São cinco anos de economia em crise, escalada do desemprego e aumento da inadimplência. O novo presidente da República terá, a partir de janeiro, a missão de recuperar a confiança de empresários e da população para que o investimento e o consumo comecem a tirar o país do ciclo de recessão e de baixo crescimento que o assola. Após as eleições de 2014, quando o PIB variou apenas 0,5%, o Brasil amargou um tombo de 7,1% na atividade nos dois anos seguintes. Ainda longe de recuperar as perdas, o país voltou ao azul de forma tímida em 2017, com alta de 1%, ritmo que deve ser semelhante neste ano — 1,3%, de acordo com estimativas do mercado, após as projeções cravarem até o dobro, no início do ano.
Turbinada pela crise que desembocou no impeachment de Dilma Rousseff, a economia entrou em colapso. Alvejadas pela Lava-Jato, grandes empresas, como empreiteiras e a Petrobras, mergulharam em paralisia.
O país chegou a ter, no início do ano, 13 milhões de desempregados. Agora, são 12,7 milhões, redução puxada pela busca por trabalho por conta própria, última alternativa ante a falta de apetite das empresas em contratarem mão de obra. De 2015 a 2017, o país perdeu quase 2,9 milhões de empregos com carteira assinada, conforme o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) do Ministério do Trabalho. Outra herança da crise é a desesperança: cerca de 4,8 milhões desistiram de procurar emprego.
Dados da empresa de análise de crédito Serasa Experian mostram que, em julho, o país atingiu o recorde de consumidores inadimplentes, com 61,6 milhões de endividados. Quem não perdeu o emprego tem medo de perder. E o dinheiro parou de circular.
O coordenador de economia aplicada do Instituto Brasileiro de Economia (Ibre) da Fundação Getulio Vargas (FGV), Armando Castelar Pinheiro, entende que a recuperação da economia vai depender da habilidade do próximo presidente em reaver a confiança de empresários e consumidores. E a base para injetar esse ânimo, avalia, será a sinalização de enfrentamento do problema fiscal.
— A economia não se recupera sem confiança no futuro, ou quando não há certeza de que as coisas não vão explodir. Isso vale para o consumidor e para o empresário — aponta Castelar.
Começar a colocar a casa em ordem não requer medidas mirabolantes, mas duras. Como há resistência ao aumento de impostos, a saída mais viável é cortar gastos, diz o economista. E, nesse caso, mais como sinalização de um futuro mais folgado do que por efeito real no curto prazo, a reforma da Previdência é considerada essencial.
A tarefa de fazer a economia avançar ainda vai depender de uma série de frentes, que virão em seguida na fila das prioridades. Em busca de melhorar a competitividade das empresas, uma reforma tributária que simplifique o cipoal de impostos é apontada como decisiva, apesar de esbarrar na formação de consensos. Com o governo sem recursos para investir, concessões na área de infraestrutura também podem ser a solução. Tema controverso, as privatizações se somam tanto como alternativa de aumento de receitas quanto de possibilidade de tornar empresas mais competitivas. Investimento, ressalta Castelar, é fundamental para sustentar o crescimento e evitar risco inflacionário quando a demanda renascer. Em 2017, a taxa de investimento em relação ao PIB caiu para 15,6%, a menor desde 1996, início da atual série histórica do IBGE. Reflexo da construção civil em baixa, de obras pesadas paradas e falta de demanda que faz indústrias não ampliar unidades nem comprar equipamentos. O ideal seria 25%.
— Necessitamos de investimento em infraestrutura, e dinheiro há de sobra no mundo — diz Castelar.
Ministro do Trabalho de Fernando Henrique Cardoso, o economista Paulo Paiva, professor da Fundação Dom Cabral (FDC), faz coro:
— Primeiro, temos que olhar o umbigo, que é a questão fiscal. Depois, o horizonte, que é a economia.
Na sequência, avalia Paiva, a segunda fase vai depender de como for implementada a primeira, que dependerá do perfil do eleito. Se o ajuste fiscal for mais duro, há risco de a economia até voltar a cair em 2019 e iniciar uma retomada mais consistente no segundo semestre de 2020. Mas o custo social e político será maior. Outra opção é um rearranjo gradual das contas. Mais palatável, mas limitando as taxas de crescimento.
Em seguida virão os afazeres necessários para um salto de qualidade. Passam por medidas que ajudem à maior abertura da economia brasileira ao comércio global, concessões em infraestrutura e reforma tributária, entre outros. Além do principal para a construção do futuro de um país que, nos últimos anos, cresceu menos do que o resto do mundo.
— Em meio à quarta revolução industrial, precisamos enfrentar a questão da educação e da inclusão digital — defende Paiva.
De país jovem, o Brasil tornou-se rapidamente maduro. O aumento da população, fator que costuma ser propulsor de crescimento, é cada vez menos acelerado, e a inversão da curva é prevista para a década de 2040, estima o IBGE. Restará a via do avanço da produtividade, tão estagnada quanto a economia brasileira.