A campanha do deputado federal Jair Bolsonaro (PSL) à Presidência novamente precisou lidar com declarações polêmicas de membros de sua cúpula neste fim de semana, quando veio à tona um vídeo em que Eduardo Bolsonaro, filho do candidato e deputado federal eleito, fala que "se quiser fechar o STF, não manda nem um jipe, manda um soldado e um cabo".
Em um movimento que já havia acontecido anteriormente em resposta a Paulo Guedes, seu provável ministro da Fazenda, e ao general Hamilton Mourão, seu candidato a vice, Bolsonaro precisou desmentir as declarações do filho. A jornalistas, o presidenciável disse que a fala de Eduardo havia sido tirado do contexto e que, "se alguém falou em fechar o STF, precisa de um psiquiatra".
Os episódios mais marcantes de desencontros entre Bolsonaro e sua equipe se deram no caso das "jabuticabas brasileiras", quando Mourão criticou direitos trabalhistas que "só existem no Brasil", e da "nova CPMF", quando Guedes sugeriu a empresários a criação de um imposto nos moldes do extinto tributo sobre movimentações financeiras. Os desmentidos incluem também declarações feitas pelo próprio candidato em relação a uma possível saída da ONU e à descrença em relação ao resultado do pleito.
Um soldado e um cabo
No último fim de semana antes do segundo turno, as redes sociais trouxeram à tona um vídeo de Eduardo Bolsonaro gravado em julho, antes do primeiro turno. Em um evento para concurseiros, o filho do presidenciável responde a uma pergunta de um militar, que questiona o que seria feito caso o STF barrasse a posse de Jair Bolsonaro. Eduardo, que foi reeleito deputado federal por São Paulo com votação recorde, responde que, caso isso acontecesse, a situação estaria "caminhando para um estado de exceção".
— Eu não acho isso improvável, não. Mas aí vai ter que pagar para ver. Será que eles vão ter essa força mesmo? O pessoal até brinca lá: se quiser fechar o STF, sabe o que você faz? Você não manda nem um jipe. Manda um soldado e um cabo — responde Eduardo, antes de argumentar que, "se você prender um ministro do STF, vai ter uma manifestação popular na rua a favor do STF? Milhões na rua dizendo solta o Gilmar?".
Em entrevista coletiva na tarde de domingo (21), Jair Bolsonaro afirmou desconhecer o vídeo. Disse ainda que quem quer fechar o STF "precisa consultar um psiquiatra".
— Isso não existe, falar em fechar o STF. Se alguém falou em fechar o STF precisa consultar um psiquiatra (...) Desconheço esse vídeo. Duvido. Alguém tirou de contexto — afirmou.
Jabuticabas brasileiras
O primeiro e talvez mais marcante desencontro entre Bolsonaro e alguém de sua equipe se deu com o general Hamilton Mourão, candidato a vice em sua chapa. Em uma palestra para lojistas em Uruguaiana, na fronteira oeste gaúcha, em setembro, o general criticou o que chamou de "jabuticabas brasileiras", ou direitos exclusivamente brasileiros: o 13º salário – "uma mochila nas costas de todo empresário brasileiro" e o abono salarial de férias – "o Brasil é o único lugar que a gente, quando entra em férias, ganha mais". As declarações foram prontamente negadas pelo próprio Mourão, segundo quem as falas foram tiradas de contexto, e repudiadas pelo presidenciável, que chamou a fala de "uma ofensa a quem trabalha".
" O 13° salário do trabalhador está previsto no art. 7° da Constituição em capítulo das cláusulas pétreas (não passível de ser suprimido sequer por proposta de emenda à Constituição). Criticá-lo, além de uma ofensa à quem trabalha, confessa desconhecer a Constituição", escreveu Bolsonaro em seu Twitter, em publicação que antecipou um afastamento do vice de atividades de campanha.
Nova CPMF
O guru econômico de Bolsonaro, considerado pelo presidenciável o "posto Ipiranga" da campanha, Paulo Guedes também se viu envolto em polêmica ao defender, em encontro restrito realizado em setembro, a recriação de um imposto sobre a movimentação financeira, nos moldes da CPMF. Com uma campanha que aposta no discurso de redução de tributos, Bolsonaro precisou ir às redes sociais e classificar o assunto como "notícia mal-intencionada".
"Ignorem essas notícias mal-intencionadas dizendo que pretendemos recriar a CPMF. Não procede", afirmou. "Querem criar pânico pois estão em pânico com nossa chance de vitória. Ninguém aguenta mais impostos, temos consciência disso. Boa noite a todos!", escreveu o líder nas pesquisas. Recentemente, Guedes afirmou que o episódio foi um "equívoco enorme" e que a proposta foi transformada em algo contrário ao que prega.