Esclarecimento: diferentemente do que foi informado pelo coordenador de campanha do Interior de Jairo Jorge (PDT), José Scorsatto, o candidato a governador visitou os 497 municípios do RS, e não 417. A informação foi retificada pela assessoria de imprensa do candidato.
Há algo de diferente nas eleições de 2018: faltando pouco menos de um mês para o primeiro turno, as ruas estão vazias de manifestações em apoio a candidatos. Onde já houve carreatas, cartazes em muros, bandeiraços nas esquinas e carros com adesivos, desponta um cenário de apatia. Estrategistas ligados aos candidatos a governador no Rio Grande do Sul afirmam, em uníssono, que está mais difícil conquistar o eleitor. Para analistas, a explicação passa pelo desencanto com políticos após denúncias por corrupção e um maior aperto na lei eleitoral.
Nas ruas de Porto Alegre, vê-se apenas a militância articulada em eventuais bandeiraços em parques ou antes de partidas de futebol. Organizadores reclamam, sobretudo, de limitações práticas: redução da verba após a proibição do financiamento privado em 2015, diminuição do tempo de campanha de 90 dias para 45 e restrições à propaganda eleitoral.
– Não estamos conseguindo movimentar as pessoas como na eleição passada. A maior dificuldade é a falta de esperança. Tem de conversar uma, duas, três vezes com o eleitor. Antes, faltando 30 dias, todos estavam na rua. Agora, vai ser nos últimos 15 dias – avalia Valdir Bonatto, coordenador-geral de campanha de Eduardo Leite (PSDB).
A queda na verba foi drástica: nos primeiros 20 dias de campanha, os candidatos arrecadaram R$ 4,85 milhões. Ainda que seja parcial, o valor é bem aquém do acumulado total de 2014, de R$ 31 milhões, considerando primeiro e segundo turno, o dobro do tempo de divulgação e o financiamento por empresas privadas.
Com o cobertor mais curto, os privilegiados na distribuição de recursos das direções nacionais são os candidatos a presidente e a deputado federal. José Ivo Sartori, por exemplo, só recebeu dinheiro do diretório estadual do MDB. Na busca de ajustar-se ao cenário de vacas magras, todos economizam de forma minuciosa.
GaúchaZH analisou a agenda dos candidatos entre 16 de agosto e 5 de setembro e constatou que viagens pelo Interior são quase que exclusivamente em cidades-polo. Coordenadores de campanha justificam que a estratégia é visitar grandes cidades à espera de que moradores do entorno se desloquem para encontrar o candidato. A culpa do roteiro mais curto, argumentam, é da escassez de tempo de propaganda e de dinheiro.
A logística também foi afetada. Procissões de veículos cortando estradas deram lugar a um único carro com candidato, motorista, cinegrafista, assessor e vice. Para compensar, diretórios municipais ganham mais relevância: ficam responsáveis por mobilizar a comunidade regional.
– Estamos reduzindo violentamente os custos. Como o MDB e os partidos da coligação têm diretórios em todos os municípios do Estado, a distribuição de materiais de divulgação é feita por eles, em vez de mandarmos um automóvel só para isso – conta Idenir Cecchim, coordenador-geral da campanha de Sartori.
Jairo Jorge (PDT) é uma exceção: como está em pré-campanha desde o início de 2017, visitou todos os 497 municípios gaúchos. Agora, revisita alguns dos locais por onde já passou.
– No Interior, contamos com a ajuda de deputados e candidatos na divulgação. Durante a semana, vamos às grandes cidades. No fim de semana, Jairo fica na Região Metropolitana e em Porto Alegre, porque é quando as pessoas vão mais à rua e a parques – relata José Scorsatto, estrategista do pedetista no Interior.
Carlos Pestana, coordenador-geral da campanha de Miguel Rossetto (PT), concorda que a conquista está mais complicada, mas acredita que há apoio latente, manifestado apenas na esfera privada.
– Houve a criminalização da política. Existe um grande apoio que talvez não se expresse de forma mais pública, mas que identificamos que estará conosco, pelos resultados de pesquisas. Essas pessoas não vão sair com roupa ou adesivo, mas estarão nas urnas – prevê.
Roberto Robaina (PSOL) é o único candidato que tem mais dinheiro para a campanha em relação à anterior: nos primeiros 20 dias, arrecadou R$ 246,7 mil, contra R$ 186 mil em toda a eleição para governador de 2014. Ele foi beneficiado pelo novo fundo partidário.
– Com mais dinheiro, fazemos panfletagens maiores, organizamos mais pessoas nas ruas e investimos em redes sociais – diz Israel Dutra, coordenador da campanha.
Mateus Bandeira, por decisão do Novo, não conta com financiamento público – depende dos R$ 200 mil já pagos do próprio bolso e das doações de pessoas físicas. Recorrer às redes sociais para obter apoio – a lei permite impulsionamento de postagens pagas para que o conteúdo apareça mesmo para quem não curte a página do candidato.
– A desilusão com a política exige mais esforço para convencer. Investimos nas redes sociais, organizando lives no Facebook e no YouTube, já que nosso tempo de rádio e TV é pequeno – descreve Bruno Miragem, candidato a vice-governador na chapa e que concentra ainda as funções de coordenador de campanha e do plano de governo.
O que está proibido na propaganda eleitoral
- Showmícios
- Boca de urna
- Veículos com jingle
- Pintar muros de imóveis particulares
- Afixar cartazes e cavaletes em calçadas
Contornando as dificuldades
- Em vez de caravanas, viagens pelo Interior são com apenas um carro e pessoal essencial.
- Cidades pequenas ficam de fora do roteiro. Reuniões ocorrem em cidades-polo, como Pelotas, Rio Grande, Caxias do Sul e Uruguaiana.
- Em um mesmo dia, várias cidades são visitadas.
- Diretórios municipais ganham mais relevância: são os responsáveis por mobilizar as bases, distribuir materiais de campanha e aquecer a população antes da visita do candidato.
- Redução de custos nas propagandas de TV.
- Investimento em redes sociais, alternativa mais barata e direcionada para chegar ao eleitor.
- Se antes o candidato era a figura essencial, agora partidos apostam em outras lideranças regionais (como deputados) para chegar aos eleitores.