A eleição em segundo turno à prefeitura de Caxias do Sul comprova de forma categórica: a cidade tem um eleitorado majoritariamente de direita. Os dois candidatos que disputam o comando do município, Maurício Scalco, do PL, e Adiló Didomenico, do PSDB, se assumem como bolsonaristas e como lideranças de direita. Na eleição para presidente, em 2022, o então candidato à Presidência Jair Bolsonaro (PL) fez 57,5% dos votos válidos, entre 11 candidatos, no primeiro turno e 66,4% dos válidos, isto é, conquistou dois votos em cada três, no segundo turno.
Assim, o resultado da eleição em primeiro turno para a prefeitura caxiense só confirmou esse perfil: Scalco e Adiló perfizeram, os dois juntos, 65,5% dos votos válidos em primeiro turno, entre quatro candidatos, praticamente repetindo o percentual de Bolsonaro no segundo turno da eleição presidencial de 2022.
A fatia do eleitorado de direita manteve-se praticamente intacta entre uma eleição e outra. A candidata que representou o campo da centro-esquerda à prefeitura, Denise Pessôa, do PT, fez 26,3% dos votos válidos. Ainda assim, o candidato Adiló teve de se desdobrar para chegar ao segundo turno: venceu Denise por uma diferença pequena, de 2.853 votos, ficando 24 mil votos atrás de Scalco.
A eleição em segundo turno, no entanto, como diz uma conhecida tese eleitoral, "é outra eleição". E há um exército enorme de 193 mil eleitores que deixaram de votar em primeiro turno, ou votaram em branco, ou anularam o voto ou votaram nos dois candidatos que não se credenciaram para o segundo turno. É nesse universo, bastante amplo, correspondente a 55,7% do eleitorado caxiense, que está disponível para os candidatos Scalco e Adiló buscarem os votos que faltam para se eleger.
Scalco surgiu no cenário eleitoral no âmbito de uma chamada "frente anti-PT", idealizada pelo então vereador Mauricio Marcon (Podemos), hoje deputado federal, minutos após ter sido diplomado como vereador, em fevereiro de 2021. Ele foi até a frente do prédio da Câmara de Vereadores e gravou um vídeo em que anunciava a intenção da frente anti-PT. Scalco foi eleito junto com Marcon, ambos pelo Novo, para o Legislativo. A frente informal ganhou adeptos entre vereadores, que depois se reuniram no PP, para formar a aliança de direita em torno de Scalco, que trocou o Novo pelo PL em novembro de 2023, buscou e ganhou apoio do ex-presidente Jair Bolsonaro.
A trajetória política de Scalco é pequena. Resume-se ao mandato atual de vereador, tendo concorrido pela primeira vez na eleição de 2020, quando se elegeu. Já a de Adiló na vida pública é bem mais longa. Ajudou a fundar o PTB em Caxias nos Anos 80, e sua ligação com a Codeca vem do século passado, quando presidiu por 8 anos o Conselho de Administração da companhia. Depois, presidiu a Codeca nos dois Governos de José Ivo Sartori (2005-2012) e foi secretário de Obras no governo de Alceu Barbosa Velho (2013-2016). Elegeu-se duas vezes vereador, em 2012 e 2016, e depois trocou o PTB pelo PSDB, partido pelo qual elegeu-se prefeito em 2020, sempre assumindo-se como um político que defende valores de direita. Como Scalco, ambos apoiaram e votaram em Bolsonaro em 2022. Esse convergência, entretanto, não impediu que a aliança de direita em torno de Scalco reivindicasse a condição de verdadeira direita, ou direita-raiz.
Adiló obteve mais apoios de partidos em 2º turno
O deputado federal Mauricio Marcon (hoje no Podemos) é o mentor da candidatura de Scalco à prefeitura. Os partidos que se reuniram em torno da candidatura — além do Podemos, o PL, o Novo e o PP — estão juntos desde o início da chamada frente anti-PT. Na Câmara dos Deputados, Marcon é defensor da anistia aos envolvidos e participantes nos ataques aos Três Poderes, em 8 de janeiro de 2023, o que demarca o perfil ideológico da frente.
Durante a campanha em segundo turno, a aliança de direita em torno de Scalco tem sido ferrenha na crítica ao candidato Adiló por receber apoio de partidos de esquerda, como PT e PCdoB. A coligação de direita enfatiza que o apoio se dá a partir de "negociações políticas", supostamente envolvendo cargos em um futuro governo. PT e PCdoB já deixaram claro o "voto no 45 para derrotar a extrema-direita" e que serão oposição, independente de quem vencer a eleição. Adiló também recebeu o apoio do MDB do candidato Felipe Gremelmaier, mas o PDT, que foi parceiro da candidata Denise Pessôa (PT) na aliança de centro-direita no primeiro turno, definiu-se pela neutralidade, por decisão da executiva municipal, orientando aos filiados "abster-se de fazer campanha". No entanto, o presidente da sigla, Rafael Bueno, abriu voto a Scalco e o ex-prefeito Alceu, ex-candidato a vice na chapa de Denise, disse que não vota em Adiló. Se a transferência de voto dos apoios declarados será suficiente para decidir a eleição, se verá no domingo
Além desse componente, a campanha em segundo turno registrou o acirramento dos enfrentamentos entre os dois candidatos, ainda que, na contramão, tenha havido menos direitos de resposta e decisões da Justiça Eleitoral. Porém, nos debates e no horário eleitoral, as estocadas foram frequentes. Como fio condutor da estratégia de campanha, Adiló enfatizou que "a cidade não quer mais aventuras", uma referência ao ex-prefeito e prefeito cassado Daniel Guerra, identificando semelhanças no discurso de Scalco. Já Scalco destacou sempre que "três em cada quatro eleitores querem mudança", uma referência a quem não votou em Adiló, que atingiu percentual de 24,8% dos votantes em primeiro turno.