A baixa popularidade de Michel Temer e a corrosão do grupo de partidos em torno do ninho tucano em nível nacional trazem prejuízos aos candidatos à Presidência de MDB e PSDB, que seguem longe de uma vaga na disputa em segundo turno pelo Palácio do Planalto. Nos Estados, o cenário é diferente.
As duas siglas, que dominaram o mapa de poder no país na eleição de 2014, aparecem novamente bem cotadas nas disputas entre concorrentes ao cargo de governador. Perdem Henrique Meirelles e Geraldo Alckmin, ganham lideranças regionais que temem prejuízos ao contrariar eleitores que defendem outros nomes ao Planalto.
— Estamos observando que muitos partidos estão fazendo duplo palanque e outros até já abandonaram seus candidatos à Presidência — pontua Maria do Socorro Braga, cientista política da Universidade Federal de São Carlos, no interior de São Paulo.
Um dos motivos para o comportamento, aprofundado na campanha deste ano, é a polarização no pleito presidencial. Como lideranças regionais buscam ampliar ou, pelo menos, manter o tamanho das bancadas federais, a campanha fica voltada ao Estado. O número de representantes no Congresso é utilizado para distribuição dos fundos partidário e eleitoral, além do tempo de rádio e TV no horário eleitoral.
O MDB, que elegeu sete governadores em 2014, aparece à frente das pesquisas em cinco Estados, e tem chances em outros cinco. A situação mais favorável é em Alagoas, onde Renan Filho nada de braçada, liderando com 65% nas pesquisas de intenções de voto. No Pará, Helder Barbalho tem 47% das citações. Herdeiros dos senadores e caciques do partido Renan Calheiros e Jader Barbalho, ambos devem ser eleitos no primeiro turno.
Em São Paulo, a eventual vitória de Paulo Skaf poderia compensar a perda para o MDB de outro importante colégio eleitoral, o Rio de Janeiro. O principal obstáculo é a candidatura do ex-prefeito paulistano João Doria (PSDB). Os dois estão empatados tecnicamente – o emedebista leva vantagem no segundo turno. A disputa também interessa os tucanos, há 24 anos no poder.
No Rio Grande do Sul, José Ivo Sartori está à frente, mas a última pesquisa Ibope aponta crescimento do tucano Eduardo Leite, com vitória no segundo turno em relação ao governador que busca a reeleição inédita.
O PSDB, que venceu em cinco Estados em 2014 e está bem colocado em sete neste ano, pode vencer nos dois maiores colégios eleitorais do país. A situação mais favorável é em Minas Gerais, onde Antonio Anastasia venceria o atual governador, Fernando Pimentel (PT) — também desponta em Mato Grosso do Sul, Rondônia e Roraima.
Outro destaque das pesquisas é a presença do DEM, que está à frente em três Estados. Em Goiás, a tendência é que Ronaldo Caiado vença no primeiro turno. No Rio de Janeiro, Eduardo Paes disputa a liderança com Romário (Podemos) e Garotinho (PRP).
— Partidos como PSDB, MDB, DEM e integrantes do centrão estão muito neutralizados em relação a seus candidatos à Presidência. Se inibem frente ao eleitor, que tende a opções mais definidas e, devido à polarização, podem apostar no voto útil — diz o cientista político da Universidade Federal da Bahia Jorge Almeida.
Na esquerda, o melhor desempenho é em Estados do Nordeste, onde os concorrentes ao Congresso e aos governos estaduais defendem seus candidatos à Presidência com menor receio. Oito dos nove Estados têm PT, PSB ou PCdoB à frente.
Ao todo, o PT lidera quatro corridas estaduais e está na disputa em outras três. Na Bahia, quarto maior colégio eleitoral do país, o petista Rui Costa sustenta o índice de 60% da preferência dos eleitores e deverá ser reeleito no primeiro turno. No Ceará, Camilo Santana alcança 69%. No Piauí, Wellington Dias tem 46%.
O PSB está à frente em cinco Estados, mas somente no Espírito Santo consegue manter vantagem folgada. Renato Casagrande está com 59%. O partido lidera ainda em Pernambuco, Sergipe, Paraíba e Amapá. No Maranhão, antigo reduto da família Sarney, Flavio Dino (PCdoB) deverá se reeleger, vencendo Roseana Sarney.
No Nordeste, ainda há uma situação curiosa. Devido à alta aprovação do ex-presidente Lula, partidos rivais no plano nacional são próximos ao PT.
É o que acontece com o MDB em Alagoas, com Renan Filho, e no Ceará, com o presidente do Senado Eunício Oliveira. Na região, o fenômeno também é observado entre integrantes do centrão, como o PP no Piauí, onde o presidente nacional do partido, senador Ciro Nogueira, concorre à reeleição. Em outros pontos do país, a aproximação é com candidatos conservadores.