
Até quinta-feira (29), sempre às 7h15min, o Gaúcha Hoje da Gaúcha Serra entrevista os candidatos à prefeitura de Caxias do Sul. O bate-papo terá duração de 30 minutos cada, com mediação dos jornalistas Alessandro Valim e André Fiedler.
Felipe Gremelmaier é o terceiro entrevistado da série. Confira o bate-papo na íntegra:
Gaúcha Serra: O senhor é candidato ao Executivo pela primeira vez, e sua candidatura foi a última a ser lançada. Isso prejudica a sua campanha, esse processo de escolha? Como é que o senhor está vendo esse início de campanha?
Felipe Gremelmaier: Eu tenho a convicção de que foi um processo maduro, internamente foi um debate muito importante no MDB, um debate que uniu o partido. A gente entende a movimentação interna e isso trouxe muita gente de volta ao partido. A gente percebe isso já nas primeiras semanas da eleição, um movimento muito grande acontecendo, as pessoas procurando, vindo ajudar.
Depois essa consolidação da aliança com o PSD foi muito importante também, porque nós temos uma boa quantidade de candidatos a vereador junto, temos o nosso vice, Michel Pillonetto. Então a gente acredita que foi um pouco demorada sim, mas ela está sendo superada com muito trabalho, com muita convicção daquilo que a gente acredita e com a movimentação interna do partido e de muitas pessoas que já nos procuram para ajudar na eleição.
Então a gente tem certeza que esse período que se viveu internamente foi importante até para movimentar o partido, unir o partido, e mostrar isso para a cidade, que a nossa posição é de união.
Gaúcha Serra: O seu partido, o MDB, esteve à frente de três gestões, duas com o prefeito José Ivo Sartori e depois, a seguinte, na vice. No entanto, nas últimas gestões acabou ficando de fora dessa composição e até mesmo a bancada na Câmara reduziu. Qual a sua avaliação com relação a esse resultado, esse encolhimento do partido? Que impacto isso pode ter na sua candidatura?
Felipe Gremelmaier: Eu acredito que, primeiro, nós tivemos duas grandes gestões em Caxias do Sul, que foi do ex-prefeito José Ivo Sartori, que é inclusive um dos coordenadores da nossa campanha junto com o deputado Burigo e com o Rafael Toigo. Então nós temos todo esse movimento feito nos dois governos Sartori, de projetos entregues e grandes obras entregues para a cidade de Caxias do Sul, e temos todo esse processo a nosso favor, temos todo esse movimento que o Sartori fez em Caxias do Sul com uma grande equipe de secretários que nos dá esse respaldo.
A gente tem utilizado muito isso, nós temos diversos programas, inclusive que nós queremos retomar, e que foram das gestões do Sartori. E o processo de encolhimento do partido é um processo natural, à medida que tu não tens a prefeitura ou tu não tens os grandes movimentos dentro da cidade. Mas é um processo que se recupera, isso são fases, são momentos, mas a gente está muito confiante com o que o partido vem fazendo nos últimos dois anos, principalmente de reorganização, reestruturação, e que vai fazer e demonstrar um crescimento nessa eleição agora.
Ouça a entrevista na íntegra:
Gaúcha Serra: Pela sua experiência como vereador, como secretário que o senhor foi também, agora como candidato, o que é o principal ponto, a principal questão, o principal desafio de Caxias do Sul a ser enfrentado?
Felipe Gremelmaier: Eu acho que nós não temos um principal desafio. Eu acho que Caxias do Sul tem diversos grandes desafios pela frente, e nós temos que começar esse desafio pela saúde, que é algo urgente. As pessoas precisam estar melhor atendidas, e tem muita gente saindo de casa agora preocupada com a questão da saúde, com familiares que estão na UPAs, que estão no postão, que estão necessitando de atendimento.
Começamos pela saúde, que acredito que é fundamental, mas vagas nas escolas de educação infantil é outro ponto muito importante a ser trabalhado. A zeladoria da cidade... Enfim, nós temos diversos temas, e eu não conseguiria te apontar um específico porque nós temos diversas dificuldades na cidade hoje que precisam ser enfrentadas de forma urgente. Além de outros temas que a gente pode conversar depois e vai conversar, tenho certeza, que são grandes obras que causam impacto na vida do dia a dia das pessoas, e essas grandes obras não aconteceram mais.
