recife onde há eleições) e recomendadas a todas as suas afiliadas, que seguem o mesmo protocolo, segundo a emissora.
Entrevistas com candidatos em estúdio não serão feitas
Pelos mesmos motivos, as entrevistas em estúdio com os candidatos também não serão feitas.
"A característica dessas entrevistas é terem tempos iguais para todos e mesmo grau de dificuldade. São feitas em muitos dias consecutivos, com os candidatos sentados próximos dos entrevistadores e dos câmeras. E os candidatos comparecem a elas com assessores. É impossível conhecer o nível de exposição de candidatos ao vírus durante uma campanha. Não se pode garantir como interagem com os eleitores nas ruas."
Segundo o texto, os estúdios da Globo são "ambientes altamente controlados para evitar contágio de seus profissionais" e o "risco de submeter suas equipes ao coronavírus por dias seguidos de contatos com candidatos em permanente exposição às ruas é muito alto". Promover a entrevista de maneira remota também não é possível, pelos mesmos motivos citados anteriormente, segundo a TV.
No comunicado, a Globo promete também uma cobertura das eleições "ainda mais extensa que em anos anteriores, com assuntos temáticos, abordando com mais intensidade aqueles de maior interesse do público revelados por pesquisas".
"O jornalismo fará o que tem feito ao longo de toda essa pandemia: oferecer informação de qualidade, mas seguindo todos os protocolos sanitários. E precisa dar o exemplo. Não pode cobrar dos outros o que não faz para si", finaliza a emissora.