Os homens e mulheres que concorrerão a prefeito e vereador na eleição deste ano têm um inimigo incomum, invisível a olho nu: o coronavírus, que desde janeiro vem transtornando a vida em todo o planeta. O adiamento da votação por um mês e meio não foi suficiente para atenuar os problemas que esperam os candidatos. Os percalços começam na formação das alianças, pela dificuldade em realizar encontros presenciais e discutir as bases de um acordo não só para vencer a eleição, mas para governar depois.
Mesmo com o distanciamento social, dirigentes partidários vêm se reunindo presencialmente para costurar alianças, temerosos de que conversas virtuais vazem para os concorrentes. Até entre líderes do mesmo partido o diálogo foi prejudicado pela pandemia.
Um dos mais experientes dirigentes do Estado, o presidente do PP, Celso Bernardi, diz que está sendo a eleição mais difícil de todos os tempos. De dois em dois anos, Bernardi percorre milhares de quilômetros na fase pré-eleitoral, organizando a eleição. Agora, sofre com as restrições, mas volta e meia quebra a quarentena imposta a quem é do grupo de risco para tratar pessoalmente de alianças em cidades estratégicas:
— Antes eu chegava a jantar três vezes nesta época do ano, porque era uma reunião atrás da outra. Agora ficou difícil.
Na sede do PP, na Praça da Matriz, a sala de reuniões foi adaptada para garantir o distanciamento nos encontros presenciais. Máscara e álcool gel passaram a ser tão essenciais quanto a caneta com a qual se rascunham acordos.
O entra e sai é constante nos diretórios dos partidos, nos gabinetes dos deputados e nos escritórios políticos. Trabalhando em modo remoto na Câmara, na Assembleia e no Senado, deputados e senadores são sujeitos ativos na eleição municipal, já que prefeitos e vereadores serão os principais cabos eleitorais da disputa de 2022.
Historicamente, PP e MDB disputam o título de partido com o maior número de prefeitos e vereadores e se alternam na liderança no Rio Grande do Sul.
O presidente do MDB, Alceu Moreira, padece das mesmas dificuldades de Bernardi. Acostumado a varrer o Estado de ponta a ponta, Alceu está com os movimentos engessados. A sede do partido, na Rua dos Andradas, é o centro nervoso das conversas pessoais, mas Alceu foi obrigado a se adaptar às videoconferências.
— A eleição municipal é a eleição do contato direto com o eleitor. Como isso não será possível, teremos de reinventar o jeito de fazer campanha e apostar nas redes sociais.
Políticos experientes sabem que as redes sociais são limitadas e, se mal utilizadas, podem afugentar o eleitor. Quem não se irrita com longos áudios, vídeos pesados e mensagens repetitivas, que enchem a memória do celular?
A falta do corpo a corpo não é o único problema. O financiamento da campanha é preocupação para a maioria dos candidatos, que contam mesmo com o fundo eleitoral. Além das restrições da Lei Eleitoral, que proíbe doações de empresas, as contribuições de pessoas físicas tendem a minguar com a crise, já que ela atinge também os empresários.
Tradicionais financiadores de campanha, que apostavam em mais de um candidato, para ficar bem com o vencedor, desta vez deverão escolher um e deixar os outros a ver navios. O trabalho dos militantes e dos cabos eleitorais pagos também será restrito pela pandemia.
A necessidade de distanciamento vai impactar até na realização de debates, que tendem a ser virtuais. Em cidades que não têm emissora de TV, a comunicação ficará ainda mais limitada. O rádio será o principal veículo nos municípios menores.
Para complicar a situação dos candidatos a prefeito, neste ano estão proibidas as coligações para vereador. Cada partido terá de contar apenas com as próprias forças para formar bancada. Os candidatos ao Legislativo terão de dar prioridade às próprias campanhas. Quando seu partido faz aliança com outro candidato a prefeito, o número de maior visibilidade pode ser o do adversário na eleição para a Câmara naquele reduto.
Por fim, há outra preocupação comum a todos os partidos: a previsão de abstenção recorde, por medo dos eleitores, sobretudo os mais velhos, de saírem para votar e acabarem se contaminando.
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