Mas, inicialmente, acho que a saúde é o principal ponto, porque ela atinge diretamente não só a pessoa, mas a família dessa pessoa, e isso causa uma situação muito complicada dentro de casa. As pessoas que estão passando por isso entendem o que a gente está comentando aqui.
Gaúcha Serra: Entrando especificamente nos temas agora, candidato, a gente tem começado justamente pela saúde, que tem sofrido com uma questão de financiamento. Como o senhor prevê no seu plano de governo buscar esse financiamento, já que Caxias também é uma cidade polo aqui da região?
Felipe Gremelmaier: Nós temos convicção de que a saúde precisa ser trabalhada na questão preventiva. Isso é fundamental. Processos já aconteceram nesse sentido e deram grandes resultados para Caxias do Sul, e nós vamos retomar alguns deles.
Cito aqui de forma clara o Vigimama, que era um movimento criado na cidade de Caxias do Sul que prevenia as mulheres com relação ao câncer de mama. Isso precisa ser retomado de forma urgente, era preventivo e tinha toda uma movimentação da sociedade em cima desse processo.
Temos outros exemplos. O Bebê tem Hora Certa, que era uma parceria da Secretaria da Saúde com a Secretaria da Educação e da Cultura, que iam às escolas e trabalhavam essas questões com as jovens e adolescentes, para entender a responsabilidade de uma maternidade, o momento certo de ter esse filho. A questão preventiva na saúde para a gente é algo muito importante. Agora, nós temos que ter a noção da necessidade de integração do sistema para que não existam consultas duplicadas, para que as pessoas possam ter a sua consulta de forma mais ágil, mais rápido o resultado dos exames, a descentralização da saúde.
Com tudo que nós passamos nos últimos anos, de pandemia, e essa tragédia climática agora, o município precisa ter uma visão maior sobre o investimento em psicologia e psiquiatria. Hoje muitas pessoas estão afetadas por isso, a necessidade é urgente com relação a essas situações todas, então nós temos a convicção dessas necessidades. Dentro da medicina, dentro da saúde, isso é fundamental.
E mais do que isso, nós tivemos um governo na cidade em que vários médicos se exoneraram, principalmente os médicos especialistas. E isso o município está sofrendo até hoje, porque faz concurso e os médicos não assumem. A necessidade de médicos especialistas segue muito grande na unidade básica de saúde e nos principais centros de saúde da cidade. E de que forma o município vai resolver isso? Só o concurso público não está atendendo, as pessoas que estão na fila esperando, as pessoas que estão com a necessidade de uma consulta específica não estão sendo atendidas.
Nós temos alguns exemplos de cidades que deram certo, inclusive a contratação de consultas através de chamamento público. Isso precisa ser urgente, isso é urgente para as pessoas que necessitam. Precisamos zerar essas filas e a gente acredita que essa é uma forma, o chamamento público de consultas, a contratação direta de consultas, porque aí os médicos da cidade vão atender as pessoas que hoje mais necessitam. Saúde é urgente, as pessoas não podem mais esperar por essas consultas.
Então a gente entende muito essa questão da saúde, que o início é trabalhar a saúde preventiva e isso precisa ser feito em toda a cidade porque são vários fatores que atendem. Nós precisamos inclusive ampliar as equipes de estratégia da família, que hoje estão deficientes. Caxias do Sul, na região, é o município que tem o menor índice de estratégia da família de cobertura da cidade e isso também versa sob prevenção, assim como é a Primeiro Infância Melhor, assim como são outros programas que precisam ser potencializados na cidade.
Gaúcha Serra: Para esses planos que o senhor citou, inclusive da área preventiva, tudo isso requer investimento. Onde buscar esse dinheiro? É nos municípios vizinhos, se fala há tempos na maior contribuição deles para bancar a saúde em Caxias, que é a cidade polo. Há espaço para buscar no governo federal, no governo estadual mais recursos? Como é que o senhor vai financiar esses planos?
