O triunfo de Jair Bolsonaro (PSL) na eleição à Presidência da República do Brasil é um fenômeno complexo. Produto de fatores internos e externos, a vitória do candidato de extrema-direita perpassa pautas econômicas, políticas, morais, culturais e religiosas e finda a polarização entre PT e PSDB, reinante no país desde o início dos anos 1990.
Confira a seguir oito fatores que contribuíram para a vitória do ex-capitão do Exército.
1) Os protestos de junho de 2013 deram a largada para a corrosão e a descrença dos partidos tradicionais e das instituições. Também surgiram organizações de direita e de extrema-direita que viriam a crescer e ganhar protagonismo. Eclodiu o ressentimento social e a base para o discurso moralista.
2) Em 2014, o avanço da operação Lava-Jato desmoralizou o PT e grande parte da classe política por conta dos casos de corrupção na Petrobras. No final do mesmo ano, a crise econômica abateu fortemente o país, criando uma massa de desempregados e recessão.
3) Setores das esquerdas, ao cometerem supostos excessos nas pautas identitárias, acabaram chocando parte da população, causando reações extremas rumo ao conservadorismo. Houve afastamento do discurso da esquerda em relação às expectativas mais prementes das massas populares.
4) O desgaste da política, das siglas tradicionais e a crise econômica criaram terreno para o surgimento de um "outsider", posto no qual Bolsonaro se encaixou, apesar de somar quase três décadas de mandato na Câmara.
5) A retórica de Bolsonaro, direta, simplista e, por vezes, chula, foi compreendida pelo homem comum. Seja na guerra cultural ou na segurança pública, ele conseguiu captar e amplificar através de sua voz o sentimento do eleitor médio.
6) Jair Bolsonaro usou como nenhum outro político os dispositivos modernos de comunicação digital e direta com o eleitor, sem filtros ou mediações. Sua campanha trabalhou a distribuição de mensagens via WhatsApp em larga escala e, agora, está sob investigação porque teria violado regras e supostamente teria recebido o financiamento de empresários para a disseminação massiva de conteúdos — parte deles falsos —, o que é vedado.
7) A onda de extrema-direita mundial também ajudou Bolsonaro. Embora guardem características distintas, movimentos semelhantes ao do Brasil, vitoriosos ou não, já foram verificados nos Estados Unidos, na Polônia, na Hungria, na Suécia, na França e na Holanda.
8) O atentado a faca sofrido durante a campanha, embora seja um drama pessoal terrível, também é apontado como um fator que ajudou a reforçar a aura de "mito" em torno de Bolsonaro, além de ter servido como argumento para ele se ausentar de debates eleitorais.