O golpe no abdômen de Jair Bolsonaro (PSL) mudou os rumos das eleições brasileiras. Definido por aliados e rivais como um ataque à democracia, a facada paralisou as campanhas presidenciais e obrigou candidaturas a reavaliar estratégias.
Ainda sob o impacto do atentado, concorrentes ao Palácio do Planalto cancelaram agendas públicas e congelaram a campanha a um mês da data da votação. O dia seguinte à facada foi marcado por recolhimento e prudência.
Os principais candidatos reuniram-se em encontros internos com suas equipes para discutir o tom a ser adotado nos próximos 30 dias. Nas redes sociais, optaram pelo silêncio.
— O recado principal agora é: vamos todos baixar a bola, porque esse clima de polarização que de tempos em tempos eclode em violência política no país nunca acaba bem, e transmitir a mensagem de desarmar, real e metaforicamente, os ânimos das pessoas — disse um interlocutor de Marina Silva (Rede).
No sábado (8), a candidata irá retomar a agenda de rua em caminhada pela paz na capital paulista. Na análise de estrategistas das candidaturas, o atentado cacifou politicamente Bolsonaro ao segundo turno.
Às pressas, o grupo de Geraldo Alckmin (PSDB) precisou repensar o material publicitário com críticas ao militar reformado, que seguia no ar inclusive nos intervalos dos noticiários sobre o atentado contra ele. Na quinta-feira (6) à noite, a equipe enviou às emissoras pedido de troca de peças "por uma questão estratégica".
Na manhã de sexta-feira (7), o grupo de Alckmin reuniu-se na produtora responsável pela campanha. Depois, o tucano passou o dia em gravações. Coordenador da campanha, o prefeito de São Paulo, Bruno Covas (PSDB), disse ser cedo para avaliar a influência do incidente sobre a opinião dos eleitores.
— Não sei o quanto a população vai decidir se vota ou não (em Bolsonaro) por causa do atentado — afirmou à Folha de S.Paulo, sem prever mudanças no foco da campanha.
Depois de cancelar compromisso público em São Paulo, Fernando Haddad (PT) também se reuniu com aliados. Líder da legenda na Câmara, Paulo Pimenta (RS) alertou que o episódio não pode se converter em justificativa para atos mais violentos e graves:
— Eles criaram o ambiente propício para que esse tipo de situação acontecesse. Precisamos denunciar essa estratégia do ódio e restabelecer uma campanha pautada em programas de governo, debates e propostas.
Pelo Twitter, Ciro Gomes (PDT) avisou o cancelamento de atividade de rua em São Luís (MA) e disse que seguia "acompanhando as notícias sobre o estado de saúde" de Bolsonaro. De olho no noticiário, o comitê pedetista aguardava informações sobre o boletim médico do adversário para decidir quando retomaria os compromissos oficiais.
— A princípio, nada muda na campanha. Ciro irá continuar rodando o país — avaliou um interlocutor.