Felipe Gremelmaier: Eu acredito que são vários os formatos, e não podemos nos apegar somente em uma forma. Primeiro, essa questão regional abre espaço até para uma outra situação. Caxias do Sul precisa retomar o protagonismo. Nós precisamos, como principal cidade da região, buscar a constituição efetiva da região metropolitana da Serra.
Caxias do Sul é a principal cidade, e nós não estamos liderando o processo na nossa região. Precisamos assumir essa liderança, e é importante para a saúde, é importante para o turismo, para grandes obras, para o lixo, para a água, que Caxias do Sul assuma o seu protagonismo de maior cidade da região, e isso não está sendo feito. Então, eu acredito que na questão da saúde, sim, Caxias do Sul precisa liderar os municípios, pois é a maior cidade e é quem recebe 49 cidades aqui. Eu não consigo entender essa dificuldade que Caxias do Sul hoje tem para conversar e liderar esses municípios e, mais do que isso, Caxias do Sul tem que ter a humildade e a certeza do seu tamanho, da necessidade que tem para com os governos estadual e federal, liderar não só as cidades, mas liderar as entidades de Caxias do Sul para irem com agenda única para Brasília, agenda única para o governo do estado e essa liderança tem que ser feita pela cidade.
Então, além de ter investimentos aqui, eu acredito que a prevenção vai auxiliar e muito nesse atendimento que hoje é deficiente em Caxias do Sul. A busca por recursos do estado e governo federal são fundamentais, e isso, quem tem que liderar, é Caxias do Sul através da região, com apoio dos municípios, obviamente, mas que Caxias tem que ser a timoneira desse processo eu não tenho a menor dúvida. Eu acredito que tem espaço no governo do estado e no governo federal para que esses recursos cheguem a Caxias do Sul, principalmente com relação à saúde preventiva, que vai ter um resultado lá na frente em todos esses outros processos que são mais caros, obviamente, mas que são necessários de investimento.
Gaúcha Serra: Falando em recursos, o caixa do município nos últimos anos tem sofrido por uma série de fatores, e Caxias do Sul tem a peculiaridade do Caso Magnabosco. Como que o senhor entende que o Caso Magnabosco deve ser encaminhado e como recuperar as finanças do município, para deixar uma situação mais confortável?
Felipe Gremelmaier: O Caso Mangnabosco é um dos grandes tormentos da cidade, e isso há muitos anos. Eu sou defensor de um acordo, nós temos que lutar pelo acordo até a última instância. O município precisa conversar e aí eu volto a falar em liderar esse processo. O município precisa liderar o processo, precisa sentar e buscar o acordo no Caso Magnabosco, que nesse momento é a situação mais viável para o município. Se nós tivermos uma decisão contrária, o município vai parar de respirar.
É muito sério o Caso Magnabosco, e nós temos que entender que isso vai afetar. Se hoje já tem dificuldade na saúde, vai piorar muito a questão da saúde se o Caso Magnabosco tiver um desfecho contrário ao município, como se avizinhava a até pouco tempo atrás. Nós vamos ter um retrocesso muito grande na educação, nós vamos ter um retrocesso muito grande no lixo. Vai estar pior do que já está hoje. Nós não podemos entender que o Caso Magnabosco deva ir para a última situação, que a última situação é prejudicial ao município e, consequentemente, é prejudicial às pessoas que mais necessitam.
Então, na nossa visão, a busca pelo acordo, a busca pelo consenso é o grande trabalho que deve ser feito no Caso Magnabosco. É difícil? Sim, mas deve-se tentar o acordo até o final, porque do jeito que se desenhava ou que possa se desenhar para o município é uma crise muito grande, e ela não vai ter impacto só em Caxias, o impacto do Caso Magnabosco é regional, por isso que eu falo que Caxias do Sul precisa liderar processos porque o Caso Magnabosco não tem impacto só em Caxias. Todas as pessoas que utilizam o sistema de saúde ou outras áreas de Caxias do Sul serão prejudicadas também, e esses municípios não conseguirão dar vazão às questões de saúde dos seus contribuintes. Então, na nossa visão, a busca pelo acordo é a grande forma de salvar o município desse desastre.
