A polarização que divide o país na corrida ao Palácio do Planalto impõe a estrategistas a intrincada decisão entre duas situações distintas: tentar ampliar a fatia do eleitorado onde seu candidato já conta com bom desempenho ou apostar em regiões onde a rejeição atrapalha seu crescimento. A nove dias da eleição, pesquisas que destacam dados estaduais são analisadas com lupa antes da definição das ações para a reta final da campanha.
Jair Bolsonaro (PSL) lidera no Distrito Federal e em 17 Estados, entre eles, nos três maiores colégios eleitorais do país, São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro, que respondem por 41,5% dos votos do país. É nestes Estados que os apoiadores do capitão reformado do Exército depositam suas esperanças de ampliar a vantagem, já que ele deixou a campanha após ter levado uma facada em evento político na cidade mineira de Juiz de Fora,
em 6 de setembro.
Fernando Haddad (PT) aparece à frente em oito Estados, todos do Nordeste. Para aliados, há espaço para ampliar a vantagem na região, mas também é preciso diminuir a rejeição e melhorar índices nas sondagens eleitorais em locais estratégicos, como na capital paulista, governada pelo petista entre 2013 e 2016, em Minas Gerais, onde a ex-presidente Dilma Rousseff (PT) lidera as pesquisas ao Senado, e no Rio Grande do Sul, domicílio da vice na chapa presidencial, Manuela D’Ávila (PCdoB).
– A eleição é entre quem não gosta do PT e quem não gosta do Bolsonaro. O grande desafio será atrair os eleitores de centro, já que eles não se sentem representados pelos outros candidatos – comenta o cientista político da PUC-Rio Ricardo Ismael.
Para o pesquisador, o discurso do “voto útil” deverá ser ampliado, o que poderá levar à debandada das candidaturas que iniciaram a corrida eleitoral competitivas, mas perderam fôlego ao longo da campanha.
Para o cientista político da Universidade de Brasília (UnB) David Fleischer, há uma situação que favorece Bolsonaro e outra que pode comprometer uma boa performance de Haddad no Nordeste, caso ambos sejam conduzidos ao segundo turno.
Governadores bem colocados nas pesquisas que integram a base de apoio de Geraldo Alckmin (PSDB) deverão abrir voto para o capitão do Exército, acreditando que podem atrair o eleitorado conservador. Já Haddad poderá ser prejudicado em Estados onde o PT conta com grande apoio, como na Bahia e no Piauí.
– É grande a chance de não ter segundo turno para os governos estaduais onde o PT e o Haddad vão bem. Isso pode acabar desmobilizando o eleitorado petista – avalia Fleischer.
O único candidato que consegue romper a bolha da polarização e liderar em um Estado é
Ciro Gomes, que tem a preferência no Ceará, onde foi governador.
A curiosidade é que, apesar de o pedetista ser o mais lembrado para a Presidência, o melhor colocado para o governo estadual é o petista Camilo Santana, que deverá ser reeleito.
Caso a tendência se confirme e o segundo turno seja disputado entre Bolsonaro e Haddad, especialistas avaliam que Ciro deverá apoiar o candidato do PT.
Alckmin, que tem desferido ataques ao deputado federal e ao ex-prefeito paulista em entrevistas e no horário eleitoral no rádio e na televisão, deverá ficar neutro na disputa. O mesmo deve ocorrer com Marina Silva (Rede), que já protagonizou discussões com o representante do PSL e não esconde a mágoa com a cúpula petista após as eleições de 2014, quando sofreu fortes ataques da então presidente Dilma.