Gaúcha Serra: Ainda sobre gestão, entrelaçado com essa questão do Magnabosco. O senhor falou antes sobre a ausência de grandes obras em Caxias do Sul, talvez porque hoje não haja espaço no orçamento para isso. A capacidade de investimento de Caxias diminuiu na comparação com os governos Sartori, por exemplo. Como fazer com que a receita do município possa comportar também a realização de grandes obras?
Felipe Gremelmaier: Para as grandes obras o município tem que buscar financiamento, seja através do governo federal ou de outros bancos, como foi feito no governo Sartori. Nós tivemos diversos projetos, e aí a importância de projetos bem elaborados e projetos bem discutidos com o governo federal, o Estado ou com outros bancos de financiamento, como foi feito com a Corporação Andina de Fomento (CAF) nos 180 quilômetros que foram asfaltados no interior, e que financiou essas obras para o município.
O caso da saída de Caxias do Sul para Flores da Cunha, onde nós tínhamos uma situação que talvez seja a maior obra social da história de Caxias, que foi toda a remoção do que chamava do valão na época, e hoje as pessoas estão colocadas em apartamentos, com escola, com infraestruturas feitas através de financiamento a fundo perdido. O município buscou recurso com um grande projeto, com a participação da universidade, e nós temos que usar muito a Universidade de Caxias do Sul nesses processos todos. Mas para as grandes obras o município tem que buscar financiamento. Sozinho não tem condições de fazer hoje.
Então nós temos que ter bons projetos, pensamento de cidade líder na região e entender que esses processos das grandes obras, sejam elas viárias ou sociais, vão ter impacto no dia a dia das pessoas. Se a gente imaginar Caxias do Sul hoje sem o viaduto Nelson Bazei, vocês imaginam o tormento que seria para poder se deslocar e se movimentar dentro de Caxias do Sul? Ou o término da duplicação das perimetrais, que foram feitas também no governo Sartori. Se nós não tivéssemos as perimetrais duplicadas hoje, nós estaríamos em um caos ainda maior no trânsito.
Então nós precisamos ter grandes projetos, que versem sobre o futuro de Caxias do Sul. Nós não podemos pensar só no hoje, mas pensar lá na frente, e as grandes obras, sejam elas de trânsito ou sociais, precisam ser buscadas através ou do governo federal ou de bancos de financiamento para que a gente possa ter essas obras entregues para as pessoas de Caxias do Sul, para quem utiliza a cidade. Nós temos um plano de mobilidade aprovado na cidade, e para a execução de grande parte dele nós temos grandes obras, grandes necessidades, e essas grandes obras têm que ser buscadas através de financiamento.
Gaúcha Serra: O senhor menciona o plano de mobilidade e um dos pontos-chave é o transporte coletivo, que tem tido um problema de financiamento nos últimos tempos, o que acaba impactando também no nível de transporte individual da cidade. O que o senhor enxerga como caminho para melhorar a sustentabilidade do transporte coletivo, por exemplo, e deixar ele mais atrativo para o cidadão?
Felipe Gremelmaier: As grandes obras, nesse caso, também são necessárias. E mais do que isso, algo que o município precisa entender, que é importante, é alternativas com relação ao trânsito e o transporte do município de Caxias do Sul.
Nós temos no plano de mobilidade a aprovação das ciclovias, por exemplo. Caxias do Sul precisa ter ciclovias. Nós temos que interligar a bicicleta com o ônibus, como acontece em várias partes do mundo, onde as pessoas que saem da sua casa e vão para um lugar muito distante possam ir até a estação de transbordo com a bicicleta, e que a bicicleta permaneça ali durante o dia. Então nós temos que interligar e utilizar as ciclovias, e o município precisa investir nesse modal, é importantíssimo. Várias cidades têm resultados muito grandes porque desafogam o trânsito.
Eu faço sempre uma análise: se a gente imaginar o trânsito de Caxias do Sul hoje somente dependente do transporte público coletivo, e se nós não tivéssemos as empresas de Caxias do Sul que oferecem o transporte para os seus funcionários, que passam com linhas específicas, que buscam os funcionários e levam até as empresas, e mais do que isso, muitas crianças e estudantes que vão para as escolas, utilizam o transporte contratado. Vocês imaginem se nada disso tivesse acontecendo, quanto de impacto teria no trânsito de Caxias do Sul hoje.
Então, na nossa visão, nós temos que fazer com que o trânsito tenha fluidez, mas isso requer investimento do município. Nós temos hoje duas estações de transbordo funcionando, que é a leste e a oeste. Nós precisamos ter ao menos mais duas, norte e sul, para que essa interligação possa auxiliar, inclusive, no transporte através de bicicleta, de outros modais de investimento. Por que o município não pode pensar lá na frente a questão dos BRTs? Por que não pode investir mais nos veículos elétricos? A gente viu agora há pouco Porto Alegre anunciando um grande número de ônibus elétricos. Então o município tem que se adaptar a esses processos todos e avançar nesses processos.
E obviamente que isso vai ter um impacto na vida das pessoas, no lazer das pessoas e na convivência social, porque hoje as pessoas perdem muito tempo no trânsito e acabam perdendo convivência. As pessoas que usam o ônibus saem de casa cedo, como saíram hoje pela manhã, ou estão saindo agora, estão sendo impactadas com isso, e a gente precisa pensar como cidade grande, como cidade polo de uma região, e hoje Caxias do Sul não tem essa visão.
Gaúcha Serra: E esse transporte coletivo com o subsídio? O senhor manteria o subsídio que hoje é oferecido no transporte coletivo?
Felipe Gremelmaier: Manteria porque o impacto é direto no bolso das pessoas.
Gaúcha Serra: Com relação a parcerias público-privadas, que é algo que foi iniciado em Caxias do Sul nos últimos anos, temos alguns projetos já em andamento e temos um, por exemplo, da educação infantil, que prevê a construção de escolas. Qual o encaminhamento que o seu plano de governo prevê com relação a esses assuntos? O senhor é favorável, por exemplo, a parcerias público-privadas? Tem algo a mais que não está previsto que o senhor implantaria?
Felipe Gremelmaier: Sou favorável a PPP, sim. Eu acho que é importantíssimo. Nem tudo o poder público consegue dar vazão e entregar como a comunidade merece ou precisa, então eu sou favorável a PPP, sim, e acho importante em vários setores. Nós não somos defensores do estado máximo nem do estado mínimo. Nós somos defensores do estado necessário, aquele que entrega bem para a comunidade e Caxias do Sul precisa pensar muito seriamente sobre isso.
Eu acredito que a Maesa é um caso que possa receber, sim, PPPs. Eu acho que os pavilhões da Festa da Uva são muito mal aproveitados, e precisam ter PPP sim, mas o município precisa, além de ter PPP nos pavilhões, por exemplo, ter as suas datas específicas para a realização dos seus eventos. Nós não podemos abrir mão da Festa da Uva, por exemplo. Então eu acredito que as PPPs têm função, sim, de entregar melhor para a comunidade e ter retorno para o município.
Nós precisamos trabalhar a questão das PPPs com geração de emprego, geração de renda, de que essas possibilidades todas possam reverter em benefícios para a comunidade. Então sou favorável à PPP e acho que ela pode entregar e elas devem entregar muito para a sociedade.
Gaúcha Serra: Entrando no tema educação, especificamente na educação infantil, que é o grande gargalo hoje do setor. O senhor manteria essa proposta de parceria público-privada que está em negociação e o que mais fazer para tentar resolver essa questão das vagas nas escolas infantis?
Felipe Gremelmaier: Na nossa visão, a educação infantil e a falta de vagas, ela não supre somente com as PPPs. Nós manteremos as PPPs, sim, mas a gente acredita que em alguns pontos há a necessidade de construção de novas escolas de educação infantil, e em alguns pontos a compra de vagas também. Acho que são três fatores, porque hoje o município já é demandado judicialmente pela compra de vagas. Se o município toma a iniciativa, possivelmente tenha um custo menor do que uma imposição da Justiça. Então, na nossa visão, a questão das vagas de educação infantil são três vertentes, não dá para a gente atuar somente em uma.
Nós temos que ter a visão de que são três possibilidades, a compra de vagas, as PPPs e a construção de novas escolas. Então, nós temos que pensar isso, mas nós temos que entender também a importância e o quanto isso repercute lá na frente. Nós já temos dados da inversão da pirâmide etária, e é muito forte isso na nossa região.
Então, nesse momento, a construção de novas escolas de educação infantil em locais extremamente necessitados, porque logo aí na frente a nossa população está invertendo a faixa etária, é uma população que envelhece com qualidade, e isso é muito bom. Então nós temos que estar preparados para esse outro momento, que vai ser logo aí na frente. Por isso nós não podemos pensar só no hoje, nós temos que pensar lá na frente.
Gaúcha Serra: E para além da construção e da disponibilização de vagas na educação, o que o senhor entende como uma educação de qualidade oferecida pelo setor público?
Felipe Gremelmaier: Primeiramente, a qualificação permanente dos professores, nós temos que trabalhar de forma permanente a qualificação da rede e das pessoas que fazem educação em Caxias do Sul. A parceria com o governo do estado, porque existem locais que o estado tem escola e o município tem deficiência de vagas. Então por que não aumentar essas parcerias com o estado para que a gente possa utilizar também essa estrutura que já existe hoje? Porque aí o município não precisa ter uma nova escola construída.
Agora, onde não tem escola estadual, não tem escola municipal, o município tem que pensar de forma diferente e, sim, investir. Inclusive, se necessário for, em novas escolas do município. Agora, é todo um processo de análise, de demanda, para que isso possa ser feito. Eu sou muito a favor das parcerias, nós temos entidades privadas, inclusive, que o município poderia utilizar, que são parte de uma conversação e de uma análise que o município tem que fazer.
O que importa é que o município atenda a necessidade daquela família, por que muitas vezes, o que isso acarreta quando a família não tem vaga na educação infantil? Não ter vaga na escola gera desemprego dentro de casa, porque o pai ou a mãe acabam não podendo trabalhar, tem que ficar com a criança. Então, isso gera todo um processo de dificuldade nas famílias, e as pessoas que estão hoje com dificuldade em colocar seu filho em uma escola de educação infantil ou que nunca sabem se o seu filho terá vaga em uma escola, sabem a dificuldade que é isso, porque acaba diminuindo a renda em casa e acaba tendo impacto na vida da sociedade toda.
Então, é uma análise muito criteriosa e que precisa ser feita sim: se é construção de novas escolas, se é parceria com o governo do estado ou se é uma outra situação que possa ser debatida logo aí na frente.
Gaúcha Serra: Um dos temas que tem surgido no debate da cidade, no debate eleitoral, é a zeladoria, o cuidado com questões do dia a dia. Como o senhor vê esta área atualmente, nas questões de lixo e limpeza urbana, e que planos para essa área que o senhor tem?
Felipe Gremelmaier: Na zeladoria Caxias precisa ter um choque de realidade. Do jeito que está hoje, as pessoas sabem. As pessoas saem de casa e encontram lixo na rua, as pessoas saem de casa e tem buraco na sua rua. O turista entra em Caxias e não encontra uma placa no monumento. Então, a zeladoria é muita coisa, é a iluminação pública, é a limpeza, é o bem cuidar da cidade.
Então, na nossa visão, Caxias do Sul precisa começar 2025 com um choque de realidade na zeladoria. Nós já fomos exemplo para o mundo. No governo Sartori, nós fomos eleita a cidade mais limpa do Brasil e, logo na sequência, nós fomos eleita a Capital da Cultura, e isso tudo tem um impacto na zeladoria da cidade. As pessoas vêm para Caxias para conhecer a cidade e não podem encontrar uma cidade que não é convidativa, que não te convide a permanecer.
Isso tem impacto na geração de emprego e renda porque o turista deixa de vir, e nós temos um trade turístico muito bem organizado, muito consistente, que sofre também com o impacto do mau cuidado com a cidade. Então, a zeladoria, na nossa visão, ela precisa ter um choque de realidade urgente, para que a cidade volte a ter áreas de felicidade, e isso não está acontecendo.
Gaúcha Serra: E como o senhor pretende dar esse choque de realidade nessa área?
Felipe Gremelmaier: Primeiro, nós temos que potencializar isso dentro da Codeca. Nós temos que potencializar isso dentro da Secretaria de Transportes, para que a gente possa ter um mínimo de ruas bem organizadas, bem pintadas, bem distribuídas. A Codeca precisa ter uma efetividade em parceria com outras secretarias.
Quando eu fui secretário de Esporte do governo Sartori, por exemplo, nós tínhamos uma equipe da Codeca contratada para cuidar das áreas de lazer. Porque isso não pode acontecer com a Cultura? Por que isso não pode acontecer com outras secretarias do município? Então, o choque de realidade não vai ser feito com um órgão só. O choque de realidade da zeladoria da cidade é um processo de união de várias secretarias que tenham um pensamento de deixar a cidade do jeito que ela era, e não do jeito que ela está hoje.
Isso é importantíssimo e o município precisa interagir. As secretarias precisam trabalhar de forma unida, e nós vamos pregar a união em todos os processos dentro do nosso governo, sejam eles internos com secretarias, sejam eles com entidades que podem ajudar muito o município. Então, o nosso lema é unir a cidade nos seus mais variados pontos, entre eles na zeladoria de Caxias do Sul.
Gaúcha Serra: Outro tema que tem surgido no debate é a questão da resiliência ambiental. A partir de tudo que aconteceu, das tragédias do último ano, dos últimos 12 meses, como preparar a cidade para encarar situações como essas do clima, que parecem ser cada vez mais frequentes?
Felipe Gremelmaier: A resiliência ambiental versa também sobre a educação ambiental. Nós temos que começar a preparar os nossos jovens e as crianças desde hoje para esse processo. É óbvio que precisam ações urgentes, porque o que nós vivemos nos últimos 10 ou 11 meses no estado do Rio Grande do Sul e, consequentemente aqui em Caxias, se nós não tivemos enchente, nós tivemos deslizamentos. Mas a água que caiu em Caxias do Sul foi parar em algum lugar.
Então nós também temos responsabilidade como cidade, polo da região, não só para as coisas boas. Nós temos responsabilidades e por isso que Caxias do Sul precisa voltar a liderar processos. Então, com relação à resiliência, nós temos que entender o que está acontecendo com o clima hoje e fazer ações preventivas. Nós já temos exemplos de grandes cidades do mundo aí que utilizam inclusive áreas de lazer como tanques de contenção para auxiliar nesse processo todo de cidade esponja e dos piscinões. São várias ações que nós temos conhecimento e que estão previstas no nosso plano de governo para trabalhar essa questão da resiliência climática que é fundamental nesse novo momento que a gente vive, mas começa muito também pela educação ambiental.
Gaúcha Serra: A questão das áreas de risco também, as encostas, que são um problema aqui em Caxias do Sul. Como o senhor pretende encaminhar?
Felipe Gremelmaier: É todo um processo geológico, e aí a questão do meio ambiente é fundamental, e novamente eu reforço: nós precisamos ter contratação de especialistas na área. Nós temos na Semma técnicos excelentes, mas o município precisa se precaver com relação aos potenciais pontos de desastre, e isso tem que ser mapeado, tem que entender esse processo todo, porque é atitude preventiva também.
Esses processos são preventivos para que a gente evite grandes tragédias e não aconteça o que aconteceu em praticamente todo o Rio Grande do Sul, que pouquíssimas cidades estavam preparadas para um movimento do meio ambiente como aconteceu nesse momento.
Gaúcha Serra: O papel do ex-governador e ex-prefeito José José Sartori na sua candidatura. Como está sendo e como senhor imagina que vai ser?
Felipe Gremelmaier: O ex-prefeito Sartori está de cabeça na campanha, e é um dos grandes condutores da nossa eleição, minha e do Michel. Tem sido um dos grandes líderes desse processo todo, e ele está trabalhando muito na eleição. É um dos coordenadores da campanha, inclusive, e tem nos trazido muita experiência, muita iniciativa e exemplos do que foi feito no passado e, principalmente, projetando o que a gente vai fazer no futuro.
Então é aprender com o que passou e projetar lá na frente Caxias do Sul como ele fez, pensando vários pontos 30 anos para frente. Caxias do Sul precisa entender as necessidades urgentes, mas também pensar o seu futuro, e Caxias precisa se projetar para 30, 40, 50 anos na frente.